Jerusa Barros – música a partir de Cabo Verde e da Sicilia

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Jerusa Barros, a menina das ilhas: Cabo Verde e Sicília. Vive-as e interterpreta-as com harmonia e autenticidade através da música. E ao mundo vai buscar outras sonoridades, mesclando tudo com maestria e à vontade. Gosta de desafios e define-se “cameleontica”. Além de trabalhos como “Cabeça Negra”, “Di un solo Colore”, “Ilhas”, tem em mente um tributo “Cesária Évora – Rosa Balistreri”. Co-fundou “Libera Arti” para educação infantil à música e artes. Sente-se feliz na sua arte.

Dulce Araújo – Vatican News 

A cantora, compositora e musicóloga originária de Cabo Verde e crescida na Sícilia, onde vive, foi a mais recente hóspede do nosso programa radiofónico “África em Clave Cultural: personagens e eventos”.  

A crónica do poeta, Filinto Elísio (Rosa de Porcelana Editora) revela o trajeto dela, em que sobressai a sua peculiaridade de cantora aberta a músicas do mundo, tendo como base a música de Cabo Verde e da Sicília. Nesta ilha – revela a cantora – a sua musa é Rosa Balistreri, figura que, tal como a Cesária Évora, tem uma história interessante. Daí o seu projeto de lhes fazer um tributo conjunto, pois são semelhantes e diferentes ao mesmo tempo.  É um desafio, mas Jerusa não teme isso. Cada desafio é um degrau a mais, um por-se à prova, um conhecer-se melhor a si própria – diz. 

Saída de Cabo Verde ainda pequena, voltou anos depois como cantora, tendo subido ao palco com grandes figuras da música cabo-verdiana. Um imenso orgulho que afirma guardar no coração. Para ela que tem a “música no sangue” como dizem os italianos, viver e levar avante a música de Cabo Verde é algo vital, identitário, sem a qual não poderia viver – explica. 

Tem sido interprete, com sucesso, em diversos eventos em Itália, Palermo, em particular, em Cabo Verde, na comunidade cabo-everdiana em Roma, onde a sua mais recente atuação foi por ocasião das comemorações dos 50 Anos de Independência (1975-2025). Fica a pergunta:  o que falta para um salto maior, a nível internacional, uma vez que tem uma produção contínua e que a sua voz melódida e postura no palco são muito apreciadas?

Jesura não sabe. Talvez seja necessário um pouco mais de sorte, pensa, mas sente-se feliz e segura do que faz: cantar, levar avante a música cabo-verdiana e educar à música. Nesta linha se inscreve, de facto, a escola infantil “Libera Arti” por ela co-fundada para educar as crianças ao mundo das artes, da música. 

Confira aqui as suas palavras e interpretações canoras: 



Jerusa Barros

Crónica 

Jerusa Barros – música do mundo, a partir de cabo verde e da Sicília

Jerusa Barros é uma cantora e compositora, mas também musicóloga, cuja experiência artística que é uma síntese entre Cabo Verde e a Sicília.

Na sua música, sobressaem as suas origens, vivências e itinerância. E a sua singularidade reside no fazer uma música do mundo, com estrato cabo-verdiano e italiano, africano e europeu, incorporando a mundividência artística plural.     

Jerusa Da Conceição Barros nasceu em novembro de 1977, na ilha do Sal, arquipélago de Cabo Verde, mas aos 5 anos de idade mudou-se com a mãe para a cidade de Palermo, na Sicília, onde estudou e começou a cantar muito cedo, já que cresceu num ambiente de música, tanto cabo-verdiana e italiana, como internacional, de diversos géneros e estilos.

Em 1994, aos 16 anos, juntou-se ao coral “Projeto Gospel” em Palermo, tornando-se solista e apresentando-se em muitos eventos na Itália. Nesse período, percorreu várias bandas, do rock ao blues, passando pelo funk, o que a levou a estudar canto de jazz.

Entrementes, é um período em que ela busca a sua identidade de origem para mesclar e confrontar com as suas outras identidades adquiridas e faz experimentações com a música siciliana e árabe, em colóquio e interpenetração à música cabo-verdiana.

A partir do repertório siciliano interpretando Rosa Balistreri, revisita as músicas de Cesária Évora, Teófilo Chantre, Ildo Lobo, Teté Alinho, Mário Lúcio e Tito Paris, entre outros. Em 2001, cria e é parte da banda “Cabeça Negra”, período em que as suas canções refletem o seu multiculturalismo e a sua dupla insularidade – cabo-verdiana e siciliana. Tempo em que também redescobre a língua cabo-verdiana, a sua língua materna que também utiliza nas suas músicas, a par da italiana.

Jerusa Barros retorna à sua ilha natal em 2003, para o Festival da Praia de Santa Maria. Interage com Boy Gê Mendes, Tito Paris, Nancy Vieira e Lura. Entre 2004 e 2009, faz espetáculos nas ilhas cabo-verdianas de São Vicente, Santiago e Sal.

De 2003 a 2008, a “Cabeça Negra” se apresentou diversas vezes durante as comemorações da independência de Cabo Verde. A banda venceu o Itália Wave Love Festival como melhor artista étnico e, em julho do mesmo ano, apresentou-se no estádio de Livorno.

Em 2010, lançou um EP intitulado “Jerusa Barros & Cabeça Negra”, com cinco músicas próprias, um álbum que inclui “Maria no espelho”, uma canção do cantor e compositor cabo-verdiano Mário Lucio, reinterpretada em italiano por Alberto Zeppieri.

O projeto de Alberto Zeppieri, “Capo Verde Terra D’amore” inclui a participação de Jerusa Barros, na interpretação das canções “Il Canto delle Maree”, “Affetto” e “Lembrança”.

Em 2013, concluiu o projeto “Di un colo Colore”, álbum que consolida a “dupla pertença” identitária, cultural e musical

Desde 2001, Jerusa Barros, como educadora e musicoterapeuta, compartilha sua paixão musical com crianças de 0 a 3 anos e de 3 a 6 anos. Em 2019, embarcou na aventura de abrir a creche LIBERE ARTI em Palermo com seus parceiros, com foco na música e na arte, em geral.

A par disso, ela vem realizando realizou inúmeros concertos de todos os gêneros (étnico, folclórico, clássico, jazz) ao lado de compositores como Mário Modestini e em colaboração com a Orquestra Sinfônica da Sicília, a Associação “Amici della Musica”, a Orquestra de Câmara Gli Armonici e a Orquestra Skillie Charles.

Em 2024, foi solista no espetáculo teatral “Muarea Football Club”, uma história sobre náufragos e futebol do escritor e jornalista Mario Di Caro, no Festival Orestiadi 2024 em Gibellina.

Jerusa Barros é uma artista em plena ascensão, levando a sua humanidade com Cabo Verde, Sicília e o Mundo.

Filinto Elísio – Poeta, ensaísta, editor (Rosa de Porcelana Editora) 

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Fotos: cortesia de Jerusa Barros

Fonte

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