O Natal nos faz contemplar Jesus como verdadeira comida e bebida. Ele vem trazer vida, esperança e dignidade para todos, especialmente para os últimos, os famintos. Jesus aponta para uma vida nova já aqui e agora neste mundo e esta igualdade se estende e alcança a sua plenitude na eternidade. Jesus inaugura o Reino de Deus por meio de seus atos e palavras. Somos chamados a dar continuidade à sua missão de vida em abundância para todos. Celebrar o Natal implica buscar um mundo onde todos tenham dignidade e paz.
Depois do encontro com o Anjo, Maria sobe por uma região montanhosa para achar-se com Isabel e colocar-se a seu serviço, pois ela estava já no sexto mês de gravidez. Lc 1, 39-45 traz o Magnificat, o canto de Maria, menina pobre e sofrida que canta a esperança que o povo tinha no coração. O Menino Deus estava sendo gerado em seu ventre; nesse acontecimento, Maria vê o início da realização das promessas do Antigo Testamento. O povo sofrido sente que Deus está ao seu lado, caminha junto com ele. Deus vem em socorro dos sofredores, alimenta os famintos e despede os ricos sem nada. O Natal é tempo de gestar uma nova sociedade, para todos.
O cântico de Maria é o cântico dos empobrecidos. Maria partilha da vida sofrida dos pobres de Israel e sente Deus agindo a favor de seu povo. O menino que está para nascer, o filho de Deus, vem trazer vida e esperança para o seu povo. O cântico revela a felicidade do povo ao saber dessa ação de Deus a seu favor. Deus aponta para uma nova sociedade onde os humildes terão vez, onde os famintos serão saciados e quem oprime e explora será derrubado de seu trono e despedido de mãos vazias. Celebrar o Natal é também recriar o cântico de Maria, recuperar a esperança de tantos famintos e sofredores, denunciando toda forma de violência e exploração sobre o nosso povo.
O Texto Base do 18º Congresso Eucarístico Nacional (2022) nos recorda que, no Magnificat, Maria antecipa as bem-aventuranças, antecipa o “vinho novo” das Bodas de Caná. É o canto do “pão em todas as mesas”. Cada Eucaristia é um convite a sair do nosso fechamento, a ir ao encontro das pessoas, e nos colocar a serviço de uma nova sociedade: justa, fraterna, solidária. A comungar com a vida dos irmãos, dos pobres, famintos e sofredores. A Eucaristia nos leva a cantar com Maria essa esperança teimosa de uma nova sociedade onde haja vida em abundância para todos.
O Magnificat de Maria e a Oração Eucarística na Missa tem a mesma estrutura de louvor e de intercessão a Deus. Assim como Maria canta um “novo céu” e uma “nova terra”, a Eucaristia antecipa em nossa história, prefigura o Reino de justiça e paz querido por Deus. Por isso a Eucaristia atualiza também para nós a ordem dada por Jesus a seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Nossa participação no Corpo e Sangue do Senhor deve nos comprometer com a luta para que haja pão, vida e esperança para todos. Para bem celebramos o Natal devemos retomar a verdade desse cântico: “só comunga nesta ceia quem comunga na vida do irmão”.