Leão XIV: com fé em Deus, coragem e sem ódio, proteger os indefesos como o mártir Hossu

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As comemorações na Capela Sistina reuniram autoridades e representantes da Igreja Greco-Católica nesta segunda-feira (02/06) para recordar a mensagem “mais atual do que nunca” do bispo romeno que salvou milhares de judeus na II Guerra Mundial. Em discurso, o Papa convidou a “superar o ódio através do perdão e a viver a fé com dignidade e coragem” a exemplo do mártir que tinha “fé inabalável em Deus, sem ódio, mas com a misericórdia que transforma o sofrimento em amor pelos perseguidores”.

Andressa Collet – Vatican News

No Ano Jubilar dedicado à esperança, as comemorações nesta segunda-feira (02/06) na Capela Sistina, no Vaticano, foram dedicadas a “um apóstolo da esperança”. O evento, solicitado pela Federação das Comunidades Judaicas da Romênia e concordado um ano atrás com o Papa Francisco, foi em homenagem ao cardeal Iuliu Hossu (1885-1970) que salvou milhares de vidas durante a II Guerra Mundial. O bispo greco-católico de Cluj-Gherla, como descreveu Leão XIV em discurso, foi um “pastor e mártir da fé durante a perseguição comunista na Romênia”: 

“Hoje, de certa forma, ele entra nesta Capela, depois que São Paulo VI, em 28 de abril de 1969, o criou cardeal ‘in pectore’, enquanto estava na prisão por ter permanecido fiel à Igreja de Roma.”

De fato, Paulo VI soube do compromisso pastoral “corajoso” de dom Hossu em favor da Transilvânia. Em processo de reconhecimento como “Justo entre as Nações”, o bispo corria “enormes riscos para si mesmo e para a Igreja Greco-Católica” para apoiar e salvar “milhares de judeus”: em carta pastoral, por exemplo, ele lançou um apelo em prol dos hebreus para que fossem ajudados não só com pensamentos, mas também com sacrifícios por essa “obra de socorro” fruto de uma “ardente caridade humana” – como o próprio bispo escreveu.

Dom Hossu, junto com outros 6 bispos mártires greco-católicos, mortos por ódio à fé pelo regime comunista em meados do século passado, foi beatificado em 2 de junho de 2019 por Francisco, em viagem apostólica à Romênia: “com grande coragem e fortaleza interior, aceitaram ser sujeitos à dura prisão e a todo o tipo de maus-tratos, para não renegar a pertença à sua amada Igreja”, recordou Bergoglio.

O ato comemorativo ao mártir na Capela Sistina

O cardeal Hossu, “símbolo de fraternidade além de qualquer fronteira étnica ou religiosa”, está sendo especialmente recordado em 2025 com o Ano Nacional do Cardeal Iuliu Hossu, 140 anos após o seu nascimento. No domingo (01/06), em memória do Beato, foi celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, a Divina Liturgia em língua romena, no rito bizantino, organizada pela Arquidiocese de Făgăraș e Alba Iulia e pela Eparquia de Cluj-Gherla, na presença de mais de 900 fiéis provenientes da Romênia e de comunidades greco-católicas romenas da Itália, Reino Unido, Estados Unidos, França, Espanha, Hungria e Ucrânia. Entre os concelebrantes estavam o cardeal Claudio Gugerotti, prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais, e dom Giampiero Gloder, núncio apostólico na Romênia e Moldávia.

Na Capela Sistina nesta segunda-feira (02/06), as comemorações contaram com a presença em particular, de Silviu Vexler, presidente da Federação das Comunidades Judaicas da Romênia. Em discurso, Papa Leão XIV enalteceu que a vida do bispo romeno “foi um testemunho de fé vivido até o fim, na oração e na dedicação ao próximo. Foi um homem de colóquio e um profeta de esperança”. E ao recordar a essência do espírito dos mártires citou:

“Fé inabalável em Deus, sem ódio, mas com a misericórdia que transforma o sofrimento em amor pelos perseguidores. Essas (palavras) continuam sendo até hoje um convite profético para superar o ódio através do perdão e a viver a fé com dignidade e coragem.”

Proteger o próximo, assim como o cardeal Hossu

O Pontífice finalizou o discurso enaltecendo o compromisso da Igreja em ajudar “a construir uma sociedade centrada no respeito à dignidade humana como exigência da consciência” e em se manter próxima ao sofrimento dos judeus que viveram o drama do Holocausto, justamente por saber o que “significam dor, marginalização e perseguição”:

“A mensagem do cardeal Hossu é mais atual do que nunca. O que ele fez pelos judeus da Romênia, as ações que realizou para proteger o próximo, apesar de todos os riscos e perigos, mostram-no como um modelo de homem livre, corajoso e generoso até o sacrifício supremo. É por isso que o seu lema ‘A nossa fé é a nossa vida’ deveria se tornar o lema de cada um de nós. Espero que o seu exemplo, que antecipou os conteúdos posteriormente expressos na Declaração Nostra aetate do Concílio Ecumênico Vaticano II – cujo aniversário de 60 anos se aproxima –, assim como a amizade de vocês, sejam uma luz para o mundo de hoje:

“Digamos ‘não’ à violência, a toda violência, ainda mais se perpetrada contra pessoas inermes e indefesas, como crianças e famílias!”

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