Leão XIV inicia pontificado: ‘A paz esteja com todos vocês!’

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“A paz esteja convosco”, conforme narrado nos evangelhos, foi a primeira fala de Jesus Cristo ressuscitado dirigida aos seus discípulos, que repete oito dias depois, no segundo encontro (Jo 20,19-31). O Ressuscitado repete a saudação, mostrando que a Sua paz transcende a paz que o mundo pode oferecer.

Cardeal Orani João Tempesta, O.Cist. – arcebispo metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

No dia 8 de maio de 2025, o mundo conheceu o estadunidense, também de nacionalidade peruana, Cardeal Robert Prevost, até então prefeito do Dicastério para os Bispos, como o 267º Bispo de Roma. O Papa Leão XIV, sucessor de Pedro, se apresentou ao mundo como filho de Santo Agostinho, que dizia: “Com vocês sou cristão e para vocês, bispo”. Nesse sentido, observou: “Podemos todos caminhar juntos rumo àquela pátria que Deus nos preparou.”

“A paz esteja com todos vocês!” – foram as suas primeiras palavras, a mesma “saudação de Cristo Ressuscitado, o Bom Pastor que deu a vida pelo rebanho de Deus.” E acrescentou: “Eu também gostaria que esta saudação de paz entrasse em seus corações, chegasse às suas famílias, a todas as pessoas, onde quer que estejam, a todos os povos, a toda a terra. A paz esteja com vocês!”

“A paz esteja convosco”, conforme narrado nos evangelhos, foi a primeira fala de Jesus Cristo ressuscitado dirigida aos seus discípulos, que repete oito dias depois, no segundo encontro (Jo 20,19-31). O Ressuscitado repete a saudação, mostrando que a Sua paz transcende a paz que o mundo pode oferecer. A paz é um dom de Deus, que nos fortalece e sustenta mesmo nas adversidades. “A paz esteja convosco” é mais que um desejo de paz. A presença de Cristo ressuscitado é a paz, como escreve São Paulo aos Efésios: Cristo é a nossa Paz (2,14).

Dois dias depois da eleição, o Papa se encontrou com o Colégio de Cardeais, onde deu abertura aos irmãos que o elegeram para escutá-los. Ele pôde conhecer as preocupações dos cardeais, de uma certa maneira, das realidades do mundo inteiro. Entre os temas, sobressaíram as vocações, atenção aos sacerdotes, missão e evangelização, enfim, todas as preocupações da Igreja em geral.

No Domingo do Bom Pastor, o Papa Leão XIV rezou sua primeira oração mariana do Regina Caeli com os fiéis na Praça de São Pedro. O Pontífice, ao recordar o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, fez um apelo direto aos jovens do mundo inteiro. Convidou-os a ouvir, com generosidade e sem medo, o chamado de Cristo para servir à Igreja e à Humanidade. Lembrou que, em todas as épocas, Deus continua a chamar homens e mulheres a se doarem inteiramente ao serviço do Reino, e que os jovens de hoje são fundamentais para renovar a esperança e a presença da Igreja no mundo. “Cristo não tira nada, Ele dá tudo”, afirmou, repetindo palavras de seus predecessores, e incentivando-os a responder com coragem e felicidade.

O Papa manifestou que gostaria de permanecer em constante escuta com os cardeais e de contar com a colaboração e unidade de todos. Desde então, se vê nas suas atitudes o lema que escolheu: “In Illo uno unum”. Trata-se das palavras que Santo Agostinho pronunciou em um sermão sobre o Salmo 127, para explicar que “embora nós cristãos sejamos muitos, no único Cristo somos um”.

A atitude do Santo Padre em manifestar o desejo de contar com a participação de seus irmãos cardeais nos remete ao início da Igreja, onde os apóstolos caminhavam em unidade, na busca de soluções para cumprir a missão que o Senhor ordenou, de evangelizar até os fins dos tempos.

O Santo Padre demonstrou que não pretende caminhar sozinho, e manterá contato com cada um dos cardeais. Será um pontificado marcado pelo colóquio e unidade, pela construção de pontes, o que ensina aos demais líderes mundiais que, para alcançar a paz, a concórdia, o desenvolvimento e o cuidado com a lar Comum, é preciso escutar e respeitar um ao outro.

Após a oração mariana Regina Caeli, o Papa Leão XIV foi enfático em seu apelo pela paz e pelo fim das guerras. Com voz seguro e coração comovido, pediu que cessem os conflitos armados que devastam vidas inocentes, desintegram famílias e ferem a dignidade humana. Clamou aos governantes, líderes religiosos e à comunidade internacional por um esforço conjunto e imediato pela reconciliação, pelo desarmamento e pelo colóquio. “A paz não é uma utopia”, disse. “É um caminho possível quando escolhemos a fraternidade ao invés do poder, o perdão ao invés da vingança”.

O Papa foi eleito no dia da memória de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, e colocou sob a proteção de Maria o seu pontificado e sua nova missão, por toda a Igreja, pela paz no mundo. Dois dias depois, foi até o Santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho, administrado pelos religiosos da Ordem de Santo Agostinho. Foi o mesmo santuário que ele visitou quando eleito prior geral da Ordem, onde ofereceu sua vida à Igreja, e colocou sua missão sob os cuidados e a intercessão de Maria, na confiança de que é preciso escutar como ela pediu em Caná: “fazer tudo o que Jesus nos disser”. É um Papa mariano!

O conclave foi realizado em apenas 24 horas desde a chegada dos cardeais até a Capela Sistina, contradizendo teorias e expectativas baseadas em análises humanas ou políticas. Durante o período, cada cardeal permaneceu em oração e reflexão, sempre diante de Deus, na convicção de que é o Senhor que conduz a escolha. Todo processo, embora envolva pessoas humanas, é uma ação direta de Deus, conduzida pelo Espírito Santo, que é quem conduz a Igreja de Cristo.

No mesmo dia, o Santo Padre se dirigiu até a Basílica de Santa Maria Maior, onde rezou pela alma de Francisco e colocou uma rosa branca sobre o túmulo. Ele demonstrou afeto e respeito pelo seu antecessor e que dará continuidade à missão, embora nenhum repita o outro. Cada um tem sua identidade, suas experiências, carismas, um jeito próprio de desempenhar a missão particular que o Senhor lhe concedeu, e assim, por meio de seu pontificado, buscar soluções para as necessidades atuais da Igreja e da Humanidade.

O pontificado do Papa Prevost será enraizado nos avanços iniciados pelo Papa Leão XIII, que marcou o mundo por lançar as bases da Doutrina Social da Igreja com a Encíclica *“Rerum Novarum”*, em 1891. O documento pioneiro tratou, pela primeira vez com autoridade papal, de justiça social, desigualdade e dos direitos e deveres de trabalhadores e empregadores. Agora, o Papa Leão XIV demonstra interesse em dar continuidade à “revolução” do momento atual marcado pelas novas tecnologias com a inteligência artificial, que, se não for usada com ética e responsabilidade social, pode ameaçar a vida e a dignidade humana.

Antes de ser chamado a Roma pelo Papa Francisco em 2023, o então frei Robert Francis Prevost teve uma intensa experiência missionária no Peru, por muitos anos, e em várias funções, inclusive como bispo da  Diocese de Chiclayo. Quando exerceu o ofício de prior geral dos Agostinianos, por dois mandatos, visitou muitos países, inclusive várias cidades do Brasil. Em São Paulo, participou da missa de beatificação do padre espanhol Mariano de La Mata Aparício, da Ordem de Santo Agostinho, em 2006, e no Rio de Janeiro, esteve na Jornada Mundial da Juventude, em 2013. Ao me receber em audiência privada na tarde do dia 12 de maio, a primeira de seu pontificado, em sua residência provisória, ele enviou uma bênção especial ao Rio de Janeiro.

Com sua simplicidade, firmeza e espiritualidade agostiniana, o Papa Leão XIV inicia um novo tempo na Igreja, em que comunhão, escuta e missão caminham juntas. Seus gestos e palavras apontam para um pastor próximo, disposto a guiar o povo de Deus com humildade e coragem, confiando sempre na ação do Espírito Santo. O mundo olha para ele com esperança, na certeza de que, como Pedro, ele conduzirá o barco da Igreja com fé, serenidade e amor.

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