O Papa no seu discurso às autoridades da Turquia sublinhou que a nível internacional deve ser praticado o “colóquio” com “firmeza e paciência”. No Líbano na Missa que ali celebrou, Leão XIV pediu um “Líbano unido, onde triunfem a paz e a justiça”.
Rui Saraiva – Portugal
O Papa Leão XIV visitou de 27 de novembro a 2 de dezembro a Turquia e o Líbano. Destacamos neste programa o discurso às autoridades da Turquia e a Missa no Líbano.
“O porvir da humanidade está em jogo”
Discurso do Papa Leão às autoridades da Turquia na sua primeira viagem apostólica. Em Ancara, no Palácio Presidencial, na quinta-feira 27 de novembro, numa visita no âmbito dos 1700 anos do Primeiro Concílio de Nicéia, o Santo Padre agradeceu o acolhimento.
“Estou feliz por iniciar as viagens apostólicas do meu pontificado a partir do vosso país, uma vez que esta terra está indissoluvelmente ligada às origens do cristianismo e hoje convida os filhos de Abraão e toda a humanidade a uma fraternidade que reconheça e valorize as diferenças”. disse o Santo Padre.
O Papa Leão XIV referiu a “riqueza cultural, artística e espiritual” daquele país, frisando que “as grandes civilizações tomam forma no encontro entre gerações, tradições e ideias diferentes, nas quais o desenvolvimento e a sabedoria se unem”.
“Hoje em dia, as comunidades humanas estão cada vez mais polarizadas e dilaceradas por posições extremadas, que as fragmentam”, lamentou o Santo Padre.
O Papa Leão XIV lembrou no seu discurso a figura de S. João XXIII que foi “Administrador do Vicariato Latino de Istambul e Delegado Apostólico na Turquia e na Grécia de 1935 a 1945”. É recordado naquele país como o “Papa turco” devido à “profunda amizade” que cimentou com o povo da Turquia.
O Santo Padre citou um excerto de um texto do Papa S. João XXIII no qual refere que naquela época de meados do século XX parecia “lógico” que as diferentes comunidades religiosas vivessem apenas preocupadas consigo mesmas, mantendo-se fechadas “dentro do círculo limitado do seu próprio grupo de pertença”. “Esta é uma lógica falsa” escreveu S. João XXIII e que Leão XIV quis citar neste discurso às autoridades.
“Desde então, indubitavelmente, grandes avanços foram feitos dentro da Igreja e na vossa sociedade, mas essas palavras continuam a ser bastante esclarecedoras e inspiram uma lógica mais verdadeira e evangélica, que o Papa Francisco definiu como a ‘cultura do encontro’, afirmou.
Por isso, “é bom responder com uma cultura que valoriza os afetos e os laços”, afirmou o Papa dando relevo às mulheres que “através do estudo e da participação ativa na vida profissional, cultural e política, colocam-se cada vez mais ao serviço do país e da sua positiva influência no panorama internacional”.
“Senhor Presidente, que a Turquia possa ser um fator de estabilidade e aproximação entre os povos, ao serviço de uma paz justa e duradoura. A visita à Turquia de quatro Papas – Paulo VI, em 1967; João Paulo II, em 1979; Bento XVI, em 2006; e Francisco, em 2014 – atesta que a Santa Sé não só mantém boas relações com a República da Turquia, mas deseja cooperar na construção de um mundo melhor com a contribuição deste país, que constitui uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, entre a Ásia e a Europa, e um ponto de confluência de culturas e religiões”, disse Leão XIV.
O Papa na conclusão do seu discurso declarou: “hoje, mais do que nunca, precisamos de pessoas que promovam o colóquio e o pratiquem com firmeza e paciência. Depois da época da construção das grandes organizações internacionais, que se seguiu às tragédias das duas guerras mundiais, estamos a atravessar uma fase de grande conflito a nível global, em que prevalecem estratégias de poder económico e militar”.
“O porvir da humanidade está em jogo, porque as energias e os recursos absorvidos por essa dinâmica destrutiva são retirados dos verdadeiros desafios atuais que a família humana deveria enfrentar unida, ou seja, a paz, a luta contra a fome e a miséria, e também pela saúde, educação e salvaguarda da criação”, concluiu o Papa no seu discurso às autoridades da Turquia.
“Líbano, levanta-te! Sê lar de justiça e de fraternidade”
O último grande momento da visita do Papa Leão XIV ao Líbano foi a Missa no Beirut Waterfront, a 2 de dezembro.
O Papa quis desde logo agradecer a Deus “tantos dons da sua bondade”.
“No final destes dias intensos, que com felicidade partilhámos”, disse o Santo Padre, “celebremos a nossa ação de graças ao Senhor por tantos dons da sua bondade, pela forma como se faz presente entre nós, pela Palavra que nos oferece em abundância e por tudo o que nos possibilitou viver juntos”.
“Como acabámos de ouvir no Evangelho, também Jesus tem palavras de gratidão para o Pai e, ao dirigir-se a Ele, reza dizendo: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra» (Lc 10, 21)”, sublinhou Leão XIV na sua homilia.
Porém, assinalou o Papa, “a dimensão do louvor nem sempre encontra lugar dentro de nós. Às vezes, sobrecarregados pelas dificuldades da vida, preocupados com os inúmeros problemas que nos cercam, paralisados pela impotência diante do mal e oprimidos por tantas situações difíceis, inclinamo-nos mais à resignação e à lamentação do que ao deslumbramento do coração e à gratidão”.
Leão XIV dirigiu-se diretamente ao povo libanês: “É precisamente a vós, querido povo libanês, que dirijo o convite a cultivar sempre atitudes de louvor e gratidão”.
O Santo Padre recordou a “beleza do Líbano cantada pelas Escrituras”, mas também que, “todavia, essa beleza é obscurecida pela pobreza e pelo sofrimento”.
“Acabei de rezar no local da explosão, no porto – e por tantos problemas que vos afligem; também por um contexto político frágil e muitas vezes instável, pela dramática crise económica que vos oprime, pela violência e pelos conflitos que despertaram antigos medos”.
Para Leão XIV a Palavra de Deus traz o convite de procurar luzes no coração da noite”, declarou o Papa.
“Penso na vossa fé simples e genuína, enraizada nas vossas famílias e alimentada pelas escolas cristãs; penso no trabalho constante das paróquias, das congregações e dos movimentos para irem ao encontro das exigências e das necessidades das pessoas; penso em tantos sacerdotes e religiosos que se doam na sua missão, no meio de múltiplas dificuldades; penso nos leigos empenhados no campo da caridade e na promoção do Evangelho na sociedade. Por estas luzes que se esforçam por iluminar a escuridão da noite, por estes pequenos e invisíveis rebentos que, no entanto, abrem a esperança no porvir, hoje devemos dizer como Jesus: ‘Nós vos bendizemos, ó Pai!”, afirmou o Papa.
No entanto, salientou o Papa, “essa gratidão não deve permanecer uma consolação intimista e ilusória. Deve levar-nos à metamorfose do coração, à conversão da vida, a considerar que é precisamente à luz da fé, sob promessa da esperança e na felicidade da caridade que Deus concebeu a nossa vida. Por isso, todos nós somos chamados a cultivar estes rebentos, sem desanimar, sem ceder à lógica da violência e à idolatria do dinheiro e sem nos resignarmos perante o mal que alastra”.
E para realizar tudo isto é preciso que “desarmemos os nossos corações, derrubemos as armaduras dos nossos fechamentos étnicos e políticos, abramos as nossas confissões religiosas ao encontro recíproco, despertemos no nosso íntimo o sonho de um Líbano unido, onde triunfem a paz e a justiça, onde todos possam reconhecer-se irmãos e irmãs”, disse o Papa.
“Este é o sonho que vos foi confiado, é o quanto que o Deus da paz coloca nas vossas mãos: Líbano, levanta-te! Sê lar de justiça e de fraternidade! Sê profecia de paz para todo o Levante!”, disse Leão XIV no conclusão da sua homilia.
Laudetur Iesus Christus

