Um dos documentos mais importantes do Concílio Vaticano II chama-se Sacrossanto Concílio, que trata da liturgia; o primeiro documento a ser aprovado, quase por unanimidade, o que mostrou a urgência de mudanças nesse setor da ação da Igreja.
O ponto de partida está no resgate da centralidade do Mistério Pascal na ação litúrgica e sua prioridade sobre as exterioridades dos rituais e cerimônias. Em outras palavras, Jesus Cristo é recolocado como o centro de toda a vida cristã – e, por isso mesmo, da liturgia – e como eixo da ação da Igreja, povo de Deus. Ele é a razão de ser do culto e da vida de todo fiel. Com Cristo, por Cristo e em Cristo, tudo adquire novo significado.
Dessa visão cristocêntrica da liturgia brota um sentido denso para a prática sacramental. Os sacramentos não podiam mais ser vistos simplesmente como remédio para situações emergenciais da vida do cristão, ou como mera conveniência social, mas como verdadeira participação da pessoa no Mistério da morte e ressurreição de Cristo, no qual ela também “morre e ressuscita” para uma vida nova.
Outra grande conquista dessa Constituição é a participação plena, consciente e ativa de todo o povo nas celebrações litúrgicas. Foi dado por encerrado o tempo em que o povo ‘assistia’ à Missa. Incentivou-se uma valorização dos diversos ministérios na liturgia e se permitiu que cada povo pudesse celebrar usando a sua própria língua e costumes, e não mais somente o latim.
A Palavra proclamada e explicada na liturgia foi outro elemento que muito favoreceu esse resgate da tradição litúrgica. Não somente na celebração da missa, mas em todos os demais sacramentos, a Palavra de Deus constitui momento forte de aprofundamento da fé e de catequese do povo.
A Igreja voltou seu olhar para a liturgia, apontando-a como ponto de partida e ponto de chegada de toda a vida cristã. Assim, ela recuperou o seu posto de fonte da espiritualidade da Igreja e de “catecismo permanente”, pela valorização do que se celebra – os mistérios da vida de Cristo e da vida do cristão – e por uma liturgia mais vivencial, a partir da realidade do povo, e menos instrumentalizada, que introduza o povo celebrante no profundo Mistério de Deus. Esta foi a grande proposta do Concílio!