Neste ponto da reflexão sobre a fé, desejo ressaltar alguns pontos positivos na nossa vivência da fé como Igreja, em nossa realidade brasileira no seu conjunto:
- A fé entre nós é vivida na sua dimensão antropológica, quando revela o ser humano como ele é diante de Deus, da sociedade e de si mesmo. Isto lhe confere consciência de sua dignidade fundamental e abertura à fraternidade, o que se traduz na defesa da vida, dos direitos humanos, e especialmente na ação sócio transformadora, levada avante por nossas Dioceses e no conjunto da Igreja do Brasil. “O querigma possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros. O conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão ética imediata, cujo centro é a caridade” (EG 177).
- A fé na sua dimensão teológica é vivida a partir da Revelação, da celebração da fé na Liturgia, da espiritualidade libertadora, da convicção do primado absoluto de Deus e de seu Reino: “O Reino é absoluto, e faz com que se torne relativo tudo o mais que não se identifica com ele” (EN 8).
- A fé é vivida na sua dimensão cristológica, na centralidade de Jesus, na Palavra, na Eucaristia, no amor comunitário e, sobretudo, na opção cristológica pelos pobres, vivida como seguimento de Cristo, procurando assim colaborar na implantação do Reino de Deus.
- A fé é vivida na sua dimensão eclesial com a visão conciliar de Igreja mistério
(sacramento) de comunhão e participação como Povo de Deus, Igreja peregrina de discípulos missionários, permeada pela sinodalidade. - Poderíamos acrescentar a dimensão ecológica, cosmológica… (LS, Cap. 4). Nossa Igreja no Brasil é poliédrica nos carismas nela vividos.
Temos sido fiéis testemunhas da fé! Muitos irmãos o são com grandes sacrifícios, alguns até mesmo arriscando a vida. Percebemos que não só a ortopráxis é relevante, mas muito mais a ortodoxia, a correta compreensão da fé, porque dela brota a prática, inclusive a opção pelos pobres. Como afirma o Papa Francisco: “Existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres” (EG 48).
É preciso ter presente que o enfraquecimento da fé é a raiz da maior parte dos sinais de alarme na Igreja atual. A crise da Igreja não é só ética e institucional, é também teologal. Há, não só vozes discordantes e uma espécie de “magistério paralelo” de muitos cristãos; há também “um cisma silencioso” que preocupa. Diante disto, a reação mais urgente é recuperar a mística cristã, cultivar a fé teologal com base na experiência pessoal e comunitária.