O mais novo Servo de Deus é de Santa Catarina que, na sua juventude, abraçou a religião de maneira ética e cristã, virando modelo de evangelização a serviço de Jesus. Com a recente instalação do Tribunal diocesano para a causa de beatificação, começa a coleta das provas documentais para investigar a vida e obra do jovem candidato à canonização. “É possível ser jovem e ser santo”, afirmou o postulador da causa, Pe. Vitor Feller.
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
Um momento histórico de evangelização marcou o mês de março para a Arquidiocese de Florianópolis com a instalação do Tribunal Diocesano de duas causas de beatificação para o início dos inquéritos sobre a vida de santidade do Pe. Léo Tarcísio Gonçalves Pereira e do jovem Marcelo Henrique Câmara. Com a abertura dos processos – que transcorrem separadamente, sob sigilo e sem data para a conclusão -, os dois recebem o título de Servo de Deus.
A conversão de Marcelo Câmara
O arcebispo de Florianópolis, Dom Wilson Tadeu Jönck, é quem preside cada um dos Tribunais numa fase em que também será feita a coleta de todas as provas documentais para investigar a vida e obra dos candidatos à canonização. No caso de Marcelo Câmara, o prelado descreve como um bonito testemunho de vida cristã de presença entre os jovens, já que ele “abraçou a pessoa de Cristo e se colocou a serviço do mesmo Jesus”, através de uma conversão: “a conversão de buscar viver intensamente a felicidade de viver com Cristo”.
O grande Apóstolo da Juventude
Para o postulador da causa, Pe. Vitor Feller, vigário-geral da Arquidiocese de Florianópolis e professor na Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC), Marcelo Câmara confirma que “é possível ser jovem e ser santo”.
“Marcelo Henrique Câmara é um jovem, nascido na ilha de Santa Catarina, nós dizemos, um ‘manezinho da ilha’, que morreu com a idade de 28 anos com fama de santidade. Ele criou-se como católico e, assim, foi até a sua juventude com a idade de 19, 20 anos. Participou de um retiro do Movimento Emaús, um movimento de jovens presente em diversas dioceses do Brasil, principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mas também em Brasília. É um movimento que busca passar aos nossos jovens os valores humanos e cristãos. Num desses cursos, ou retiros, como nós chamamos, ele fez uma grande experiência de encontro com Jesus Cristo. Ao ouvir uma palestra do Monsenhor Bianchini (orientador pessoal) sobre Jesus Cristo, o filho de Deus vivo, ele se converteu – como ele mesmo dizia depois: se converteu a esse grande amigo, Jesus Cristo. E passou a ser um Apóstolo da Juventude.”
Marcelo, então, visitava grupos de jovens, em Florianópolis, dava palestras e promovia cursos, retiros e noites de formação e estudo. O jovem também estava na linha de frente de um programa de rádio sobre a evangelização da juventude. Mestre em Direito, fez cursos para a Promotoria Pública e atuou como professor na área, sendo professor-substituto na Universidade Federal de Santa Catarina.
“Conhecemos bem que esses meios são altamente críticos com a Igreja; muitas vezes se opõem aquilo que é o ensinamento da vida cristã, aquilo que é do ensinamento da Igreja. E Marcelo Câmara conseguia testemunhar, colocar aquilo que a Igreja pensa, proteger a posição da Igreja sem criar celeuma, sem criar polêmica. Mas, com firmeza e através desse seu posicionamento, ele conseguiu fazer grandes amigos, conseguiu a admiração de colegas e professores.”
“Isso coincidiu com um câncer que ele adquiriu, que teve que sofrer com paciência, com serenidade, em união com a Cruz de Jesus Cristo, e, mesmo assim, estudando e fazendo os exames para a Promotoria Pública; chegando a fazer exames e sendo levado em cadeira de rodas. Ele passou nos exames e se tornou promotor público.”
Marcelo descobriu a leucemia aos 24 anos de idade e nem por isso deixou de dar o seu testemunho cristão, como conta o arcebispo de Florianópolis:
“No hospital, já nos últimos tempos, sofrendo muito com dores horríveis, ele ainda tinha uma palavra de atenção para quem o visitava, muitas vezes saía pelo hospital visitando outros doentes e era uma presença que edificava em todo o período que ele passou no hospital.”
A fama de santidade
Aos 28 anos, Marcelo não resistiu à doença e veio a falecer. Como conta o postulador da causa, no enterro do jovem, em março de 2008, o orientador pessoal, Pe. Bianchini, falou:
“Hoje estamos sepultando um santo. Quem nunca conheceu na sua vida um santo, conheceu na figura de Marcelo Henrique Câmara ou Marcelinho – como ele era chamado.”
A fama de santidade foi se espalhando entre os jovens do Movimento Emaús e também em outros movimentos pastorais, além da própria paróquia no norte da ilha, na Praia dos Ingleses, onde Marcelo foi catequista de adultos e ministro da distribuição da Comunhão. Graças começaram a ser alcançadas e também foi criado um site (marcelocamara.org.br), onde muitas pessoas passaram a relatar graças que teriam sido recebidas por intercessão dele.
“Um jovem que viveu de maneira extraordinária as coisas comuns da vida. Viveu as virtudes próprias da vida cristã, virtudes teologais da fé, esperança e caridade; as virtudes cardeais da prudência, fortaleza, temperança e castidade. Muitos lembravam dele citando os ‘fioretti’ de São Francisco, também os ‘fioretti’ de Marcelinho em que revelava a consciência de ser um cristão que vivia, dia por dia, instante por um instante, a extraordinariedade da vida cristã no ordinário da vida.”
Modelo de vida cristã aos jovens
Então, o processo para a causa da sua beatificação foi iniciado com a constituição de uma associação privada de fiéis, a Associação Marcelo Henrique Câmara, para continuar dando vida à fé do jovem que transbordava em todas as suas relações. Um exemplo para ser seguido pelos jovens, sobretudo atualmente, afirma Pe. Vitor:
“Nós vivemos hoje em uma sociedade muito polarizada entre quem se acha do lado do bem, todos os outros são do lado do mau… Marcelo era uma pessoa que sempre buscava a composição, a reconciliação, sempre buscando ver o que havia de bom do outro lado. E, dessa maneira, ele foi enriquecendo a sua personalidade, o seu caráter, tornando-se alguém que pode ser um farol para os jovens, e também para os adultos, não só na vivência cristã, mas também na vivência das virtudes humanas que formam o caráter de qualquer ser humano.”
“Não hesitaremos de invocar a sua intercessão. Nos alegramos muito na Arquidiocese de Florianópolis com esse acontecimento que é um acontecimento inusitado, mas vemos exatamente naquilo que nós celebramos, no início da causa de beatificação do Padre Léo e do Marcelo Câmara, de alguém que sinaliza para o objetivo que todos nós queremos: a de viver a santidade e a de sermos fiéis a Cristo. E pedimos que eles orem por nós, orem pela nossa Igreja arquidiocesana, orem pela Igreja do mundo todo.”