Para uma sadia e madura vida espiritual, é preciso aprender a custodiar o coração, ser o porteiro do próprio coração, vigiar à porta de entrada da interioridade para saber discernir se nos encontramos diante do inimigo ou não.
Perigosa tentação é crer que estamos em Cristo porque falamos dele, pregamos, evangelizamos; ou pensar que somos santos e perfeitos por leves mudanças na própria vida. Sem verdadeira e permanente conversão, se não formos tocados e transformados pelo amor do Senhor que em nossa vida pessoal e comunitária produza comunhão, poderíamos reduzir a fé a estéril ideologia.
A fé madura proporciona o conhecimento de Deus que muda a pessoa, porque o divino Espírito age nela e com ela. Jesus disse: ‘O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito’. Poderíamos achar numerosas testemunhas dessa conversão também no exercício do ministério. Penso em Oscar Romero e no franciscano Pe. Cosme Spessotto: ‘personalidades e caminhos diferentes, mas a evangélica escolha pelos pobres levou os dois ao martírio, na fidelidade a Jesus, e fiéis ao povo esmagado pelos poderosos’.
Os mestres de vida espiritual apontam a necessidade de achar a medida certa. O apóstolo Paulo orienta: Ninguém pense de si mesmo mais do que convém, mas pense de si com sobriedade, conforme a medida da fé que Deus deu a cada um. Todo excesso revela ausência de discernimento. Na vida espiritual, todo excesso pode levar ao contrário do que propõe um verdadeiro caminho segundo o Espírito. Para um sólido e seguro caminho no Espírito, é indispensável a humildade. Expressões de austeridade e penitência, ou gestos e comportamentos chamativos (certo exibicionismo litúrgico) podem mascarar orgulho e autorreferencialidade, distante do ensinamento do Senhor: Não saiba tua mão esquerda o que faz a direita. ‘A ascese está sempre subordinada à humildade, à obediência e à caridade. O asceta autêntico não exibe, mas esconde a sua austeridade’.
Na caminhada de fé, a proteção vem da oração que nos dá força no combate espiritual. Por isso, na escola da longa Tradição eclesial, o tempo deve ser marcado pela oração, como ensina a Liturgia das Horas, oração eclesial, não só monástica.