Domingo 13 de novembro, é o Dia Mundial do Pobre. Nos arredores de Yangon, em Mianmar, uma creche fundada pelo PIME abriga dezenas de crianças, tirando-as do lixão nas proximidades e oferecendo-lhes um porvir de esperança
Federico Piana
Casas construídas sobre uma montanha de lixo, feitas com resíduos perigosíssimos e nauseantes. Homens, mulheres e crianças acostumados a caminhar pelas ruas sem asfalto e cheias de lixo, numa tentativa de achar comida e trabalho. Gente pobre forçada a viver com o medo de que mesmo uma chuva mais forte possa derrubar os telhados feitos de palha e trapos e arruinar de repente um pouco de esperança alimentada com labuta e lágrimas.
Uma creche no meio do lixão
Esta é a lixeira de Yangon, a maior e mais populosa cidade de Myanmar. O lixão se encontra no subúrbio de Insein, ao norte da cidade que já foi a capital do país e que conta também com a mais rigorosa e famigerada penitenciária do país. Não é estranho, então, se uma grande sensação de assombro e admiração acolhe os que vêm a saber que aqui mesmo, em meio a esta miséria e montanhas de lixão, foi encontrado espaço para abrir uma creche que abriga de setenta crianças em idade pré-escolar. “A estrutura é chamada de ‘Colméia de Ouro’ e foi criada há apenas um ano durante a terceira fase da pandemia”, conta Padre José Magro, missionário do Pontifício Instituto para Missões Estrangeiras (PIME). A imagem da colmeia, lembra as pequenas abelhas alimentadas antes de voar; e a cor do ouro, recorda a decoração dos edifícios e estátuas em Mianmar. O projeto foi realizado pela New Humanity International, uma ONG fundada pelo próprio Pime com o objetivo de realizar atividades sociais e caritativas, para as quais o Padre José trabalha incansavelmente. “Durante aquele período dramático”, explica o sacerdote, “eu costumava ir ao mercado da cidade para ajudar as pessoas e conversar com elas. Aqui conheci uma família que me convidou para visitar a área onde eles moram: a periferia de Insein onde pude ver com os meus próprios olhos a degradação e a dor na qual muitas famílias sobrevivem”. Foi enquanto frequentava as colinas do lixão que o Padre Magro teve a ideia de cuidar das crianças pequenas, muitas vezes deixadas a vaguear sem rumo em meio aos montes de sujeira: “Via muitas crianças passando o dia na rua, ficava muito chocado e melancólico. Então decidi falar com o líder da comunidade local e juntos decidimos pelo menos dar a esses pequenos uma chance de brincar em um espaço limpo e protegido”.
Cuidados, comida e limpeza
Em pouco tempo, a escolha acabou sendo um sucesso também porque a creche, construída em um terreno bonificado, não só proporciona a presença atenta e amorosa das professoras, mas também garante uma refeição completa por dia. Um detalhe muito relevante porque muitas vezes as mães e os pais que vivem no lixão, se deslocam para a cidade para achar algum trabalho, deixando seus filhos sem supervisão direta e com assiduidade sem almoço. “As atividades educacionais que são realizadas na creche”, especifica o sacerdote, “podem ser divididas em três áreas: ensino, exercícios psicomotores e jogos recreativos”. “Quando começamos, as famílias estavam um pouco desconfiadas de nós, mas agora abriram suas casas e seus corações”. Na verdade, os funcionários da creche também seguem as crianças em lar, tentando entender suas necessidades e as de suas famílias. Informações essenciais que, uma vez reunidas, são compartilhadas com o padre José: “As duas professoras responsáveis pela visita às famílias nos permitem melhorar e tornar nossa ajuda mais concreta. Desta forma, descobrimos que todos eles têm uma extrema necessidade de serem apoiados econômica e socialmente”.
Do lado dos mais pobres
No lixão de Yangon moram 350 famílias que ali se estabeleceram após perderem tudo durante a passagem do ciclone ‘Nargis’, que causou dezenas de milhares de mortes em 2008. É outra profunda ferida para uma nação que se debate com repetidos atos de violência e intolerância, à qual a organização New Humanity International está tentando responder ficando cada vez mais próxima da população. “Nosso único interesse”, afirma padre Magro, “é estar do lado dos mais indefesos, dos pobres, para garantir-lhes uma vida digna”. É por isso que realizamos nossos projetos de desenvolvimento nos mais diversos campos: da agricultura à deficiência, passando pela educação. Esta é nossa verdadeira missão”.