Nesta terça-feira, 3 de junho de 2025, milhares de peregrinos e visitantes do Uganda, vindos de toda a África e além, reuniram-se no Santuário dos Mártires do Uganda de Namugongo para comemorar a festa dos 22 católicos executados entre 1885 e 1887 por ordem do Rei Buganda Mwanga II, por se recusarem a renunciar à sua fé.
Isaac Ojok – Lira e Padre Paul Samasumo – Cidade do Vaticano
O acesso aos vastos terrenos do Santuário de Namugongo começou às 5h30 da manhã, com os peregrinos a enfrentarem pacientemente longas filas atrás de rigorosas barreiras de segurança e controlos. Muitos foram tomados por profunda reverência, reflexão espiritual e emoção ao aproximarem-se do local sagrado. Outros tiveram de caminhar muitos quilómetros para lá chegar.
Este ano, coube à Diocese de Lugazi presidir e animar a celebração litúrgica da Santa Missa, e o tema de 2025 foi: “Ó Senhor, fazei que eu veja de novo, eu, vosso peregrino da esperança”.
Antes da Santa Missa, um coro diocesano encheu o ambiente com hinos melodiosos louvando os Mártires do Uganda, reforçando o legado de fé e coragem que os levou ao martírio.
Namugongo: Lugar sagrado de fé e esperança
Na sua homilia, o Bispo da Diocese de Lugazi, Dom Christopher Kakooza, deu aos peregrinos as boas-vindas a Namugongo, nomeando-os país a país e descrevendo Namugongo como um lugar sagrado de fé e esperança. O prelado expressou gratidão a Deus pelo dom dos santos mártires e exortou a assembleia dos fiéis a unir-se em oração. Incentivou-os também a rezar em agradecimento pelo dom de um novo Papa, Leão XIV.
Dom Kakooza enfatizou igualmente que a peregrinação é uma viagem de fé e esperança que fortalece os fiéis. Uma santa peregrinação é realizada por pessoas de fé que caminhas com Jesus rumo à santidade, disse o Bispo de Lugazi.
A uma só voz, nós clamamos
A homilia do Bispo baseou-se na história evangélica de Bartimeu, o cego que clamou por Jesus nos arredores da cidade de Jericó.
“A uma só voz, saímos para clamar ao Senhor com esperança. Viemos na fé dos mártires. Estes mártires deram a sua vida por Cristo”, disse o prelado de Lugazi. “O Senhor acolheu a pequenina fé de Carlos Lwanga e seus companheiros e transformou-a em algo grandioso.”
O Bispo Kakooza acrescentou: “Podemos enfrentar desafios, mas a nossa esperança convoca-nos a transcender as atrações mundanas. Somos convidados a participar nesta viagem espiritual de comunhão com Deus e com os outros. É uma viagem que exige resiliência e perseverança. As nossas lutas na Terra são temporárias”, disse Dom Kakooza aos peregrinos que superlotavam o santuário de Namugongo.
Celebrar o Dia dos Mártires com oração e penitência
A celebração deste ano foi vibrante, marcada por melodias católicas tradicionais locais e impulsionada por um número cada vez maior de peregrinos internacionais do Quénia, Tanzânia, Ruanda, Sudão do Sul, República Democrática do Congo (RDC), Malawi, Moçambique, África do Sul e Zâmbia. Além disso, peregrinos dos Estados Unidos, Europa e Ásia participaram também nos vibrantes eventos.
Entre os participantes, encontravam-se várias autoridades governamentais e tradicionais, incluindo a Vice-Presidente do Uganda, Jessica Alupo, o Núncio Apostólico cessante do Uganda, o Arcebispo italiano Luigi Bianco, juntamente com vários bispos locais e visitantes, sacerdotes, religiosos e religiosas e, claro, fiéis leigos.
Fracassada tentativa terrorista em Munyonyo
Na manhã do mesmo dia, a agência de notícias Reuters, citando os meios de comunicação ugandeses, havia noticiado que a unidade antiterrorista do Uganda interceptou e frustrou o que poderia ter sido um possível ataque terrorista no bairro de Munyonyo, em Kampala.
Segundo relatos ugandeses, uma explosão teria morto dois alegados terroristas, incluindo uma bombista suicida, que possivelmente se dirigiam para a localidade de Munyonyo. Não foram registados outros feridos ou mortos.
As autoridades acreditam que os atacantes estavam ligados às Forças Democráticas Aliadas (ADF), um grupo rebelde ugandês sediado no Congo e aliado à organização terrorista Estado Islâmico (EI).
O porta-voz do exército ugandês, Chris Magezi, declarou no X (antigo Twitter) que uma unidade antiterrorista “interceptou e neutralizou dois terroristas armados em Munyonyo”. Um dos suspeitos era uma bombista suicida “carregada com explosivos potentes”, acrescentou Magezi.
Muitos ugandeses afirmaram nas redes sociais acreditar que o ataque terrorista frustrado foi evitado graças à intervenção divina, através da intercessão dos Mártires do Uganda, reafirmando a sua fé na proteção divina.
O santuário de Munyonyo é o local onde os Mártires do Uganda foram inicialmente condenados à morte e onde alguns foram mortos, enquanto Namugongo foi o local da execução final. A distância entre eles é de cerca de 50 quilómetros.[ Photo Embed: Vista aérea do Santuário dos Mártires do Uganda, em Namugongo]
Visita histórica do Papa Paulo VI ao Uganda
Os Mártires do Uganda foram canonizados pelo Papa São Paulo VI em 1964. Em julho de 1969, o Papa Paulo VI tornou-se o primeiro pontífice reinante a visitar a África Subsariana, viajando para o Uganda. A visita incluiu uma peregrinação ao local do martírio, em Namugongo.
Em 1993, o Papa São João Paulo II visitou também Namugongo. Em 2015, o Papa Francisco celebrou também uma Missa no Santuário de Namugongo durante a sua visita ao Uganda.