Em muitas áreas da nação asiática atingidas pelo terremoto de magnitude 7,7 que arrasou a região de Mandalay em 28 de março, 74% das comunidades não receberam nenhuma ajuda humanitária. Padre José Estêvão Magro, diretor da New Humanity International, afirma que “a Igreja local, apesar de tudo, continua apoiando como pode. Mas pessoas continuam morrendo aqui.”
Federico Piana – Cidade do Vaticano
Se uma fotografia tirada em uma cidade de Mianmar em 28 de março, dia do forte terremoto que causou milhares de vítimas e a destruição de grande parte da nação asiática, fosse comparada com uma fotografia tirada hoje na mesma cidade, seria possível constatar um fato dramático: pouco mais de cem dias após o terremoto de magnitude 7,7 que atingiu principalmente a região de Mandalay, as ruas ainda estão rasgadas por sulcos profundos, as casas e prédios desabados ainda se comprimem uns contra os outros, as pessoas ainda acampam em locais improvisados onde faltam as coisas mais elementares, até mesmo água. Parece que tudo permaneceu exatamente como estava.
Dados da Caritas Internacional
A confirmar isso são os dados da Caritas Internacional, organização da Caritas alemã que atua em Mianmar já há algum tempo: até o momento, 74% das comunidades não receberam ajuda humanitária, não apenas por falta de verbas, mas também devido à guerra civil que opõe o governo a grupos armados de antítese, que, em retaliação, bloqueiam os poucos caminhões de alimentos que conseguem passar.
Dor e desolação
O padre José Estêvão Magro, nomeado na segunda-feira, 7 (com efeito a partir de 1º de janeiro de 2026), diretor da organização assistencial New Humanity International, fundada pelo Pontifício Instituto das Missões Exteriores (PIME) para ajudar todo o Sudeste Asiático, caminhou pelas ruas de Mandalay nos últimos dias e o que encontrou à sua frente foi uma cidade em ruínas, pelo menos metade dela.
Milhares de deslocados
O religioso declarou à imprensa do Vaticano que os restos de muitas estruturas destruídas pelo terremoto ainda estão espalhados pelo chão, que muitas casas implodidas pelos tremores permaneceram completamente abandonadas e que algumas casas inabitáveis não foram protegidas ou ao menos demolidas. “As milhares de famílias que perderam suas casas continuam sendo acolhidas nas áreas de acolhimento que foram criadas nos arredores dos subúrbios da cidade”, explica.
Em busca de comida
Durante o dia, esses homens, mulheres e crianças deixam os acampamentos em busca desesperada de comida. Muitos nem sequer têm forças para ir consertar a lar onde moravam. “Alguns o fazem – afirma o sacerdote – mas são poucos cidadãos. Quanto aos demais, não há nenhuma ação pública voltada para a reconstrução da cidade. Não há interesse da comunidade civil. O que se vê é apenas a vontade de consertar os prédios públicos destruídos na capital, Naypyidaw. Em Mandalay, a desolação é grande.”
Nenhuma certeza
Nos acampamentos de acolhimento, entre um barraco de madeira e uma tenda de plástico, voluntários de associações humanitárias tentam entreter as crianças com aulas e brincadeiras, na esperança de afastar, mesmo que por um instante, a ideia de serem deslocadas.
Dezenas de acampamentos
Ninguém sabe oficialmente quantos moradores existem nessas favelas. O missionário tentou várias vezes pedir dados às autoridades, mas foi tudo em vão: «Nem me souberam dizer quantos acampamentos foram montados depois do terremoto. Porque surgiram como cogumelos: no terreno de um mosteiro, no recinto de uma igreja, num local remoto. Há até pessoas que ocuparam prédios que, felizmente, permaneceram de pé: nos apartamentos onde vivia um núcleo familiar médio, vivem agora três ou quatro».
Necessidades urgentes
Alimentos e medicamentos são as necessidades básicas de que os deslocados necessitam urgentemente, e a Igreja local está tentando ajudar da melhor forma possível: «Fazemos isso disponibilizando tudo o que vem do exterior. A Arquidiocese de Mandalay não hesita em partilhar cestas básicas, mesmo tendo sido profundamente ferida pelos tremores que destruíram paróquias, conventos e escolas católicas».
Sofrimento esquecido
O que entristece ainda mais o coração do padre Magro é, acima de tudo, uma amarga certeza: «A comunidade internacional esqueceu o sofrimento de Mianmar. Talvez a razão seja que tudo o que está acontecendo aqui diz respeito apenas ao povo birmanês e não tem repercussões externas. Mas aqui as pessoas continuam morrendo da mesma forma”.