Moçambique: a gratidão da Igreja ao Papa pelo seu apelo à paz

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O bispo eleito de Quelimane e secretário da Conferência Episcopal Moçambicana, dom Osório Citora Afonso, expressa a felicidade de toda a nação pelas palavras de proximidade de Leão XIV. Dom António Juliasse Ferreira Sandramo, bispo da diocese de Pemba: “o Pontífice fez compreender ao mundo que não existem guerras dignas de serem esquecidas, porque todo conflito fere a vida e ofende a dignidade da pessoa humana”.

Federico Piana e Bernardo Suate – Vatican News

O apelo pela paz em Cabo Delgado, em Moçambique, proferido por Leão XIV após o Angelus deste domingo (24/08), foi como um bálsamo refrescante espalhado sobre as feridas ainda abertas de um povo que, há quase dez anos, tem de lidar com episódios de violência cada vez mais cruéis e frequentes. “Convido todos vocês — disse o Pontífice dirigindo-se ao mundo inteiro — a rezar por eles e expresso a esperança de que os esforços dos responsáveis do país consigam restabelecer a segurança e a paz naquele território”.

Amor incondicional

“As palavras do Papa fizeram-nos sentir amados por toda a Igreja universal. Saber que no seu coração está a nossa dramática situação encheu de felicidade toda a nação”.  Quando dom Osório Citora Afonso, bispo eleito de Quelimane e secretário-geral da Conferência Episcopal de Moçambique, responde por telefone às perguntas da mídia vaticana, está prestes a partir para sua nova diocese, da qual tomará posse no próximo dia 31 de agosto.

Não só Cabo Delgado

Da voz do novo pastor da segunda província mais populosa do país da África Oriental, percebe-se toda a tensão, o medo e o desânimo pelos recentes ataques de bandos armados que devastaram não só Cabo Delgado, mas também outros numerosos distritos: “por exemplo, foram atingidos os de Macomia, Chiúre e Muidumbe. Os resultados são sempre os mesmos: mortos e feridos. Mas também muitos deslocados: após os últimos episódios de violência, consideração-se que pelo menos 8 mil pessoas tenham se deslocado”.

Aumento do número de deslocados

Números que se somam aos já gigantescos divulgados há poucos dias pela Médicos Sem Fronteiras: somente entre 20 de julho e 3 de agosto, na região de Cabo Delgado, foram 57 mil os deslocados. E o fluxo parece aumentar cada dia mais. Dom Citora revela que este imenso rio de pessoas que tentam salvar-se de tiroteios, atentados e sequestros está lentamente deslocando-se para algumas áreas mais tranquilas do norte e do sul. “Estas pessoas”, acrescenta, “precisam realmente de tudo. Depois de abandonarem as suas casas e as suas terras, não têm mais nada. Caminharam a pé durante dias e dias e agora estão exaustas”.

Igreja na linha de frente

Não faltam esforços por parte do governo para ajudá-los. A Igreja local também está na linha de frente: em Cabo Delgado, por exemplo, os jesuítas tomaram uma decisão radical, enviando uma equipe de missionários com a missão de apoiá-los tanto material quanto psicologicamente. Uma ação de proximidade que, explica o bispo eleito de Quelimane, “se concretizou também com uma missão entre os deslocados que a nossa Conferência Episcopal realizou há pouco tempo. Quatro bispos, em representação de todas as províncias eclesiásticas, foram ouvir e assumir as suas dores e sofrimentos. Partilharam com os sacerdotes que estão lá todas as preocupações e todos os anseios de esperança. Mas também pusemos em prática ações de solidariedade concreta, como a coleta, todos os domingos, de bens de primeira necessidade para distribuir a quem realmente passa fome e sede”.

Vizinhança verdadeira

Na província de Nampula, a mais de 700 km ao sul de Cabo Delgado, dom Citora viu com os próprios olhos famílias pobres acolherem outras famílias pobres que deixaram para trás tudo o que possuíam para salvar a vida: “este é o sinal do amor verdadeiro, da verdadeira proximidade”. Em entrevista à mídia vaticana, dom António Juliasse Ferreira Sandramo, bispo da diocese de Pemba, que também abrange toda a província de Cabo Delgado, reiterou que essas violências insensatas “continuam a causar a destruição de vidas humanas, de numerosas infraestruturas e estão gerando uma insegurança generalizada”.  Por isso, também ele agradeceu do fundo do coração a Leão XIV: “o Papa, com o seu apelo, fez compreender ao mundo que não existem guerras dignas de serem esquecidas, porque todo conflito fere a vida e ofende a dignidade da pessoa humana”.

O colóquio é o único caminho

Recentemente, uma delegação da Conferência Episcopal foi recebida pelo presidente da República, Daniel Chapo, que quis conhecer as reivindicações e propostas da Igreja local: “eu também fazia parte dessa delegação”, lembra dom Citora. Com o presidente, falamos da urgência de pôr fim à violenta insurreição que ensanguenta o país. Quais são as saídas? Em primeiro lugar, o colóquio sincero com aqueles que estão levando adiante a guerra e, depois, o colóquio também na sociedade civil, necessário para isolar os grupos criminosos. Mas não só isso. É preciso também criar condições de vida dignas para os jovens, porque são eles que estão sendo usados por aqueles que querem matar para se apoderar dos recursos econômicos do subsolo, como os ricos depósitos de gás”.

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