O apelo dos bispos na Nigéria para parar com a violência que ensanguenta o país

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Após os últimos sequestros em duas escolas e o ataque a uma igreja pentecostal, a Conferência Episcopal pede ao governo que tome medidas concretas e imediatas para garantir a segurança de todos os cidadãos. Dom Bulus Dauwa Yohanna, bispo de Kontagora, diocese da Escola Católica Santa Maria, alvo dos bandidos: “as pessoas estão cansadas. O risco é que, mais cedo ou mais tarde, a justiça seja feita por conta própria”.

Federico Piana – Vatican News

Desta vez, a reação é forte, determinada, indignada. Por vezes, desesperada. É com um comunicado oficial que nesta terça-feira (25/11) os bispos da Nigéria clamam ao mundo inteiro a dor de toda a Igreja local pela escalada de violência, sequestros e assassinatos, que estão aquecendo, dizem eles, o clima social e religioso já frágil e comprometido. Que corre o risco, mais cedo ou mais tarde, de explodir.

Sequestros em massa

Seus pensamentos vão para o último sequestro em massa, ocorrido há alguns dias, na Escola Católica Santa Maria de Papiri, na região centro-norte do país, de onde foram levados 12 professores e 303 alunos, 50 dos quais conseguiram escapar das garras de seus algozes. Mas também ao sequestro de 25 alunas de uma escola do estado de Kebbi, ao ataque a uma igreja cristã pentecostal em Eruku, no estado de Kwaran, e ao sequestro de um padre católico da arquidiocese de Kaduna. Só para citar os crimes mais recentes, que representam apenas a ponta do iceberg.

Grave preocupação

“Enquanto grupos de assassinos continuam espalhando o terror sobre cidadãos indefesos, condenamos veementemente essas atrocidades que causaram uma angústia indescritível. É motivo de grave preocupação o fato de que várias comunidades predominantemente cristãs, especialmente nas regiões do norte e do centro do país, tenham sido alvo de repetidos e brutais ataques, que causaram pesadas perdas”, denuncia a Conferência Episcopal.

Maior coesão

Os bispos estão convencidos de que o aumento dos crimes é sinal de uma profunda crise institucional e que o governo deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para aumentar a segurança dos cidadãos e levar à justiça os responsáveis por crimes hediondos que ameaçam minar a coesão nacional.

Violações persistentes

Mas eles também chamam a atenção “para as violações persistentes dos direitos e liberdades das minorias cristãs em vários estados do norte. A negação de terrenos para a construção de igrejas, particularmente dentro de instituições federais, e a destruição de locais de culto cristãos, especialmente no auge da insurreição do Boko Haram: questões que exigem uma ação governamental urgente e decisiva”.

Raiva avassaladora

A população está cansada e corre o risco de explodir em manifestações de raiva que podem ser avassaladoras. E difíceis de conter. Dom Bulus Dauwa Yohanna, bispo de Kontagora, a diocese da Escola Santa Maria atacada por bandidos, percebeu isso há muito tempo. E conta isso à mídia do Vaticano, com uma mistura de resignação e medo: “a população reagiu de forma violenta porque está insatisfeita: a insegurança está na ordem do dia. O governo precisa tomar medidas drásticas para proteger a vida e a propriedade das pessoas”.

Paz e unidade

O que dom Yohanna não consegue explicar são as razões profundas desses ataques, que muitas vezes também têm como alvo os cristãos. “Acho que os bandidos procuram alvos fáceis. Por exemplo, no estado de Kebbi, quase todos os sequestrados eram muçulmanos. Portanto, acredito que alguns desses movimentos são compostos por verdadeiros criminosos que só querem adquirir dinheiro”. O que alarma o bispo é também a possibilidade de as pessoas começarem a fazer justiça com as próprias mãos. “A Igreja — explica — continua rezando para que isso não aconteça. Neste momento, precisamos trabalhar juntos e não nos dividir. A paz só pode chegar se estivermos unidos”.

Esperança que não morre

Como reiterou a Conferência Episcopal em comunicado, a esperança não foi cancelada e cada nigeriano é chamado a ser “um agente de cura, a rejeitar o ódio e a retaliação, a pronunciar palavras que favoreçam a compreensão e a apoiar a justiça, o colóquio e o respeito mútuo”. Um compromisso ao qual também seria chamada a comunidade internacional que, segundo dom Yohanna, nos últimos anos, porém, tem estado bastante ausente: “se nossos líderes tivessem sido chamados a cumprir seus deveres, certamente algo positivo teria surgido. Se isso tivesse sido feito, não estaríamos na situação dramática em que nos encontramos hoje”. E que corre o risco de se transformar em uma guerra de todos contra todos, se não forem tomadas medidas concretas e urgentes.

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