Se a ideia do “banquete” inspira familiaridade, a Igreja nunca cedeu à tentação de banalizar essa “intimidade” com o seu Esposo, recordando-se que ele é também o seu Senhor e que, embora “banquete”, permanece sempre um banquete sacrificial, assinalado com o sangue derramado no Gólgota. O banquete eucarístico é verdadeiramente o banquete “sagrado”, onde, na simplicidade dos sinais, se esconde o abismo da santidade de Deus: “Ó sagrado banquete, em que se recebe Cristo!” O pão que é repartido nos nossos altares, oferecido à nossa condição de viajantes pelas estradas do mundo, é pão dos anjos, do qual só é possível abeirar-se com a humildade do centurião do evangelho: “Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu teto” (Mt 8,8; Lc 6,6).
Nessa linha, o Catecismo da Igreja Católica ensina que quem tiver consciência de ter cometido pecado grave deve receber o sacramento da reconciliação antes de se aproximar da comunhão eucarística (CIC 916). Desejo, por conseguinte, reafirmar que vigora ainda e sempre há de vigorar na Igreja a norma do Concílio de Trento que concretiza severa advertência do apóstolo Paulo, ao afirmar que, para uma digna recepção da Eucaristia, “se deve fazer antes a confissão dos pecados, quando alguém está consciente de pecado mortal”. A Eucaristia e a penitência são dois sacramentos intimamente unidos.
Por isso, sinto-me no dever de fazer um veemente apelo para que as normas litúrgicas sejam observadas, com grande fidelidade na celebração eucarística. A liturgia nunca é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios. O apóstolo Paulo teve de dirigir palavras ásperas à comunidade de Corinto pelas falhas graves na sua celebração eucarística, que tinham dado origem a divisões e a formação de facções (1Cor 11,17-34). Atualmente também deveria ser redescoberta e valorizada a obediência às normas litúrgicas como reflexo do testemunho da Igreja, una e universal, que se torna presente em cada celebração eucarística. O sacerdote, que celebra fielmente a Missa segundo as normas litúrgicas, e a comunidade que às mesmas adere, demonstra de modo silencioso, mas expressivo, o seu amor à Igreja.
Por Dom Félix – Bispo Diocesano
Fonte: Artigo “A Amizade com Jesus na Palavra e na Eucaristia” (8ª Parte).