Um pastor corajoso, seguro na fé, um homem que lutou contra falsas acusações, defensor dos fundamentos da civilização cristã, pronto para o colóquio mesmo com aqueles desprezados pelos outros. Assim o cardeal Duka foi recordado pelo arcebispo Jan Graubner durante seu funeral na Catedral de Praga. “Foi comovente ver homens que, apesar de se declararem descrentes, pediram sua bênção.”
Johana Bronková – Cidade do Vaticano
Os checos se despediram neste sábado do cardeal Dominik Duka, ex-arcebispo de Praga e o único filho da Tchéquia (ou República Tcheca) a usar o barrete cardinalício neste momento histórico.
“Um pastor forjado na fé e um anunciador destemido do Evangelho”. Com estas palavras o cardeal Duka foi lembrado no telegrama do Papa Leão XIV ao arcebispo de Praga, dom Jan Graubner. O Pontífice fala do “intenso trabalho pastoral” do falecido cardeal e de seu testemunho em tempos difíceis: “Recordo com admiração sua coragem durante o período de perseguição, quando, privado de sua liberdade, não vacilou em seu compromisso com Cristo e a Igreja”. O Papa recorda que o purpurado conduziu o povo de Deus com coração de pai, “promovendo a reconciliação, a liberdade religiosa e o colóquio entre a fé e a sociedade”, acrescentando que em seu ministério, fundado no carisma dominicano, “permanece um exemplo de dedicação fiel à missão”.
O adeus da Igreja e do mundo da cultura, a oração em armênio e cântico hebraico
A Missa fúnebre na Catedral de São Vito foi celebrada pelo arcebispo Jan Graubner de Praga, enquanto a commendatio e a valedictio foram presididas pelo arcebispo Jude Thaddeus Okolo, múncio apostólico na República Tcheca.
Durante a liturgia, foi executado o Réquiem em Si bemol menor, Op. 89, de Antonín Dvořák. As ofertas ao altar foram levadas por um dos companheiros de prisão do cardeal durante a perseguição. Sobre seu caixão, uma oração foi recitada em armênio e o Salmo XVI foi cantado em hebraico, uma expressão da simpatia que o falecido cardeal desfrutava entre armênios e judeus.
Um combatente pela verdade e liberdade em cada momento
Como observou o arcebispo Graubner, o cardeal Duka “como um lutador pela verdade e pela liberdade, claramente se destacou na cultura efeminada de hoje”. Ele não hesitou em proclamar verdades impopulares, de acordo com o espírito do Evangelho. Como seus colaboradores recordam hoje em dia, ele também sabia se perdoar prontamente quando cedia à indignação, com a humildade de alguém que se importava com a causa e não com sua imagem.
O arcebispo Graubner admitiu que conheceu melhor o cardeal Duka nos últimos anos, quando se encontrava com ele quase diariamente.
Era capaz de falar com todos
“O que mais me impressionou – disse o arcebispo de Praga – foi sua imenso erudição, sua memória incrível e sua capacidade de conectar diferentes elementos. Às vezes era difícil acompanhá-lo nas discussões, devido à extraordinária riqueza de observações adicionais, mas as peças individuais do mosaico criavam uma imagem eloquente que despertava a admiração de muitos ouvintes. Ele era um debatedor apaixonado. Fiquei impressionado com a maneira como ele conseguiu persuadir tantos descrentes. Ele não tinha medo de falar nem mesmo com pessoas que outros desprezavam. Ele tentava dar a todos a oportunidade de achar Deus, de aprender algo sobre Ele. Era comovente ver homens que, apesar de se declararem descrentes, pediam sua bênção.”
Temos motivos para agradecer a Deus
O arcebispo Graubner lembrou que o cardeal Duka amava celebrar “aniversários importantes, para que pudéssemos aprender com a história”. Ele amava a Catedral de Praga e iniciou a construção de novos órgãos, lançou as bases para um novo sistema de financiamento da Igreja e tentou introduzir o ensino religioso nas escolas.
“Ao nos despedirmos do cardeal Duka, devemos dizer que temos muito a agradecer a Deus. Podemos demonstrar nossa gratidão continuando o trabalho de renovação da Igreja que ele tanto amava”, acrescentou o arcebispo de Praga.
Photogallery
Funeral do cardeal Duka na Catedral São Vito, em Praga

