“Estar a serviço dos outros, gratuitamente, sem buscar o próprio lucro. Porque, embora a justiça seja necessária, ela não é suficiente para preencher as lacunas que somente a caridade e o amor podem curar”. Palavras do Papa Francisco aos militares da Guarda de Finanças italiana neste sábado (21) por ocasião dos 250 anos de sua fundação
Vatican News
Na manhã deste sábado (21) o Papa Francisco recebeu na Sala Clementina, no Vaticano, os militares da Guarda de Finanças italiana por ocasião dos 250 anos de sua fundação. Francisco iniciou o encontro recordando o lema do 250º aniversário, “Na tradição, há o porvir”, afirmando “refere-se às raízes que levaram à fundação da Guarda de Finanças e lhe deram uma direção para o crescimento”. O Papa seguiu explicando as inúmeras competências que cabem ao Corpo como a “vigilância financeira, defesa de fronteiras, tarefas de polícia fiscal e econômico-financeira, polícia marítima, com uma relevante missão no campo de resgate, tanto no mar quanto nas montanhas”.
São Mateus
Ao citar o Padroeiro São Mateus, apóstolo e evangelista que “representava uma mentalidade utilitarista inescrupulosa, dedicada apenas ao ‘deus dinheiro’, afirmou: “Ainda hoje”, explicou, “uma lógica semelhante afeta a vida social, causando desequilíbrios e marginalização: desde o desperdício de alimentos até a exclusão dos cidadãos de alguns de seus direitos. Como se explica a fome no mundo hoje, quando há tanto desperdício nas sociedades desenvolvidas? Isso é terrível. E outra coisa: se parassem de fabricar armas por um ano, a fome no mundo acabaria. É melhor fabricar armas do que resolver a fome… Até mesmo o Estado pode acabar sendo vítima desse sistema: mesmo os Estados que têm recursos, como eu disse, permanecem isolados”. Ponderando em seguida “nesse panorama, vocês são chamados a contribuir para a justiça das relações econômicas, verificando o cumprimento das regras que regem as atividades de indivíduos e empresas”. E é a sua maneira concreta e diária de servir ao bem comum, de estar perto das pessoas, de combater a corrupção e de promover a legalidade, completou.
Novo humanismo
Aprofundando o termo “corrupção”, Francisco disse que “a corrupção revela uma conduta antissocial tão forte que dissolve a validade das relações e dos pilares sobre os quais uma sociedade é fundada”. Sugerindo em seguida que a resposta, a alternativa, não está apenas nas normas, mas em um “novo humanismo”. E como fazê-lo? Francisco continua: “O olhar de Jesus, pousado sobre o jovem Mateus, diz que a dignidade humana e a vida estão no centro da vida de um povo. Vocês também podem contribuir para o surgimento desse novo humanismo por meio das obras que realizam a serviço dos jovens que se inscrevem no Corpo de Guarda de Finanças e frequentam suas Escolas”. “Mateus”, explicou ainda o Papa, “de certa forma, passou da lógica do lucro para a lógica da igualdade. Mas, na escola de Jesus, ele também foi além da igualdade e da justiça e conheceu a gratuidade, o dom de si mesmo que gera solidariedade, compartilhamento e inclusão. A gratuidade não é apenas uma dimensão financeira, é uma dimensão humana. Estar a serviço dos outros, gratuitamente, sem buscar o próprio lucro. Porque, embora a justiça seja necessária, ela não é suficiente para preencher as lacunas que somente a caridade e o amor podem curar”.
Globalização da indiferença
Por fim o Papa recordou aos presentes que “o seu serviço não termina com a proteção das vítimas, mas inclui a tentativa de ajudar o renascimento daqueles que cometem erros: de fato, ao agir com respeito e integridade ética, vocês podem tocar as consciências, mostrando a possibilidade de uma vida diferente”. Concluindo em seguida “vocês podem e devem construir uma alternativa à globalização da indiferença, que destrói com a violência e a guerra, mas também negligencia o cuidado com a sociedade e o meio ambiente”.