O cardeal Rolandas Makrickas, arcipreste coadjutor da Basílica de Santa Maria Maggiore, em um breve encontro com a mídia, explicou o motivo pelo qual o Papa Francisco escolheu ser sepultado na Basílica Liberiana: “Trata-se de uma indicação inspirada pela Mãe de Deus, representada no ícone, do qual o Pontífice era particularmente devoto.
Isabella Piro – Vatican News
Esta será a última visita, a mais linda, porque vai além de todas as barreiras do tempo e espaço e se torna expressão de fé na Ressurreição. É o que acontece na manhã deste sábado, 26: o Papa Francisco se encontrará, pela última vez, aos pés da “Salus Populi Romani”, o ícone mariano que, segundo a tradição, foi pintado pelo próprio São Lucas, está conservado na Basílica Papal de Santa Maria Maior. Ali, o falecido Pontífice será sepultado, após a Missa de corpo presente, presidida pelo Cardeal Giovanni Battista Re, Decano do Colégio Cardinalício, no átrio da Basílica Vaticana.
Testamento de Francisco
Como está escrito no seu testamento, Jorge Mario Bergoglio escolheu como sua última morada terrena a Basílica de Santa Maria Maior, construída, segundo a tradição, no século IV, durante o pontificado do Papa Libério. A Mãe de Deus pediu a este Papa, em sonhos, que lhe fosse construída uma igreja, em um lugar indicado por um acontecimento prodigioso. Com efeito, na manhã de 5 de agosto de 358, em pleno verão, uma nevasca caiu sobre o Monte Esquilino, que indicava o perímetro do lugar de culto.
126 visitas, em doze anos de pontificado
Francisco fez 126 visitas ao ícone da “Salus Populi Romani” durante seus doze anos de pontificado: a primeira, em 14 de março de 2013, no dia seguinte à sua eleição como 266º Sucessor de Pedro; a última, em 12 de abril, véspera da Semana Santa. Em meio às inúmeras homenagens, antes e depois de cada Viagem Apostólica e das quatro internações na Policlínica “Gemelli”, ocorridas em 2021, duas vezes em 2023 e, finalmente, após a mais longa hospitalização (38 dias transcorridos de 14 de fevereiro a 23 de março deste ano). Em 27 de março de 2020, durante a “Statio Orbis”, presidida na época da pandemia da Covid-19, o Papa quis que este ícone mariano estivesse ao seu lado, no átrio da Basílica de São Pedro.
Encruzilhada de um caminho
Logo, o Papa vai voltar diante dos pés da Virgem naquele Templo liberiano, o menor das quatro Basílicas Papais, o único dedicado à Virgem, o único jamais destruído e o mais antigo dedicado a Maria no Ocidente cristão. A Basílica situa-se perto da Estação de trem Termini, lugar de um contínuo movimento de pessoas. Trata-se de certa metáfora sobre o Pontificado de Bergoglio: sempre “em saída” ao encontro dos outros e descentrado, próximo das “periferias” geográficas e existenciais.
“Rosa de Ouro” de 2023
Nesta Basílica, Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, à qual Bergoglio pertencia, celebrou sua primeira Missa, na noite de Natal de 1538; ali, encontra-se uma relíquia do Santo Berço, sobre o qual o Menino Jesus foi depositado ao nascer. Precisamente ali, Jorge Mario Bergoglio descansará, a partir de hoje, como ele mesmo afirmou, em dezembro de dois anos atrás, em entrevista à correspondente mexicana vaticanista, Valentina Alazraki: “Quero ser enterrado em Santa Maria Maior. O lugar já está pronto”. Assim, o Papa destacava a sua “grande devoção à Virgem”, desde antes de ser eleito para o Trono de Pedro e acrescentou: “Quando estava em Roma, sempre ia visitar a Basílica, nas manhãs de domingo, e ali permanecia por um bom tempo. Tenho um vínculo muito forte com ela”. Sua devoção filial mariana concretizou-se com o dom de uma “Rosa de Ouro”, com a qual, em 2023, Francisco quis homenagear a “Salus Populi Romani”.
13 de maio de 2022
Esta decisão do Papa amadureceu-se com o passar dos anos, como o Cardeal Rolandas Makrickas, arcipreste coadjutor da Basílica Liberiana, afirmou aos meios de comunicação: “Tudo começou em um encontro que tive com o Santo Padre, em maio de 2022, quando, entre as muitas prioridades, surgiu a de fazer uma intervenção na estrutura da Capela Paulina”. A data daquele encontro foi, precisamente, uma data mariana por excelência, 13 de maio, memória da Bem-Aventurada Virgem de Fátima, como recordou o Cardeal: “Naquela ocasião, perguntei-lhe, uma vez que ia com tanta assiduidade à Basílica, se não fosse o caso de estabelecer ali também seu túmulo. Em um primeiro momento, o Pontífice respondeu que não, visto que, segundo a tradição, os Papas eram sepultados na Basílica de São Pedro. Porém, uma semana depois, ele me telefonou, dizendo: ‘Nossa Senhora me disse: prepare seu túmulo’. Assim ele me confessou estar feliz porque ‘Nossa Senhora não se esqueceu de mim’. Por isso, ele simplesmente acrescentou: ‘Encontre um lugar para meu túmulo, porque quero ser enterrado nesta Basílica’”.
Perto do altar de São Francisco
Desde o início, o Pontífice dizia que não queria ser sepultado na Capela Paulina, onde se encontra o ícone da “Salus Popoli Romani”, e explicou: “Ali, os fiéis vão rezar ao Senhor e venerar Nossa Senhora, não olhar para o túmulo de um Papa”. Por isso, o túmulo foi preparado no lóculo da nave lateral, entre a Capela Paulina e a Capela Sforza, uma das primeiras construídas na Basílica. E o Cardeal Rolandas Makrickas continuou: “Aquele lugar parecia ser o mais adequado, também por outra razão, ou seja, porque ao lado encontra-se também o altar de São Francisco. Logo, o lugar era realmente perfeito”.
Sob o olhar amoroso de Maria
O falecido Pontífice deu ao Cardeal, na época Monsenhor e Comissário extraordinário do Capítulo Liberiano, instruções para a instalação do local do seu sepultamento, também citadas em seu testamento, como notou Cardeal: “Ele queria que seu túmulo fosse humilde, essencial e simples, como a sua vida. Por isso, deverá ter apenas uma inscrição com o nome, Franciscus, e a reprodução, em dimensões ampliadas, da sua cruz peitoral, que costumava usar. Outro detalhe: seu túmulo foi construído com pedras provenientes da Ligúria, terra de seus antepassados, por parte de mãe”.
Estilo simples e essencial
O Arcipreste coadjutor da Basílica Liberiana disse ainda à mídia: “Não se trata de um túmulo ‘artístico’, mas simples e essencial. Por outro lado, o Papa não queria que fosse feita nenhuma mudança estrutural. Por este motivo, a lápide que está situada acima do túmulo permaneceu. Trata-se de uma lápide histórica, porque, na Idade Média, diziam que o ícone da “Salus Populi Romani” foi originalmente colocado acima da porta”. E o Cardeal Rolandas concluiu: “Na Basílica Liberiana estão sepultados outros sete Papas, inclusive o primeiro Papa franciscano, Nicolau IV, o primeiro Papa dominicano, Pio V, e agora o primeiro Papa jesuíta”. O último Papa a ser enterrado ali, antes de Bergoglio, foi Clemente IX, em 1669. Assim, agora os restos mortais de Jorge Mario Bergoglio descansarão ao lado do ícone da Mãe Celeste, sob seu olhar amoroso.
Nestes dias, em Roma, está em andamento o Jubileu dos Adolescentes, embora de forma mais sóbria, como sinal de respeito pelo falecimento do Papa Francisco. O evento representa uma Igreja jovem e em movimento, como a que Bergoglio sempre desejou e amou.