Hoje somos convidados a nos preparar para celebrar o Natal partilhando o pouco que temos com muitos que não têm nada. A situação em que Jesus nasceu, pobre, sem lar, sem o socorro de uma maternidade, nos faz lembrar a situação de muitas pessoas que passam fome, especialmente crianças e idosos. Em 2022 morreram mais de 500 crianças do povo Yanomami por desnutrição.
A Palavra de Deus sempre nos revela uma preocupação com o pobre, o órfão, a viúva e o estrangeiro. O texto que vamos refletir hoje (2Rs 4,42-44) nos mostra um gesto do profeta Eliseu que pode servir de inspiração para as nossas festividades de Natal. O profeta, depois de receber de presente vinte pães de cevada e trigo novo, mandou que seu doador distribuísse aquele presente para cem pessoas. Diante da resistência do doador, Eliseu insiste e, do pão que foi repartido, todos comeram e ainda sobrou pão.
Diante daquelas pessoas que certamente estavam com fome, Eliseu se comove e mata a fome daquele povo. Onde há partilha o alimento se multiplica e há sobra. “É o pouco que alimenta a muitos”. A fome se sacia com a partilha e a prática da justiça. Entre nós a fome não é uma coisa passageira, tem raízes profundas num sistema que coloca o lucro acima das pessoas. Quanto mais cresce a sede do lucro mais aumenta os empobrecidos e os descartados. Seguindo o exemplo de Jesus, devemos ter a compaixão profética para atingirmos as causas da fome.
Nossa preparação para o Natal, em sintonia com a Campanha da Fraternidade 2023, quer nos ajudar a buscar, no menino do presépio, a força para enfrentar o indiferentismo, o silêncio, o assistencialismo e o clientelismo diante da fome. Precisamos aprender com a família de Nazaré a praticar – em nossas famílias, em nossas comunidades e na sociedade – a partilha, a fraternidade, a solidariedade. Seria uma boa contribuição para diminuir a fome em nossas cidades a reativação dos Conselhos Municipais de Segurança Alimentar e o incentivo à agricultura familiar para termos mais abundância e melhor qualidade de alimentos.
Vamos dar nossa contribuição, ainda que pequena, para acabar ou, pelo menos, diminuir a fome no nosso meio. A fome ameaça a dignidade das pessoas, desestabiliza as famílias. Afeta a saúde, é responsável por crianças raquíticas, pelo pouco rendimento da inteligência, pela baixa resistência às epidemias. O pouco de muitos alimenta a muitos e torna a vida mais humana e mais digna. Assim teremos um Natal com renascimento de vida. É o projeto do Menino Deus que nasce.