O relacionamento humano e a Inteligência Artificial

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O ser humano é um ser em relação. É ser com os outros, em todos os âmbitos de sua existência, na vida social e política, na amizade, no amor e na vida comum, enfim, nas várias formas de relação dos sujeitos.

Dom Oriolo – Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG

A Quarta Revolução Industrial está intrinsecamente ligada a todos os aspectos de nossas vidas. Com isso, a Inteligência Artificial (IA) começou a assumir papéis tradicionalmente reservados aos seres humanos. Contudo, essa relação entre humanos e a máquina tem transformado nossa maneira de nos comunicar com o próximo que, por ser a imagem e semelhança de Deus, foi criado para a dinâmica de se relacionar com o outro que possui consciência, pensa e reflete.

O ser humano, portanto, é um ser em relação. É ser com os outros, em todos os âmbitos de sua existência, na vida social e política, na amizade, no amor e na vida comum, enfim, nas várias formas de relação dos sujeitos. Ser com os outros é uma experiência fundamental de nossa vida. O ser humano não pode ser compreendido em sua totalidade, sem a categoria relacional ou recíproca de sujeito a sujeito.

Assim sendo, o relacionamento é um pilar fundamental nas interações entre indivíduos e grupos sociais: na família, no bairro, em ambientes de trabalho, em atividades de lazer, nas esferas sociais e políticas. O ser humano, em sua essência, depende do outro para sua plena realização, para o aprimoramento contínuo, para a prática da fé e para a construção da civilização do amor, amadurecendo como pessoa na troca mútua e no contato cotidiano. 

A evolução da Inteligência Artificial Generativa (IAG) nos leva a compreender que sistemas como ChatGPT, Copilot, Gemini, Magisterium AI e outros aplicativos são atraentes por suas sofisticadas capacidades de processamento e combinação de dados. Eles respondem a indagações complexas, atuam como apoio emocional e facilitam a interação humana, tornando-se, de certa forma, companheiros.

É relevante entender que o ser humano pensa em termos de analogias e comparações, o que proporciona ao interlocutor a oportunidade de buscar esclarecimentos. Por outro lado, os sistemas não exibem raciocínios lógico verdadeiro nem possuem consciência. Sua funcionalidade baseia-se no reconhecimento de padrões linguísticos, sem compreensão intrínseca que articulam, relatam, expressam ou respondem. É um sistema impessoal 

No entanto, para que não nos percamos nessa relação com a máquina que cria, gera, escreve, resume, aconselha, orienta e até desenha é fundamental entender um ponto crucial. Embora esses sistemas de IA operem com base em modelos de linguagem e vastos conjuntos de dados para responder e resolver problemas lógicos, gerando conteúdos e cálculos que parecem precisos, precisamos ficar atentos. A IA mal utilizada pode deteriorar as interações humanas. Por trás dessas respostas, podem surgir soluções equivocadas, o que chamamos de alucinações de IA.

O relacionamento da máquina com o humano é feito por prompts. Eles estimulam o nosso modelo de pensar passo a passo (Machine Learning e Deep Learning) até chegar numa conclusão. Quando a IA responde, comunicando ideias ou apresentando soluções, ela está, na verdade, processando probabilidades de respostas. Isso pode, muitas vezes, expor um raciocínio lógico e gerar respostas até melhores que as humanas, simulando o pensamento. Contudo, é fundamental entender que essas respostas podem ser incorretas e ilógicas. Por isso, as linhas de processamento da IA devem ser sempre questionadas pelo ser humano, nesse novo modelo de relacionamento.

A crescente interferência tecnológica em nossas relações, especialmente com a IA simulando o pensamento humano, pode, de fato, complicar nosso questionamento crítico e discernimento como seres criados à imagem e semelhança de Deus. É, portanto, imperativo que mantenhamos consciência e ética ao analisar os resultados gerados na interação com as máquinas. Isso nos protegerá das alucinações da IA, que frequentemente distorcem a verdade e a essência das relações humanas. Diante desses desafios tecnológicos, precisamos permanecer vigilantes na formação ética e na intermediação, sempre buscando entender o outro como presente do bom Deus em nossas vidas.

Em suma, a IA, com sua capacidade de processar informações, surge como um catalisador de conexões. Ela acelera e intensifica as interações humanas, atuando como um agente que o estimula e potencializa os relacionamentos. É uma ferramenta valiosa que nos auxilia a transcender barreiras e a nos aproximarmos do próximo. Assim, a tecnologia se torna um meio para fortalecer os laços humanos, e não um fim em si mesma.

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