“Vós sois uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, o povo de particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa” (1 Pd 2,5.9).
Jackson Erpen – Vatican News
No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar hoje sobre “o sacerdócio dos cristãos”.
“É desejo ardente na mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas (…). Na reforma e incremento da sagrada Liturgia, deve dar-se a maior atenção a esta plena e ativa participação de todo o povo porque ela é a primeira e necessária fonte onde os fiéis hão de beber o espírito genuinamente cristão. Esta é a razão que deve levar os pastores de almas a procurarem-na com o máximo empenho, através da devida educação” (SC 14).
A Constituição conciliar Sacrosanctum Concilum, dedica seu Capítulo I aos princípios gerais em ordem à reforma e incremento da liturgia, onde na segunda parte fala da “educação litúrgica e participação ativa dos fiéis. Pelo batismo, cada cristão passa a ter uma identidade única: é sacerdote, rei e profeta e rei. Por meio de passagens bíblicas e documentos da Igreja, padre Gerson Schmidt nos ajuda a entender como os cristãos podem exercer o sacerdócio ao qual são chamados:
“Ao selar a aliança no deserto do Sinai com o povo libertado da escravidão do Egito, Deus tinha dito: “Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade particular entre todos os povos… Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Ex 19,5-6).
É este texto que ressoa nas palavras de São Pedro em sua primeira carta: “Dedicai-vos a um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por Jesus Cristo”, e: “Vós sois uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, o povo de particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa” (1Pd 2,5.9).
No mesmo sentido diz o livro do Apocalipse que Jesus “fez de nós um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai” (Ap 1,6). Como no antigo, assim também no novo testamento, este sacerdócio é um sacerdócio espiritual que, no entanto, não exclui, e sim inclui o oferecimento de sacrifícios rituais, na Igreja o sacrifício eucarístico. É igualmente claro que o exercício deste sacerdócio se estende a toda a liturgia, a todas as celebrações. E, finalmente, não há dúvidas de que este povo sacerdotal são todos os batizados. Como no batismo nascemos pelo dom do Espírito Santo como filhos e filhas de Deus em Jesus Cristo, assim somos no batismo ungidos sacerdotes no sumo sacerdote Jesus Cristo.
E o sacerdócio dos ordenados? Como diz o termo que o especifica, “sacerdócio ministerial”, ele está a serviço do sacerdócio comum de todos os batizados. Os ordenados ajudam todo o povo dos batizados a viver e exercer o seu sacerdócio espiritual e ritual.
Sobretudo na liturgia se exerce o sacerdócio de Jesus Cristo, do qual participam todos os batizados e, de modo particular, os ordenados. É neste sentido que a constituição sobre a liturgia – a SC – fala da “plena, cônscia e ativa participação das celebrações, que a própria natureza da liturgia exige e à qual, por força do batismo, o povo cristão, geração escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo de conquista tem direito e obrigação” (SC 14).
No mesmo sentido a constituição diz ainda: “As ações litúrgicas (…) são (…) celebrações da Igreja, que é o sacramento da unidade, isto é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção dos bispos. Por isso, estas celebrações pertencem a todo o corpo da Igreja, e o manifestam e afetam” (SC 26).
O fiel, por força do batismo, tem direito e dever dessa integração e participação, que a própria natureza da liturgia exige. A Sagrada Liturgia é a primeira e necessária fonte do genuíno cristianismo. Não nos adentramos num verdadeiro ser cristão batizado se não mergulhamos nessa fonte da vida cristã que é a Eucaristia.
Segundo o discurso do Papa Francisco na 68ª Semana Nacional Litúrgica, “o Concílio Vaticano II fez maturar depois, como bom fruto da árvore da Igreja, a Constituição sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium (SC), cujas linhas de reforma geral respondiam às necessidades reais e à esperança concreta de uma renovação: desejava-se uma liturgia viva para uma Igreja toda vivificada pelos mistérios celebrados. Tratava-se de expressar de maneira renovada a vitalidade perene da Igreja em oração, tendo o cuidado de que «os cristãos não entrem neste mistério de fé como estranhos ou espectadores mudos, mas participem na ação sagrada, consciente, ativa e piedosamente, por meio duma boa compreensão dos ritos e orações» (SC, 48).”
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.