P. António Cachingona: “África deve exigir justiça ecológica.”

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“África deve ter voz própria no G20 e exigir justiça ecológica” – Quem o diz é o P. António Pelágio Cachingona, natural do Huambo, Angola, e atual Coordenador do Departamento Social da Associação Inter-Regional dos Bispos da África Austral (IMBISA). Em entrevista à Vatican News, falou do impacto e dos apelos surgidos no âmbito do Simpósio Internacional do G20 sobre Justiça Global e Solidariedade, realizado a 20 de junho de 2025 na Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul.

Sheila Pires – África do Sul

P. Cachingona destacou que os temas debatidos se alinham profundamente com os princípios da Doutrina Social da Igreja, especialmente no que diz respeito à justiça, solidariedade, igualdade e à sustentabilidade — valores cada vez no centro da reflexão social e pastoral contemporânea.

“Este simpósio insere-se nos clamores do nosso tempo. A África precisa expor as suas prioridades e deixar de ser apenas subordinada às decisões das potências mundiais” – afirmou o P. Cachingona.



Participantes no Simpósio

Entre as principais preocupações levantadas pelo sacerdote está o pedido a favor do cancelamento da dívida ecológica. Ele sublinha que o continente africano, embora seja aquele que menos contribui para a degradação ambiental, sofre desproporcionalmente os efeitos da crise climática. “Não é justo que a África pague por aquilo que em nada contribuiu. Os ciclones, as secas, os desastres ambientais estão a arruinar comunidades inteiras” – alertou.

O P. Cachingona também abordou o legado colonial e o seu impacto negativo no desenvolvimento da África, defendendo que esta é uma oportunidade para exigir reparações históricas e uma representação real e ativa no cenário internacional. Com a África do Sul atualmente na presidência do G20, segundo ele, é hora de o continente se afirmar como voz legítima nos debates globais.

Acerca da Declaração da Cidade do Cabo sobre Justiça Global e Solidariedade, assinada no  final do Simpósio, o P. Cachingona afirmou que, “O documento está em sintonia com o que foi discutido. Reflete a voz real e urgente da África diante das adversidades que enfrentamos. Se for levado a sério nas instâncias de decisão, poderá gerar impactos positivos para o nosso porvir.”

Dom Tjhulani com religiosas, participantes no Simpósio

Dom Tjhulani com religiosas, participantes no Simpósio

A declaração, assinada por representantes da Comissão Justiça e Paz da Conferência Episcopal da Africa Austral (SACBC), comunidades religiosas, academia, sociedade civil, representantes do Governo sul-africano e instituições multilaterais, exige reformas estruturais nos sistemas financeiro e de governança global. Entre os compromissos propostos, destacam-se:

  1. Um Novo Contrato Social para a Economia Global, centrado na dignidade humana e sustentabilidade ambiental;
  2. Justiça da Dívida, com cancelamento da dívida ilegítima e criação de um sistema justo de resolução internacional;
  3. Fim da Fome e Alimentação com Dignidade, com propostas de programas universais de merenda escolar até 2030;
  4. Solidariedade Planetária e metamorfose Ecológica, com financiamento climático direcionado ao Sul Global;
  5. Governança Global Inclusiva, que integre líderes religiosos, mulheres, jovens e a sociedade civil nos processos decisórios.

Na entrevist à Vatican News, o P. Cachingona chamou a atenção sobretudo para o ponto da alimentação escolar. “Sem alimentação, as crianças abandonam a escola. Um saco vazio não fica de pé. A educação é a base do desenvolvimento, e não podemos comprometer o porvir da África.”

A Declaração será apresentada à União Africana, à presidência sul-africana do G20, às Nações Unidas e ao Vaticano. Ela afirma que soluções técnicas não são suficientes — é necessária uma renovada responsabilidade ética global. Para o P. Cachingona, trata-se de “uma voz autorizada que pode orientar os destinos da África nos tempos vindouros”.

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