Na Catedral de Piacenza, o cardeal Marcello Semeraro, Prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, enfatizou em sua homilia durante a beatificação do religioso morto pelos nazistas em 1944, o exemplo brilhante do homem que, como a família Ulma, abrigava e ajudava “aqueles que eram maltratados como se fossem seus companheiros de sofrimento”.
Francesca Sabatinelli – Cidade do Vaticano
Proteger e salvar os judeus, ajudando-os a escapar da perseguição nazista, foi, sem dúvida, “o ato mais heroico” do Pe. Giuseppe Beotti e, talvez, “uma das causas decisivas de seu martírio”, como fruto de uma caridade pastoral não desconhecida pelas autoridades nazi-fascistas. O cardeal Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, em sua homilia na missa de beatificação do padre Beotti, neste sábado, 30 de setembro de 2023, na Catedral de Santa Maria Assunta e Santa Giustina, em Piacenza, destacou a figura do religioso, vítima do ódio nazista por ter transgredido as regras ditadas pela lei antissemita.
Exemplo brilhante
Como arcipreste da paróquia de Sidolo, um pequeno vilarejo de Bardi, na província de Parma, em 1943, após a ocupação alemã, Beotti resgatou e abrigou soldados em fuga, prisioneiros que haviam escapado dos campos e pessoas perseguidas, entre elas cerca de cem judeus. Em 1944, em retaliação à morte de 70 soldados alemães, as aldeias da região foram cercadas e destruídas, entre elas Sidolo. Padre Beotti, que havia permanecido na igreja, foi preso e fuzilado em 20 de julho, em represália, mas também, e acima de tudo, como reação à ajuda e ao abrigo que havia oferecido a tantos judeus. Seu martírio foi testemunhado por aqueles que, embora não tivessem presenciado a execução, correram logo depois para o local do massacre. Também morreram com o Pe. Beotti o clérigo Italo Subacchi, que havia encontrado hospitalidade com o Pe. Beotti, e um confrade, o Pe. Francesco Delnevo. “Sabemos que para os nazistas”, disse Semeraro, “o simples fato de dar hospitalidade aos judeus era considerado um crime punível com a morte”, exatamente como foi para os Ulma Josef e Wiktoria, beatificados pelo cardeal em 10 de setembro na Polônia, outro “exemplo brilhante” de pessoas beatificadas que, como Beotti, deram hospitalidade e ajudaram “aqueles que foram maltratados como se fossem seus companheiros de sofrimento”.
Caridade oculta
A caridade pastoral do sacerdote, Giuseppe Beotti, continua Semeraro, “foi uma escolha de vida”, dando aos pobres tudo o que tinha, ele que “tinha experimentado a pobreza em sua família”, mas que a transformou em uma riqueza de dons, “especialmente para aqueles que combinavam a pobreza com outras dificuldades graves”. Em seguida, o Cardeal se deteve em outro aspecto da vida do Beato, que ele define como uma “caridade oculta” e “conhecida apenas pelos familiares e por alguns poucos entes próximos”.
A causa do martírio
O Cardeal Semeraro disse que os testemunhos da época apontam como a “causa imediata do martírio”: a distribuição de pão, no pátio da igreja, em 20 de julho, às pessoas que o pediam, “um gesto que os nazistas viram de distante com binóculos e a partir do qual o drama se desenrolou materialmente”. Um evento no qual Semeraro vê um “valor simbólico: a unidade entre o exercício do ministério sagrado na liturgia divina e o compromisso cotidiano da vida”. Desde a Igreja primitiva, de fato, a partilha dos bens e a coleta de ofertas para os necessitados estão intimamente ligadas ao sacrifício de Cristo”.
Vitória sobre a perseguição
O Bem-aventurado Giuseppe Beotti, concluiu o cardeal em sua homilia, “fez como o Bom Pastor, ofertou o dom de sua própria vida. Forte na graça de Cristo, ele foi vitorioso sobre a tribulação, a angústia e a perseguição, e hoje, na Santa Igreja, sua luz se eleva como a aurora”.