Numa mensagem enviada a um seminário promovido pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Leão XIV convida as pessoas a se tornarem “pescadores de famílias” a fim de oferecer-lhes um encontro com a ternura de Deus: a graça do matrimônio deve ser testemunhada àqueles que escolhem a convivência, lembrando-lhes que a vida cristã é uma experiência de encontro e não apenas um conjunto rigoroso de preceitos a serem respeitados.
Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Leão XIV enviou uma mensagem aos participantes do seminário intitulado “Evangelizar com as famílias de hoje e de amanhã. Desafios eclesiológicos e pastorais”, que teve início, nesta segunda-feira (02/06), na sede do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, organizador do evento, situada no bairro Trastevere, em Roma. O encontro prossegue até terça-feira, 3 de junho.
Um evento promovido logo após o Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos em que um grupo de especialistas reflete sobre um tema que “expressa bem a preocupação maternal da Igreja com as famílias cristãs presentes em todo o mundo: membros vivos do Corpo Místico de Cristo e o primeiro núcleo eclesial ao qual o Senhor confia a transmissão da fé e do Evangelho, especialmente às novas gerações” escreve o Papa no texto. “A profunda questão do infinito, inscrita no coração de cada homem, confere aos pais e mães de família a tarefa de conscientizar seus filhos sobre a Paternidade de Deus”, ressalta Leão XIV, “segundo o que escreveu Santo Agostinho” nas Confissões: «Assim como em Ti temos a fonte da vida, assim também na Tua luz veremos a luz».
Busca pela espiritualidade
De acordo com o Papa, “o nosso tempo é marcado por uma crescente busca pela espiritualidade, especialmente entre os jovens, que desejam relações autênticas e mestres de vida. Por isso, é relevante que a comunidade cristã saiba lançar um olhar distante, tornando-se guardiã, diante dos desafios do mundo, do anseio de fé que habita o coração de cada um”.
Segundo Leão XIV, “é particularmente urgente, neste esforço, dedicar especial atenção às famílias que, por vários motivos, estão espiritualmente mais distantes: aquelas que não se sentem envolvidas, que dizem não estar interessadas, ou que se sentem excluídas dos percursos comuns, mas que, no entanto, gostariam de ser de alguma forma parte de uma comunidade, na qual crescer e com a qual caminhar”. “Quantas pessoas, hoje, ignoram o convite para achar Deus”, ressalta.
Modelos ilusórios de vida
“Infelizmente, diante dessa necessidade, uma “privatização” cada vez mais difundida da fé impede, muitas vezes, esses irmãos e irmãs de conhecer a riqueza e os dons da Igreja, lugar de graça, fraternidade e amor”, escreve ainda o Papa, ressaltando que “muitos acabam se apoiando em falsos apoios que, não suportando o peso de suas necessidades mais profundas, os fazem deslizar novamente, distanciando-os de Deus e fazendo-os naufragar num mar de solicitações mundanas”.
Entre eles, encontram-se pais e mães, crianças, jovens e adolescentes, por vezes alienados por modelos ilusórios de vida, onde não há espaço para a fé, para cuja difusão contribui, em grande medida, o uso distorcido de meios potencialmente bons em si mesmos, como as redes sociais, mas nocivos quando transformados em veículos de mensagens enganosas.
Segundo o Papa, “o que move a Igreja em seu esforço pastoral e missionário é o desejo de ir ‘pescar’ esta humanidade para salvá-la das águas do mal e da morte através do encontro com Cristo”.
Compreender a beleza da vocação ao amor
A seguir, o Pontífice ressalta que os jovens que hoje “escolhem a convivência em vez do matrimônio cristão”, talvez “precisem de alguém que lhes mostre de maneira concreta e compreensível, sobretudo com o exemplo de vida, o que é o dom da graça sacramental e qual a força que dela provém”. Alguém “que os ajude a compreender “a beleza e a grandeza da vocação ao amor e ao serviço da vida” que Deus concede aos esposos”.
Leão XIV recorda que “muitos pais, na educação dos filhos na fé, precisam de comunidades que os apoiem na criação de condições para que possam achar Jesus, «lugares onde se realiza aquela comunhão de amor que encontra a sua fonte última no próprio Deus»”. “A fé é, primeiramente, uma resposta a um olhar de amor, e o maior erro que podemos cometer como cristãos é, nas palavras de Santo Agostinho, «pretender que a graça de Cristo consista no seu exemplo e não no dom da sua pessoa»”.
Quantas vezes, num passado talvez não tão distante, esquecemos esta verdade e apresentamos a vida cristã principalmente como um conjunto de preceitos a serem respeitados, substituindo a experiência maravilhosa do encontro com Jesus, Deus que se doa a nós, por uma religião moralista, pesada, pouco atraente e, de certa forma, inviável na concretude da vida quotidiana.
Tornando-se “pescadores de famílias”
Segundo o Papa, “neste contexto, cabe antes de tudo aos Bispos, sucessores dos Apóstolos e Pastores do rebanho de Cristo, lançar a rede ao mar, tornando-se “pescadores de famílias”. Os leigos são chamados a se comprometerem nesta missão, tornando-se, junto com os Ministros ordenados, “pescadores” de casais, de jovens, crianças, mulheres e homens de todas as idades e condições, para que todos possam achar Aquele que é o único que pode salvar. De fato, cada um de nós, no Batismo, é constituído Sacerdote, Rei e Profeta para os irmãos, e se torna “pedra viva” para a construção do edifício de Deus «na comunhão fraterna, na harmonia do Espírito, na convivência das diversidades»”.
Leão XIV convida a entender como “caminhar com essas famílias e como ajudá-las a achar a fé, tornando-se “pescadores” de outras famílias”, famílias “feridas de muitas maneiras”, a “se abrir, quando necessário, a novos critérios de avaliação e a diferentes modos de agir, porque cada geração é diferente da outra e apresenta os seus desafios, sonhos e interrogações”. “Mas, em meio a tantas mudanças, Jesus Cristo permanece «o mesmo ontem, hoje e sempre». Portanto, se queremos ajudar as famílias a viverem caminhos alegres de comunhão e a serem sementes de fé umas para as outras, é necessário que, antes de tudo, cultivemos e renovemos a nossa identidade de fiéis”, conclui o Papa.