A terra “deve ser trabalhada e cuidada, cultivada e protegida; não podemos continuar a espremê-la como uma laranja. E podemos dizer que isso, cuidar da terra, é um direito humano”. E “cada um de nós pode desempenhar um papel precioso, se todos nos colocarmos hoje em caminho. Não amanhã, hoje. Porque o porvir se constrói hoje, e não se constrói sozinhos, mas em comunidade e em harmonia”.
Vatican News
“O atual sistema econômico é insustentável. Estamos diante de um imperativo ética e da urgência prática de repensar muitas coisas: como produzimos, como consumimos, pensar sobre a nossa cultura de desperdício, a visão de curto prazo, a exploração dos pobres, a indiferença em relação a eles, o aumento das desigualdades e a dependência de fontes de energia nocivas”.
Foi o que afirmou o Papa Francisco na mensagem em vídeo enviada na noite de sábado aos participantes do “Countdown”, um evento digital de TED organizado a nível global para achar soluções imediatas em resposta à crise climática.
O Pontífice cita o atual momento de dificuldade, a crise da pandemia e a crise socioambiental. “Isso nos coloca, todos, diante da necessidade de uma escolha. A escolha entre o que é relevante e o que não é. A escolha entre continuar a ignorar os sofrimentos dos mais pobres e maltratar a nossa lar comum, a Terra, ou comprometer-nos em todos os níveis para transformar nosso modo de agir”.
Depois de ter recordado a urgência de uma ação conjunta para evitar as catástrofes iminentes, como afirmam os cientistas, Francisco fala da economia, que “não pode se limitar à produção e distribuição. Deve necessariamente considerar seu impacto no meio ambiente e na dignidade da pessoa”.
Neste sentido, o Papa apela a uma economia “criativa em si mesma, nos seus métodos, no modo de agir” e propõe a quem o escuta um caminho “de metamorfose e de ação”, com o objetivo de “construir, na próxima década, um mundo onde seja possível responder às necessidades das gerações presentes, incluindo todos, sem comprometer as possibilidades das gerações futuras”.
“Gostaria de convidar todas as pessoas de fé, cristãs ou não, e todas as pessoas de boa vontade – afirma Francisco – a empreender este caminho, a partir de sua fé ou, se não tiver fé, de sua vontade, da própria boa vontade. Cada um de nós, como indivíduos e membros de grupos – famílias, comunidades religiosas, empresas, associações, instituições – pode dar uma contribuição significativa”.
O Papa recorda a Encíclica Laudato si ‘e apresenta propostas concretas. A primeira é “promover, em todos os níveis, uma educação voltada ao cuidado da lar comum, desenvolvendo o entendimento de que os problemas ambientais estão ligados às necessidades humanas; uma educação baseada em dados científicos e uma abordagem ética”.
Na segunda proposta fala da água e da alimentação: “O acesso à água potável e segura é um direito humano essencial e universal. É imprescindível, porque determina a sobrevivência das pessoas e por isso é condição para o exercício de todos os outros direitos e responsabilidades”, e “assegurar uma alimentação adequada para todos, pelo uso de métodos agrícolas não destrutivos, que deveria tornar-se objetivo fundamental de todo o ciclo da produção e distribuição de alimentos”.
A terceira proposta é a da transição energética: “Uma substituição progressiva, mas sem demora, dos combustíveis fósseis por fontes de energia limpa. Temos poucos anos, os cientistas calculam aproximadamente menos de trinta, para reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Esta transição não só deve ser rápida e capaz de satisfazer as necessidades energéticas presentes e futuras, mas também deve estar atenta aos impactos sobre os pobres, as populações locais e aqueles que trabalham nos setores de produção de energia”.
O Papa sublinha que “uma forma de incentivar esta mudança é conduzir as empresas em direção à exigência urgente de se comprometerem com o cuidado integral da lar comum, excluindo dos investimentos as empresas que não cumpram os parâmetros da ecologia integral e recompensando aquela que se organizam concretamente nesta fase de transição, para colocar no centro de suas atividades parâmetros como sustentabilidade, a justiça social e a promoção do bem comum”.
A terra, conclui Francisco, “deve ser trabalhada e cuidada, cultivada e protegida; não podemos continuar a espremê-la como uma laranja. E podemos dizer que isso, cuidar da terra, é um direito humano”. E “cada um de nós pode desempenhar um papel precioso, se todos nos colocarmos hoje em caminho. Não amanhã, hoje. Porque o porvir se constrói hoje, e não se constrói sozinhos, mas em comunidade e em harmonia”.