Papa: não uma Igreja acomodada e desistente, mas que “suja as mãos” para servir

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Francisco concluiu a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos no Vaticano com uma missa na Basílica de São Pedro. O Pontífice convocou a Igreja a se levantar, escutar e caminhar ao lado dos mais vulneráveis, inspirada pelo Evangelho e movida pelo serviço e pela missão: “Deixemos de lado o manto da resignação, confiemos ao Senhor a nossa cegueira, coloquemo-nos de pé e levemos a felicidade do Evangelho pelos caminhos do mundo.”

Thulio Fonseca – Vatican News

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Neste domingo, 27 de outubro, a Basílica de São Pedro acolheu cerca de 5 mil fiéis para a missa conclusiva da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, presidida pelo Papa Francisco. O Pontífice dirigiu-se a cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos, convocando-os a refletir sobre a postura da Igreja diante dos desafios atuais, através do exemplo de Bartimeu, o cego que, mesmo marginalizado, encontrou forças para gritar a Jesus e seguir pelo caminho.

A partir da passagem do Evangelho deste trigésimo domingo do tempo comum (Mc 10, 46-52), que narra a cura de Bartimeu, o Papa ressaltou a importância de uma Igreja em movimento, atenta às necessidades e clamores da humanidade: “Uma Igreja sentada é uma Igreja estagnada, incapaz de ver o Senhor em seu meio e de responder aos apelos do mundo”. Francisco usou a imagem do cego “à margem da estrada” para ilustrar a necessidade de uma comunidade que não se limite a observar de distante, mas que, impulsionada pelo chamado de Cristo, se levante e siga adiante.

Fiéis e peregrinos reunidos na Basílica de São Pedro

Fiéis e peregrinos reunidos na Basílica de São Pedro

Escutar e responder ao grito do mundo

O Papa, ao proferir a homilia, destacou que, ao longo da Assembleia Sinodal, a Igreja foi chamada a abrir-se ao grito dos marginalizados, daqueles que buscam acolhimento, e daqueles que, silenciosamente, sofrem. A exemplo de Bartimeu, Francisco enfatizou que a Igreja não pode ignorar o sofrimento e as necessidades de tantos irmãos e irmãs. Recordemos isto, enfatizou o Santo Padre, “o Senhor passa, o Senhor passa sempre e cuida da nossa cegueira. E é bonito que o Sínodo nos impulsione a ser Igreja como Bartimeu: a comunidade dos discípulos que, ouvindo passar o Senhor, sente a emoção da salvação, deixa-se despertar pela força do Evangelho e começa a gritar-Lhe. E fá-lo acolhendo o grito de todos os homens e mulheres da terra: o grito dos que querem descobrir a felicidade do Evangelho e dos que, pelo contrário, se afastaram; o grito silencioso dos indiferentes; o grito dos que sofrem, dos pobres e dos marginalizados; a voz quebrada dos que já nem sequer têm força para gritar a Deus, porque não têm voz ou porque se resignaram”.

“Não precisamos de uma Igreja sentada e desistente, mas de uma Igreja que acolhe o grito do mundo e suja as mãos para servir o Senhor.”

Uma Igreja missionária e sinodal

Ao lembrar a interação entre Bartimeu e Jesus, Francisco explicou que, assim como o cego clamou por ajuda e foi atendido, também a Igreja deve escutar ativamente os clamores de hoje, fazendo-se próxima dos que necessitam de amparo espiritual, material e humano. A postura sinodal da Igreja, recordou o Papa, também pode ser simbolizada pelo seguimento de Bartimeu no caminho de Jesus: “uma comunidade em constante movimento, iluminada pelo Espírito Santo e impulsionada pela missão de levar a luz do Evangelho ao mundo”. Não caminhemos sozinhos ou segundo os critérios do mundo, mas juntos, como discípulos do Senhor, reforçou o Santo Padre:

“Irmãos e irmãs: não uma Igreja sentada, mas uma Igreja em pé. Não uma Igreja muda, mas uma Igreja que acolhe o grito da humanidade. Não uma Igreja cega, mas uma Igreja iluminada por Cristo, que leva aos outros a luz do Evangelho. Não uma Igreja estática, mas uma Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas do mundo.”

Francisco contempla a "Cátedra de Pedro"

Francisco contempla a “Cátedra de Pedro”


Amor, unidade e misericórdia

O Pontífice, ao voltar seu olhar para a relíquia da “Cátedra de São Pedro”, restaurada e exposta para a veneração dos fiéis, recordou o verdadeiro significado do poder e da liderança na Igreja. Para Francisco, esta imagem da Cátedra expressa a essência do serviço e da unidade, valores essenciais para a Igreja sinodal:

“Enquanto damos graças ao Senhor pelo caminho percorrido em conjunto, poderemos ver e venerar a relíquia da antiga Cátedra de São Pedro, cuidadosamente restaurada. Recordemos que esta é a Cátedra do amor, da unidade e da misericórdia, segundo o preceito que Jesus deu ao Apóstolo Pedro de não exercer domínio sobre os outros, mas de os servir na caridade. E admirando o majestoso baldaquino de Bernini, mais resplandecente do que nunca, redescobrimos que ele enquadra o verdadeiro ponto focal de toda a Basílica, isto é, a grandeza do Espírito Santo. Esta é a Igreja sinodal: uma comunidade cujo primado está no dom do Espírito, que nos torna irmãos em Cristo e nos eleva até Ele.”

“Coragem, levanta-te, Ele te chama”

Ao encerrar a homilia, o Papa exortou os presentes a deixarem para trás qualquer manto de resignação ou paralisia que possa ter invadido a Igreja, e incentivou a comunidade a confiar a própria “cegueira” a Deus e, como Bartimeu, levantar-se e seguir o Senhor. “Coragem, levanta-te, Ele te chama. Coloquemo-nos de pé e levemos a felicidade do Evangelho pelos caminhos do mundo” concluiu Francisco. 

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