O bispo francês dom Thibault Verny foi nomeado pelo Papa Leão XIV, neste sábado (05/06), como novo presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, cargo anteriormente ocupado pelo cardeal Seán Patrick O’Malley. Na França, dom Thibault foi responsável pelo enfrentamento aos crimes de abuso dentro da Conferência Episcopal.
Vatican News
O Papa Leão XIV nomeou dom Thibault Verny como presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores. O bispo francês traz uma longa experiência pastoral e institucional na escuta das vítimas, no acompanhamento de processos de justiça e na articulação com autoridades civis e eclesiásticas. Foi presidente do Conselho para a Prevenção e o Combate à Pedofilia na Conferência Episcopal Francesa até junho deste ano, função que agora é desempenhada por dom Gérard Le Stang, bispo de Amiens. Seu compromisso se consolidou especialmente no processo de criação da Ciase (Comissão Independente sobre Abusos Sexuais na Igreja), culminando com o relatório Sauvé, e na instituição do Inirr, organismo voltado à reparação e à indenização das vítimas.
“Com profunda humildade e sincera gratidão, agradeço ao Santo Padre, Papa Leão XIV, por minha nomeação. Estou honrado com a confiança que me foi depositada, plenamente consciente da grave e sagrada missão confiada à Comissão: ajudar a Igreja a tornar-se cada vez mais vigilante, responsável e compassiva na proteção dos mais vulneráveis”, declarou o arcebispo Verny, em um comunicado após a sua nomeação.
O novo presidente fez questão de expressar sua gratidão ao cardeal O’Malley, a quem chamou de “bússola ética” em tempos de profunda dificuldade. “Sua liderança corajosa e profética deixou uma marca indelével não apenas na Igreja, mas na sociedade como um todo. Ele foi incansável em garantir espaço para que as vítimas fossem ouvidas, acreditadas e acompanhadas em sua busca por justiça e cura.”
Ao assumir o novo cargo, dom Verny reafirmou seu compromisso em dar continuidade ao legado do cardeal O’Malley. Suas prioridades, disse, incluirão o apoio às Igrejas locais, especialmente aquelas que ainda enfrentam desafios na implementação de medidas eficazes de tutela. “Promoveremos a subsidiariedade e o compartilhamento equitativo de recursos, para que todas as partes da Igreja, independentemente de sua localização ou realidade, possam assegurar os mais altos padrões de proteção.”
Ciente de que se trata de um caminho de conversão contínuo, dom Thibault destacou que somente nesse espírito o Evangelho poderá ser verdadeiramente escutado e tornar-se crível. “Conto com a experiência, a sabedoria e a dedicação dos meus colegas da Comissão para levarmos adiante juntos essa missão vital para o presente e o porvir da Igreja.”
O colega da redação francesa Jean Charles Putzolu entrevistou o novo presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores:
Dom Verny, o senhor assume a presidência da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, instituída pelo Papa Francisco em março de 2014. Leão XIV o escolheu para suceder ao cardeal O’Malley, que há pouco completou 80 anos. Como acolhe essa nomeação?
Três palavras vieram à minha mente e ao meu coração. Primeiro, a palavra humildade diante da importância e da gravidade da missão e dos desafios que ela implica. Depois, a palavra gratidão, em relação ao nosso Santo Padre, Leão XIV, pela confiança que demonstrou em mim; gratidão, obviamente, também em relação ao cardeal O’Malley, com quem tive a oportunidade de colaborar na Pontifícia Comissão e por todo o seu trabalho. A terceira palavra é determinação em continuar e aprofundar esse trabalho.
O senhor tem experiência dentro da Conferência Episcopal neste tema delicado. Agora poderá colocá-la a serviço da Igreja universal…
Na França, minha missão, primeiro na arquidiocese de Paris e depois na Conferência Episcopal, permitiu-me escutar as vítimas e acompanhá-las em seu caminho. Foi uma experiência decisiva. Também tive a oportunidade de trabalhar com interlocutores da sociedade civil, particularmente da justiça, com os quais conseguimos elaborar protocolos de trabalho que permitiram estabelecer uma metodologia. É também significativo poder trabalhar com as autoridades civis, além, naturalmente, de todas as dioceses da França.
Quais serão, na sua opinião, as prioridades da Pontifícia Comissão e suas prioridades para a Igreja universal?
Penso antes de tudo nos membros da Comissão para a Tutela dos Menores e em todos que nela trabalham. Estou comovido por poder continuar aprofundando esse trabalho com cada um dos membros e com a equipe responsável. As prioridades serão dar continuidade ao trabalho já apresentado por meio do relatório anual, das iniciativas nos países que mais precisam e por meio do projeto Memorare, para apoiar as Igrejas na acolhida e no acompanhamento das vítimas. Em breve serão publicadas diretrizes. Elas fornecem orientações para o acompanhamento e a proteção dos menores. Outro ponto que me parece relevante será poder conectar as iniciativas. Muitas vezes, os países trabalham de forma isolada. É necessário, ao contrário, que possamos nos apoiar mutuamente e compartilhar o que está sendo feito.
Qual é a importância do trabalho e acompanhamento com as vítimas?
A Pontifícia Comissão não tem a função de substituir as estruturas locais e as Conferências Episcopais. Trata-se de conscientizar os diferentes episcopados, ordens e congregações religiosas nos diversos países sobre a escuta e o acompanhamento específico das vítimas. Dentro da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores é fundamental que haja vítimas e seus pais e familiares que tragam sua experiência insubstituível. Parece-me que devemos continuar a implementar uma mentalidade, uma cultura, dentro das Igrejas para difundir a proteção dos menores e fazer com que isso se torne natural, tanto na Igreja quanto nas famílias e também na sociedade.