A partir desta terça-feira e no dia 29 de cada mês até setembro de 2021, a comunidade católica de Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul, vai promover um gesto simbólico em comemoração ao Ano Especial da Laudato si’ e em preparação aos 150 anos da Romaria em honra a São Miguel – a mais antiga do Estado. Em artigo especial ao Vatican News, o Pe. Joule Windson Cunha Santos, vigário da Paróquia São Vicente de Paulo, explica sobre o plantio de 150 mudas de ipê de diversas cores que pretende “conscientizar o ser humano na busca de restauração da Criação”.
Pe. Joule Windson Cunha Santos – Paróquia São Vicente de Paulo em Passo Fundo/RS
São Miguel, o Arcanjo que cuida da Vida!
“Um grande profeta surgiu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo”! (Lc 7,16). Resgatando a história de 149 anos, a Capela São Miguel foi erguida na localidade de Pinheiro Torto, onde historicamente os negros escravos empreendiam os mais diversos afazeres nas glebas dos primeiros proprietários e moradores desta região.
A respeito do histórico da Capela São Miguel, a professora Delma Rosendo Gehm diz que os pretos, Generoso e seu filho Isaías – o seu nome completo foi, provavelmente, Bento Isaías – escravos de Bernardo Castanho da Rocha, participaram da Guerra contra o Paraguai. Os dois marcharam como praças do 5º Corpo de Cavalaria da Guarda Nacional. Generoso, ferido, teve que sofrer a amputação de uma perna.
Continuando os relatos, escreve Francisco Antonino Xavier e Oliveira, que terminada a guerra, voltavam ambos para o lar de Bernardo, no Pinheiro Torto, quando, ao passarem pelas imediações das ruínas do povoado jesuítico de S. Miguel, encontraram, à beira de uma lagoa uma estátua, representando o arcanjo do mesmo nome, São Miguel. Achada a estátua, que resolveram trazer consigo, como trouxeram, obteram na vizinhança uma carretinha, puxada por um cavalo, e na qual, guiada por Isaías, também o ferido se acomodou para o resto da viagem.
Chegados ao Pinheiro Torto, Generoso empreendeu erigir uma capelinha ao Arcanjo, obra para a qual, apesar de sua relativa invalidez, não o impedia de capataziar a fazenda do ex senhor e aos sábados e domingos, saía a cavalo a angariar donativos na vizinhança. Assim, obtido o recurso necessário, o ex-servo levou a termo a construção, feita com parede de pau a pique (estucada de barro), e coberta de capim. Nela, em seguida, veio a realizar-se, em 1871, a primeira festa de São Miguel e da qual foi festeira Dona Maria Joana de Oliveira, esposa de Diogo José de Oliveira, que, ao tempo, era pessoa de destaque em Passo Fundo. Mais tarde, com o auxílio de seu patrão, já referido, Generoso substituiu a primeira capelinha por outra melhor, construída de madeira e coberta de tabuinhas, a qual por longo tempo, serviu. No final, já velha, foi demolida para construção da atual, erguida em tijolos e coberta de telhas, e que foi construída anos depois da pacificação que pôs fim à Revolução Federalista de 1893. A capelinha foi acabada no ano de 1952.
Tal história da poética ermida explica a tradicional festa ou romaria anual, que acontece no domingo mais próximo ao dia 29 de setembro, sempre precedida de uma procissão àquela Capela, atraindo romeiros de Passo Fundo e de outras cidades vizinhas. Romeiros de todas as classes sociais, uns a pé, outros a cavalo e o maior número, talvez, em veículos de toda sorte, desde a lenta e muito velha carreta de bois, até o veloz e moderno automóvel, reunindo em Pinheiro Torto, um palpitante mostruário de nossa gente e de nossos costumes religiosos.
149ª Romaria em honra a São Miguel
Nesse ano de 2020, celebrando a 149ª Romaria em honra a São Miguel, inicia-se um caminho de preparação para a celebração do Jubileu dos 150 anos da Romaria, a mais antiga do Rio Grande do Sul, um século e meio de lutas e alegrias. Nesse ano atípico, devido à pandemia da Covid-19, a Romaria foi realizada de forma diferenciada, onde priorizamos a Programação Religiosa com o tríduo em preparação, dias 23, 24 e 25 de setembro, com transmissão ao vivo pela página do facebook da Paróquia São Vicente de Paulo, em Passo Fundo. Dia 27 de setembro, domingo, tivemos a transmissão da celebração, onde os romeiros puderam acompanhar.
No dia 29 de setembro, iniciaremos um caminho, onde todos os meses, nos dias 29, as celebrações darão início aos preparativos da celebração dos 150 anos da Romaria de São Miguel, um século e meio de histórias, encontros, buscas, orações, fé e luta pela justiça aos mais pobres. Esse é o verdadeiro sentido da Romaria de São Miguel. Durante esse período de preparação, os romeiros poderão visitar a Capela para rezar e realizar seu momento de espiritualidade, também pagando suas promessas.
Abraçando a causa da vida
Na comemoração dos 5 anos da proclamação da Laudato Si, do Papa Francisco, sobre o cuidado com a lar Comum, ele nos aponta um caminho de consciência e mudança de paradigmas: “Estamos perto de superar muitos dos limites do nosso maravilhoso planeta, com consequências graves e irreversíveis: desde a perda de biodiversidade e alterações climáticas ao aumento do nível dos mares e à destruição das florestas tropicais, espaços onde os vírus habitam, que por sua vez são desalojados pela destruição das florestas, e os mesmos se obrigam a procurar um novo habitat nos animais e nas pessoas. Daí o Covid-19 (cf. Laudato Si 184). A desigualdade social e a degradação ambiental andam de mãos dadas e têm a mesma raiz: a do pecado de querer possuir e dominar os irmãos e irmãs, a natureza e o próprio Deus. Mas este não é o desígnio da criação” (cf. Laudato Si 218).
Atendendo à voz de Deus, somos convidados a abraçar a causa da vida: Deus confiou a terra e os seus recursos à gestão comum da humanidade, para que dela cuidasse. Deus nos pediu que dominássemos a terra em Seu nome, cultivando-a e cuidando dela como se fosse um jardim, o jardim de todos. “Cultivar” quer dizer lavrar; “guardar” significa proteger… “Existe ‘uma relação responsável de reciprocidade’ entre nós e a natureza. Cada comunidade pode tirar da bondade da terra o que precisa para a sua sobrevivência, mas também tem o dever de a proteger”. Para isso, todos os dias 29 de cada mês, a começar em setembro de 2020 a setembro de 2021 realizaremos um gesto simbólico: o plantio de 150 mudas de ipê de diversas cores, a fim de conscientizar o ser humano nessa busca de restauração da criação.
Já posso imaginar a beleza que aquele lugar sagrado vai ficar. Já é um lugar especial, vai ficar ainda mais… Para mim, é um lugar de Paz, um refúgio onde me conecto com meu São Miguel, meu guerreiro. Meu amigo e protetor. Vamos cuidar da nossa lar Comum?