O cardeal defende o princípio da neutralidade. “O não respeito à neutralidade é a causa única de todas as crises e guerras pelas quais o país passou”, diz o purpurado, ao mesmo tempo em que enfatiza a necessidade de introduzir o princípio da neutralidade na Constituição. Isto significa, em primeiro lugar, a independência do Líbano em relação aos conflitos regionais e seus principais atores. O patriarca pede aos libaneses que não se calem diante da corrupção desenfreada e do caos na investigação da explosão no porto de Beirute
Vatican News
“Não quero mais um Estado dentro do Estado, nem um exército paralelo ao exército.” Este foi um dos pontos nodais do discurso feito sábado passado (27/02) pelo patriarca de Antioquia dos Maronitas, no Líbano, o cardeal Béchara Boutros Raï, diante de uma multidão de pelo menos quinze mil libaneses.
Tratou-se de um discurso julgado por muitos analistas como “fundador”, porque capaz ao mesmo tempo de fazer uma análise lúcida da crise que o País dos Cedros vem atravessando há vários anos e de indicar uma saída.
Por um Líbano unido e unificado, livre e forte
“Vida longa ao Líbano unido e unificado, ativamente e positivamente neutro, soberano e independente, livre e forte, que defende a coexistência e a tolerância”, disse o patriarca falando no pátio da sede do patriarcado em Bkerké, ao norte de Beirute, capital libanesa.
O patriarca não mencionou diretamente as forças políticas nem julgou questões particulares, mantendo-se acima das partes. “Béchara Raï não falou nem da lei eleitoral nem do governo ou das cotas, a fim de elevar o debate e enfatizar a gravidade do momento”, escreve o diário libanês “L’Orient Le Jour” em um editorial.
Defesa do princípio da neutralidade
No centro do discurso, a defesa do princípio da neutralidade. “O não respeito à neutralidade é a causa única de todas as crises e guerras pelas quais o país passou”, disse o purpurado, ao mesmo tempo em que enfatizou a necessidade de introduzir o princípio da neutralidade na Constituição. Isto significa, em primeiro lugar, a independência do Líbano em relação aos conflitos regionais e seus principais atores.
Somente assim será possível responder à deriva institucional que desde agosto passado, quando o governo de Hassan Diab se demitiu, tem impedido a formação de um governo capaz de enfrentar a crise social que está causando imenso sofrimento à população.
Libaneses não se calem diante da corrupção e do caos
O patriarca falou de “um golpe de Estado contra o povo e do documento de 1989 de entendimento nacional”, que pôs fim à guerra civil. O cardeal também pediu aos libaneses que não se calassem diante da corrupção desenfreada e do caos na investigação da explosão no porto de Beirute.
Criticando os políticos que “não tiveram sequer a audácia de sentar-se à mesma mesa para resolver os problemas atuais”, o patriarca pediu a realização de uma conferência internacional sobre o Líbano sob a égide das Nações Unidas.
Solução para presença de refugiados sírios e palestinos
O objetivo desta conferência não deve ser “o envio de soldados, nem um ataque ao poder de decisão libanês”, mas a afirmação “da estabilidade e identidade do Líbano, da soberania de suas fronteiras”.
O patriarca de Antioquia dos Maronitas também pediu a aplicação das resoluções internacionais e uma solução radical para o problema da presença dos refugiados sírios e dos deslocados palestinos.
(L’Osservatore Romano)