Vindos de Timor-Leste, 43 peregrinos participaram no Jubileu da Espiritualidade Mariana, em Roma. A viagem, organizada pelo Centro Esperança Railaco, foi um testemunho vivo da fé profunda de um povo que faz da esperança a sua força.
Helena Sequeira – L’Osservatore Romano, edição portuguesa
Entre os milhares de pessoas que aterraram em Roma para participar no Jubileu da Espiritualidade Mariana, decorrido entre 11 e 12 de outubro, um grupo de peregrinos não se deixava passar despercebido. “Nunca mais esquecerei o vosso sorriso”, foram as palavras do Papa Francisco que emocionaram Timor-Leste, e o mundo, durante a sua visita ao país do sudeste asiático. E foi, com esse mesmo sorriso, que os peregrinos timorenses iluminaram as ruas romanas e testemunharam a força de uma fé alegre e ruidosa.
A peregrinação, organizada pelo Centro da Esperança Railaco, nasceu da iniciativa de Nico Lay, fundador da instituição. O seu desejo pessoal de estar presente neste Jubileu transformou-se num impulso comunitário: “Começou como um sonho individual, e acabou por se tornar uma experiência de comunhão para muitos”, contou um dos participantes.
Os 43 peregrinos, que chegaram a Roma dia 9 e regressam a lar a 17 de outubro, viveram uma semana intensa de oração e partilha. Percorreram as Portas Santas, visitaram a Basílica de São Pedro, rezaram junto do túmulo de Francisco, e deslocaram-se a Assis, terra de São Francisco.
Uma vigília pela paz e uma missa de comunhão
Entre os momentos mais marcantes estiveram a vigília de sábado, 11 de outubro, na praça de São Pedro, dedicada ao Rosário pela paz, e a missa de domingo, presidida pelo Papa Leão XIV. Entre cânticos e orações, os timorenses deram voz à sua felicidade e ao fervor de uma esperança que nunca desanima.
“Nunca imaginei que um dia chegaria aqui. Esta é uma graça de Deus”, disse Angelina Saldanha, visivelmente emocionada. “É uma graça rezar o terço com o Papa e participar na missa presidida por ele”. “Viemos pedir a graça, pedir a paz para a comunidade, para a família, para a nossa nação e para os líderes, para que governem o nosso país com tranquilidade e com paz.”
Para Angelina, que guarda uma devoção profunda à Virgem Maria, a experiência teve um significado transformador:
“Maria é Mãe e Maria intercede junto do seu Filho. Rezo sempre a Maria, isto é o mais relevante; rezo de manhã, à tarde, por mim e pela minha família”.
A juventude que acredita
A fé dos jovens timorenses também se fez ouvir. Entre eles, Geraldine Alves, de 16 anos, falou sobre o desafio de viver a fé num mundo digital:
“As redes sociais tornaram-se algo global, que afeta todos os adolescentes. Os jovens estão a afastar-se e a perder um pouco a fé”, reconheceu em inglês. “Mas experiências como esta – participar no Ano jubilar, ou outros eventos religiosos – podem ajudá-los a aproximarem-se de Deus”. “Estes eventos dão-nos coragem para partilhar a fé com quem não a tem”.
Para Geraldine, esta viagem foi também uma oportunidade de reencontro com a memória do Papa Francisco, que visitou Timor-Leste em setembro de 2024, por ocasião da sua 45ª Viagem Apostólica internacional.
“Eu estava entre o grupo de jovens que o acolheu quando ele veio ao nosso país, no ano passado. Ver dois Papas na minha vida é inesquecível e uma memória magnífica; a jornada mais relevante na minha vida”.
Geraldine diz querer levar de volta a experiência vivida:
“Eu vou adorar partilhar esta jornada não só com a minha família, mas também com os meus amigos e pessoas que conheço no meu país”. “Espero poder voltar daqui a 25 anos; e quero contar-lhes sobre as Portas Santas que visitámos, a belíssima arquitetura, os lugares religiosos e históricos. Vou falar-lhes daquilo que experienciámos aqui”.
A peregrinação como caminho interior
O padre Mariano Maia – ou Amo Mariano, como os peregrinos o chamam, entre sorrisos largos e cumplicidade – é sacerdote da Arquidiocese Metropolitana de Díli e acompanha espiritualmente o grupo. Vê nesta peregrinação não apenas uma viagem, mas um caminho de crescimento humano, caracterizado por três pontos crucias: “conversão”, “peregrinação” e “caridade”.
“A conversão abre o coração ao mundo novo da fé”; “a peregrinação é deixar o nosso lugar para ingressar noutro, onde podemos obter novas experiências, sobretudo a experiência da fé católica”; e “a caridade é o mandamento maior de Jesus Cristo: amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a nós mesmos”, explicou.
Para o sacerdote, o Jubileu representa, também, uma escola de comunhão:
“É este valor de comunhão que eu vou partilhar e evangelizar na minha terra natal, porque a comunhão faz a força, a comunhão unifica e orienta profundamente a fé em Jesus Cristo, como nosso salvador, para o corpo e a alma”.
Recordando a visita do Papa Francisco a Timor-Leste, o padre Mariano destacou a imenso fé do seu povo e como a esperança, tema central do Ano Santo de 2025, continua a ser o guia dos seus dias:
“Com a visita de Sua Santidade, o Papa Francisco, ele testemunhou a realidade da fé católica em Timor-Leste: um povo simples, mas de grande fé”. “A esperança é crer naquilo que não podemos ver, mas existe. A esperança guia-nos para uma realidade à qual a razão não responde, mas a fé dá sempre a solução, orienta, guia”.
Um povo que reza com o coração
A fé ocupa, portanto, um lugar central na vida social e cultural de Timor-Leste, onde mais de 95% da população é católica. Desde a independência, a Igreja tem desempenhado um papel determinante na promoção da paz e as orações que os peregrinos trouxeram a Roma refletem essa História: pedidos de reconciliação, de estabilidade e de sabedoria para os governantes.
Entre cânticos em tétum e orações em português, o grupo timorense viveu o Jubileu como uma extensão da sua própria identidade: uma fé feita de simplicidade, perseverança e uma felicidade contagiante. Recordando, como, frequentemente, dizia o Papa Francisco – cuja memória iluminou de forma marcante esta peregrinação -, que “a esperança não desilude”