Sábado, 5 de setembro é Dia da Amazônia. A Igreja naquela região, segundo dom Neri Tondello, bispo de Juína, no Mato Grosso, precisa se identificar e assumir a realidade local e, por isso, não deve ser uma “Igreja de visita” ou “importada”, mas “próxima e enraizada”, com o Evangelho como “ponto de equilíbrio e resistência para as ameaças que vêm do mundo”. O Pe. Júlio Lancelotti, de São Paulo, também acredita que “a Igreja não tem porvir se não for servidora dos povos da Amazônia”.
Andressa Collet – Vatican News
Um dos patrimônios naturais mais valiosos da humanidade está prestes a ser celebrado: no próximo sábado, 5 de setembro, é o Dia da Amazônia. Em véspera de valorização à maior floresta tropical do planeta, porém, é preciso partir da conscientização da sociedade diante das ameaças a esse bioma – sobretudo em período de pandemia. A Conferência Eclesial da Amazônia criada recentemente e que integra todos os possíveis serviços e ministérios – padres, bispos, cardeais e leigos – é uma postura corajosa da Igreja para ouvir os clamores daquela região e em colóquio com os povos originários, indígenas, ribeirinhos e quilombolas.
Entre os representantes dos episcopados da Pan-Amazônia que fazem parte da conferência, representando os bispos brasileiros está dom Neri Tondello, bispo de Juína, no Mato Grosso. Ele acredita que a Igreja precisa realmente incrementar o rosto amazônico, do jeito certo, com todas as problemáticas enfrentadas, sem ser “uma Igreja de visita”:
“A Igreja, ela precisa viver na Amazônia. Se é um banco de prova (para a Igreja do Brasil como disse o Papa em encontro com episcopado local em 2013, no Rio), nenhum missionário deve estar com a mala pronta para se mandar. Me parece que a Igreja da Amazônia foi uma Igreja em que nós demos pouco conta das possibilidades locais de evangelização. O rosto amazônico tem que ser incrementado, por isso se trata da Igreja que se sinta de fato encarnada, do jeito certo. A Igreja na Amazônia tem o rosto próprio, ela sabe quais são as problemáticas que ela enfrenta. E aí é que eu me refiro: se ela é uma Igreja que se prolonga e é permanente ali, não é uma Igreja de visita, essa Igreja vai assumir exatamente a postura necessária para se identificar com a realidade. Consequentemente, o Evangelho vai ser um ponto de equilíbrio, ponto de resistência para todas as ameaças que vêm do mundo. A Igreja não pode ser uma Igreja visitadora, tem que ser uma Igreja permanente, uma Igreja próxima e que está enraizada ali. Por isso, para ser enraizada, tem que ser mais inculturada. Inclusive os ministérios na Igreja têm que vir da própria região, porque ela tem os gritos, os apelos, e também vai suscitar as respostas. E uma Igreja importada não é tanto assim, não; ela pode servir, fazer muito, mas, dia menos dia, os missionários de fora são transferidos para outros locais. Agora, os missionários locais, nascidos ali, eles vão conseguir fazer muito mais no que diz no cuidado com a natureza, com o meio ambiente, e aquilo que é de direito dos próprios povos originários que ali moram desde sempre.”
Igreja servidora da Amazônia
O Pe. Júlio Lancelotti, que trabalha na causa da população de rua de São Paulo, está fisicamente distante da Amazônia, mas se diz em aliança à Igreja em defesa aos povos originários daquela região:
“Nós temos que ter essas causas na nossa mente, nós não podemos nos pensar sem pensar a Amazônia. O Brasil não tem identidade sem os povos da Amazônia. A história do Brasil é incompreensível sem os povos da Amazônia. E o Brasil não tem porvir, nem a América Latina, nem o mundo, sem os povos da Amazônia. E a Igreja, ela também não tem porvir se não for servidora dos povos da Amazônia. Eu acredito que a exortação pós-sinodal ‘Querida Amazônia’ é importantíssima para que seja incorporada. Nós não vivemos na Amazônia, mas nós vivemos com a Amazônia e vivemos pela Amazônia. Eu não estou geograficamente lá, mas a Amazônia está comigo.”
Colaboração: Pe. Luis Miguel Modino