É um prémio merecido, concordam poetas e escritores que se sentem de algum modo também premiados na pessoa de Ana Paula Tavares. Unanimidade e regozijo perpassam as redes sociais com escritos a pôr em realce a qualidade da obra poética da galardoada, a sua simplicidade e coerência entre a vida e os valores professados. E ela confessa que são as inquietações da África e de Angola que a movem para a poesia.
Dulce Araújo – Vatican News
“(What a joyful day!) – A poeta, historiadora, antropóloga e professora angolana Ana Paula Tavares, autora de uma fecunda criação estética, assim como de textos científicos de referência, venceu a 37.ª edição do Prémio Camões. A escolha de 2025 é jubilosa. No ano passado foi distinguida a poeta brasileira Adélia Prado. Estou em estado de poesia e em transbordante felicidade!”
Foi assim que o poeta cabo-verdiano, Filinto Elísio, acolheu, quarta-feira, 8/10/25, a notícia da atribuição do Prémio Camões a Ana Paula Tavares.
E no habitual programa semanal da Rádio Vaticano “África em Clave Cultural: personagens e eventos” de que é parceiro, justifica essa felicidade pondo em realce as características estéticas e temáticas da poética da galardoada: africanidade, angolanidade, filão feminino tanto do ponto de vista existencial como antropológico.
Ele regozija-se também por o Prémio ter contemplado, pelo segundo ano consecutivo, a poesia e, como poeta e escritor, sublinha: “Todos nos sentimos premiados em Ana Paula Tavares.”
Coerência entre o que pensa e o que faz
Outro intelectual que exprime regozijo pela atribuição do Prémio Camões a Ana Paula Tavares é o conhecido ativista dos Direitos Humanos, em Lisboa, Mamadou Ba. No seu post no fb escreve:
“Ana Paula Tavares pertence a uma espécie humana rara, quase em vias de extinção, precisamente pelos valores que a distinguem do comum dos mortais. distante dos holofotes e do ruído do circo da fama que corrói a academia, ela impõe-se pela consistência das suas convicções, pela coerência sólida entre o que pensa e o que faz, e por uma inteligência luminosa que se exprime com humildade e generosidade. É essa combinação de grandeza e simplicidade que faz de Ana Paula Tavares uma presença verdadeiramente singular. Ela está de parabéns pelo merecido prémio.”
Palavras com que Filinto Elísio concorda, chamando atenção para a suavidade e a estética com que Ana Paula Tavares aborda, na sua poesia, temas contundentes. “Poesia em pessoa” a define. E recorda, particularmente, a sua qualificada intervenção, com elegância e humanidade, no Festival de Literatura Mundo do Sal, na qual ela participou, em 2024. Para o Filinto, se trata realmente duma escritora-mundo pelo seu “enraizamento na ancestralidade africana, mas rizomática na procura do mundo.”
Continente africano e Angola, motor para a poesia
Em entrevista ao mencionado programa sobre a cultura, a 30 de julho de 2020, Ana Paula Tavares, que é também historiadora e antropóloga, confessou que gostaria de poder dedicar-se inteiramente à poesia e que o que a move para esta arte são as inquietações do continente africano e de Angola e que o filão da mulher na sua poesia tem também a ver com o facto de lhe ser mais familiar, e de volta e meia voltarem à sua mente, questões femininas que no momento não tinha compreendido, e por reconhecer que na fala daquelas mulheres se encontram soluções…
Interpelada se a sua poética e a sua mensagem chegam aos sujeitos e lugares que nela aborda e se ajudam a resolver problemas, diz que não, mas isto “não me impede continuar a escrever ” – afirma, esperançosa de que a das jovens gerações possa ser mais difundida. Aliás, considera que, para ela poesia e mensagem não estão sempre no mesmo patamar. Poesia “é um todo em si” e é isso que procura – assegura.
Em baixo a emissão “África em Clave Cultural: personagens e eventos” deste dia 2/10/25 em que fala também das várias épocas da História angolana da sua especialização, em particular a história colonial e violência em que se traduziu particularmente para os povos Lunda e Chokwe, no Leste de Angola.
Não faltam, na entrevista, referências, com algum riso, a uma das suas obras poéticas (Manual para Amantes Desesperados) e a uma outra obra então na forja.