“O projeto é a demonstração de que onde há boa vontade a mão divina atua. Os desafios são grandes, mas através de sua misericórdia e graça, Deus age para tornar o impossível possível, através de suas obras Ele opera para se fazer conhecer e através disto transformar o mundo num lugar mais fraterno, onde o Amor ao próximo mais que um mandamento seja ação e a vontade dos homens”, diz João Targino, coordenador-geral da Orquestra Criança Cidadã.
Leandro Ávila – Cidade do Vaticano
A música possui um poder transformador e único que sempre tocou a humanidade de várias maneiras. Ela transcende barreiras culturais, linguísticas, raciais, sociais. Quando ouvimos uma obra e seus acordes, sua melodia, seu ritmo, e ela é capaz de nos levar a um outro estagio de sensibilidade, a cor da pele, a classe social, a etnia, o idioma, não mais importam, pois o artista se torna artífice do bonito, que é expressão do próprio de Deus. Através da música, as pessoas encontram esperança, inspiração, além de um senso de pertencimento.
Há momentos na vida e na história, em que arte rompe barreiras sendo voz coerente pela Paz, e um destes momentos terá lugar na Praça São Pedro nos dias 03 e 04 de novembro. A superação diária de uma vida com privações na periferia da Grande Recife se anuncia como sinal de resiliência para impulsionar uma missão pacifista prestes a ser protagonizada por 25 jovens músicos pernambucanos. A comitiva de integrantes da Orquestra Criança Cidadã – um projeto de inclusão social pela música – viaja a Roma para se unir a artistas da Itália, Rússia e Ucrânia sob a esperança de sensibilizar o mundo pelo fim da guerra no continente. Eles estrelam duas apresentações no Vaticano batizadas de Concerto pela Paz com a presença confirmada do Papa Francisco na plateia.
Os meninos e meninas selecionados em Pernambuco residem no Coque, bairro com um dos piores índices de desenvolvimento humano da capital, e em Camela, distrito modesto da cidade de Ipojuca, na Região Metropolitana. Encontraram no aprendizado da música uma brecha social para reduzir o risco de violências, crime, abandono, indiferença pública, falta de perspectivas comum a crianças e adolescentes da mesma faixa etária em localidades pobres. O grupo será acompanhado de cerca de 30 instrumentistas russos, ucranianos e italianos, em um mosaico sonoro montado para dotar o repertório do concerto da mesma pujança transformadora da música nas próprias vidas.
João Targino, coordenador-geral da Orquestra Criança Cidadã, nos fala do Projeto Orquestra Criança Cidadã, e deste momento de música pela paz, junto ao Papa Francisco :
1- O que é o projeto Orquestra Criança Cidadã?
O projeto possui como principal objetivo a inclusão social de crianças adolescentes e Jovens de uma comunitário pobre do Recife Ucoque a época da criação a comunidade ostentava os menores índices de desenvolvimento humano (IDH) e as maiores taxas de violência, haja vista este contexto a finalidade precípua do projeto é formar cidadãos e músicos profissionais. Atualmente são 451 anos com idades entre 7 e 21 anos distribuídos em três núcleos localizados na região metropolitana do Recife que são Ucoque, Ipojuca e Igarassu, na Orquestra Criança Cidadão os alunos recebem aulas de musicalização compreendidas nas classes e flauta doce, teoria musical, solfejo e percepção, também cada aluno tem a oportunidade de se especializar em um dos instrumentos da formação orquestral. O projeto que começou como uma orquestra de cordas e hoje oferece também aulas de instrumentos do naipe das madeiras, metais e percussão. Além do estudo musical a entidade oferece aos seus alunos três refeições por dia, uniformes de uso diário e de gala, acompanhamento pedagógico, psicossocial, bolsa de estudos em cursos de idiomas e no ensino superior além de plano de saúde.
2- Como surgiu a oportunidade deste Concerto pela Paz junto a Ucranianos e Russos?
A Orquestra Criança Cidadã já se apresentou em idêntico evento no mês de outubro de 2014, a oportunidade deste novo concerto surgiu de um colóquio entre mim e Pino Scafuro, mediador da Charis Internacional, no qual sugerir que a Orquestra Criança Cidadã pudesse se expor no evento internacional da Charis que se realizaria em Roma entre os dias 3 e 4 de novembro, desta feita a proposta é que contasse com a presença de músicos russos e ucranianos para revelar a Sua Santidade o Papa Francisco que na arte não há guerra, Pino gostou da ideia e pediu que eu elaborasse uma carta ao Sumo Pontífice que quando apresentada a Sua Santidade teve aprovação, a partir daí houve início verdadeiramente os preparativos para os dois concertos que aconteceram, com 25 músicos brasileiros, 10 italianos, 8 russos e 8 cranianos, nos dias 3 e 4 de novembro próximos no Vaticano.
3- Qual a importância da arte como promotora da paz?
A arte é promotora da Paz na medida em que é capaz de colocar povos de nações em conflito como Rússia e a Ucrânia lado a lado sem que se olhem como rivais, mas como irmãos em Cristo, que todos somos.
4- O que significa a estes jovens de realidades muitas vezes difíceis estar inseridos no mundo através da música?
Significa serem valorizados como cidadãos a Orquestra Criança Cidadã se serve do talento conferido por Deus a essa garota pobre e bens materiais, porém muito rica dons para conferir a clara oportunidade de incutir-lhes os nobres valores e os ensinamentos necessários que os farão inicialmente bons cidadãos e em seguida profissionais da música.
5- Algo que queira acrescentar?
O projeto é a demonstração de que onde há boa vontade a mão divina atua. Os desafios são grandes, mas através de sua misericórdia e graça, Deus age para tornar o impossível possível, através de suas obras Ele opera para se fazer conhecer e através disto transformar o mundo num lugar mais fraterno, onde o Amor ao próximo mais que um mandamento seja ação e a vontade dos homens.
O concerto
O repertório escolhido por José Renato Accioly, Lanfranco Marcelletti Jr., aos quais caberá a regência dos concertos, e por Guilherme Teixeira, com sugestões da Fondazione Calvasassi, conta com representantes de todos os países envolvidos. Em homenagem aos cidadãos cujas histórias de vida estão sendo abaladas diretamente pelo conflito, figuram o russo Sergei Rachmaninov e o ucraniano Mykola Leontovich. O italiano Antonio Vivaldi e o argentino Astor Piazzolla, em tributo ao Papa, também foram selecionados. Do Brasil, aparecem Heitor Villa-Lobos, Ary Barroso e o pernambucano de Caruaru Clóvis Pereira, atualmente com 93 anos, de quem foram escolhidas as “Três peças nordestinas”, relevante produção musical do Movimento Armorial.
Dois pontos altos do concerto devem ser quando musicistas russos e ucranianos ficam frente à frente para momentos solo. O primeiro com um violinista de cada país na ária “Erbarme dich, mein Gott”, parte do oratório “Paixão segundo São Mateus, BWV 244”, do alemão Johann Sebastian Bach. No encerramento, um quarteto formado por integrantes dos países em guerra executará o célebre tango “Por una cabeza”, do francês radicado na Argentina Carlos Gardel com Alfredo Le Pera.
Apesar de ser a primeira experiência internacional de alguns integrantes, a Orquestra Criança Cidadã já acumula no currículo apresentações nacionais e internacionais, em países como Alemanha, Portugal, Estados Unidos, Itália, Argentina, China e Israel. Os convites são respaldados pela qualidade artística do grupo e pelo alcance do trabalho de responsabilidade social do projeto gerido pela Associação Beneficente Criança Cidadã (ABECC), presidida por Myrna Targino.
Idealizada em 2006 pelo juiz João José Rocha Targino em parceria com o maestro Cussy de Almeida (1936-2010) e o desembargador Nildo Nery dos Santos (1934-2018), a Orquestra Criança Cidadã é incentivada pelo Ministério da Cultura através da Lei de Incentivo à Cultura e com patrocínio master da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal.
“Vivendo e agindo é que o homem estabelece a sua relação com o ser, a verdade e o bem. O artista vive numa relação peculiar com a beleza. Pode-se dizer, com profunda verdade, que a beleza é a vocação a que o Criador o chamou com o dom do « talento artístico ». E também este é, certamente, um talento que, na linha da parábola evangélica dos talentos (cf. Mt 25,14-30), se deve pôr a render”. São Joao Paulo II.