A província de Nampula, a mais populosa de Moçambique, enfrenta uma crise grave de desnutrição crónica entre crianças, com uma taxa de 46,7% em menores de cinco anos, apesar de ser o maior produtor agrícola do país.
Cremildo Alexandre – Nampula, Moçambique
Nampula, considerada o celeiro agrícola de Moçambique, carrega uma dura realidade: lidera as estatísticas nacionais de desnutrição crónica infantil. Segundo dados apresentados durante a primeira Conferência Internacional sobre Nutrição e Agronegócios, 46,7% das crianças menores de cinco anos na província sofrem de desnutrição crónica — uma condição que pode levar facilmente ao raquitismo e a deficiências cognitivas graves.
Na sua homilia durante a celebração dos 75 anos da Paróquia do Imaculado Coração de Maria de Anchilo, o Arcebispo de Nampula, Dom Inácio Saúre, não escondeu a sua preocupação: “Foi dito aquilo que nos deixou preocupados: que a nossa província de Nampula bate o recorde em desnutrição das crianças, porque 47% das crianças sofrem de desnutrição crónica. E a desnutrição crónica leva facilmente a criança àquilo que em português se chama raquitismo (…). É preciso, então, trabalhar para que, de facto, esta situação mude. Porque, se não muda, vale a pena só saber que há esse problema e depois continuamos na mesma?”
Com 6,7 milhões de habitantes, Nampula apresenta ainda uma taxa de baixo peso à nascença de 2,9% e de desnutrição aguda de 9,1%. Para Dom Inácio Saúre, a indiferença diante do sofrimento dos mais frágeis é um dos maiores pecados sociais: “Por causa dessas injustiças, por causa da não partilha do pão, por não prestarmos atenção aos infelizes, há muito descontentamento, há muito mal-estar.”
Organizações governamentais e eclesiais são agora desafiadas a reforçar a resposta integrada para erradicar a fome e garantir dignidade às crianças. O apelo é claro: fazer da partilha e da justiça sinais concretos de um coração solidário — tal como o Imaculado Coração de Maria, modelo de cuidado e esperança para todo o povo moçambicano.