“Quando vemos a fumaça branca e o sino toca, é como quem diz: ‘O pai voltou!'”, recorda sacerdote gaúcho

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A fumaça branca e o sino que toca, “não tem como não ser emocionante aquela hora, porque quem está ai vibra do seu jeito. A gente via pessoas pulando, pessoas correndo para um lado e para o outro. Adultos pareciam que estavam de fato virando crianças novamente, como se realmente dissessem: ‘O pai voltou para lar'”. É uma experiência que eu nunca tinha experimentado. Ademais, o Papa trouxe ao mundo uma palavra vocacional muito relevante. Podemos tomá-la e repeti-la aos jovens: Não tenham medo!

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Sacerdote e jornalista, uma dupla vocação que permitiu ao Pe. Elton Bussolotto Aristides testemunhar e lançar um olhar especial aos históricos eventos destes dias, envolvendo a eleição de Leão XIV.  

Pároco da Paróquia Sagrada Família, em Caxias do Sul (RS), o sacerdote tem sob sua responsabilidade um rebanho de 50 mil almas, além de ser capelão do Hospital Geral. O Conclave fez com que antecipasse sua vinda a Roma e também resgatasse sua paixão pela comunicação, fazendo a cobertura jornalística para emissoras da região da Serra gaúcha e do sul do Estado do Rio Grande do Sul.

Na visita à Rádio Vaticano/Vatican News, o sacerdote de origem italiana falou da sua experiência destes dias – compartilhada também por fiéis e profissionais da comunicação de várias partes do mundo -, e destacou os momentos mais relevantes do novo Pontífice:

Clique para ouvir a entrevista com o Pe. Elton!

Vocação ao sacerdócio e à comunicação…

Então, eu estou realizando um curso agora durante estes dias, essa semana, e por causa do Conclave eu consegui antecipar também a minha vinda aqui para Roma e auxiliar também algumas emissoras locais lá da região da Serra, do Rio Grande do Sul, também da região sul do Estado. Eu tenho formação como jornalista, então foi uma oportunidade tanto para eu poder voltar à origem, de exercer um pouco esta vocação da comunicação, e ao mesmo tempo, como padre foi uma experiência muito relevante estar aqui e acompanhar pela primeira vez um Conclave. Então, é uma oportunidade em que, eu diria, uma grande experiência por poder ver pessoas aqui realmente do mundo inteiro, que estavam nessa expectativa. Tanto pelo Conclave, pela escolha do novo Papa, mas também pelo Jubileu da Misericórdia [Jubileu da Esperança ndr]. Que ainda agora a gente vê muitas peregrinações, muitos grupos que passam aqui pela Via della Conciliazione para chegar até a Basílica de São Pedro e ali receber também a indulgência, claro, depois do Sacramento da Reconciliação e das orações. Mas foi de fato para mim uma grande experiência, uma oportunidade, como eu dizia, de poder retornar ao trabalho ativo da comunicação na rádio e ao mesmo tempo participar desse momento que é histórico para a Igreja.

Pe. Elton em espaço reservado para os jornalistas no alto da Colunata de Bernini

Pe. Elton em espaço reservado para os jornalistas no alto da Colunata de Bernini

Como sacerdote e jornalista, qual seu olhar para todos esses acontecimentos…

Eu vejo que, o que aconteceu aqui, e é, como eu falava, é um momento histórico para nós, ele é muito relevante, porque cada vez mais a comunicação ela está instantânea. E eu escutava de algumas pessoas dizendo: “Padre, por exemplo, nós nunca tínhamos visto o início do Conclave, aquele momento em que as pessoas puderam acompanhar pelas redes sociais, pela televisão, por exemplo, o juramento dos cardeais, aqueles ritos iniciais. Então, foi e está sendo uma forma também das pessoas, dos fiéis, estarem ainda mais próximos da vida da igreja, de poderem contemplar aquilo que por talvez, por muitos anos, ou por toda a sua vida, eles imaginavam como era e agora podem ver e participar. Então, como padre também para nós é relevante, porque por mais que a gente estude o rito, conheça um pouco, nós também, claro, naturalmente, nunca tivemos a oportunidade de ver. E estar aqui, e na praça escutando também esses relatos, para mim como jornalista então foi muito relevante, de poder levar informação no momento em que ela está acontecendo mesmo. Tanto pelos vídeos que a gente grava, pelas Lives que a gente realiza nas redes sociais, pelo Instagram e hoje é tão fácil enviar uma informação pelo WhatsApp, em poucos segundos já está no ar em qualquer lugar do mundo. Eu diria que, o que aconteceu aqui, foi de fato algo grandioso. Porque, como jornalista, ali estando na Sala de Imprensa, a gente via pessoas do mundo inteiro que estavam juntas, unidas pelo mesmo objetivo. Cada uma falando a sua língua, cada uma com a sua missão, com o seu veículo próprio, alguns de rádio, televisão, jornal, internet, enfim, mas todos com o mesmo objetivo, de acompanhar o que está acontecendo e levar essa informação para todo o mundo. Então, foi para mim esta dupla experiência e oportunidade, diria também uma graça de poder estar, ver, presenciar e até depois, mesmo os paroquianos, lá de onde eu trabalho, poderiam relatar e dizer: “Padre, que bom que o senhor está aí, que pode ver o que está acontecendo, né? O senhor está tendo essa oportunidade e porque não até nos representando também ali enquanto paróquia, enquanto Igreja”. Então, de fato, o que aconteceu, o que foi e continua sendo muito especial.

O que se passava dentro do seu coração, primeiro como testemunha de todo esse momento histórico para a Igreja e para o mundo inteiro e também narrar esses acontecimentos para as tantas emissoras para as quais o senhor transmitiu. Qual era o sentimento?

Ah, foi muito forte, muito forte! Tanto que, até eu posso contar uma curiosidade. Eu estava com um colega – a gente fala colega, jornalista, enfim, nós nunca trabalhamos juntos, mas ele é também lá da região – e hoje ele, por um problema de saúde grave que ele teve, ele não exerce mais ativamente a profissão de jornalista, mas pelas redes sociais dele, ele continua a trabalhando. E no dia da escolha do Papa Leão, nós estávamos ali sentados, conversando, aguardando a fumaça branca e eu dizia para ele: “Olha, pelo horário provavelmente a escolha vai ser agora só na votação do final da tarde”. Já eram 6 e pouco da tarde. Eu disse: “Olha, provavelmente ainda não tá escolhido, vamos aguardar”. “Eu vou tomar um café, tá um pouquinho frio agora, vou tomar um café e eu já volto”. E fui ali mesmo próximo de onde eu estava, tomar o café e de repente se ouviu o pessoal vibrando. E inclusive um dos donos ali do café, ele é brasileiro, ele é paranaense e aí ele me disse: “Padre, vai! Nem precisa pagar, vai ver o que está acontecendo!” Inclusive hoje eu fui lá pagar ele (risos). Ele disse: “Não, o café é presente, padre”. Mas assim, foi sensacional, porque algo que primeiro, naquele momento, ninguém esperava. Era quase que unânime que aquela decisão ainda não viria naquela hora, mas nos pegou de surpresa e, por óbvio, uma surpresa extremamente agradável. Então, quando eu vi, de fato a fumaça branca, então eu me desloquei até aonde eu estava fazendo esse trabalho, acima de uma colunata, num lugar um pouco mais alto, para poder ter essa visão também, tanto da praça como ali, da onde o Papa depois apareceu, ali do balcão. E aí, quando começou a tocar o sino e ver a fumaça, eu me emocionei. Eu fiquei muito emocionado porque eu estava presenciando de fato algo que é extremamente marcante para a história de uma Igreja, a eleição de um Papa. Porque até alguém me dizia assim: “A sensação que a gente tem quando, por exemplo, o Papa Francisco partiu, é como se nós fiéis tivéssemos perdido um pai. E é aquela sensação, porque não, mesmo que de uma outra maneira, evidente, mas de estarmos órfãos naquele momento, até que aconteça a escolha do novo. E no momento em que nós vemos a fumaça branca e o sino toca, é como quem diz: “O pai voltou”. Temos novamente o pai aqui. Então não tem como não ser emocionante aquela hora, porque quem está ali vibra do seu jeito. A gente via pessoas pulando, pessoas correndo para um lado e para o outro. Adultos pareciam que estavam de fato virando crianças novamente, como se realmente dissessem: “O pai voltou para lar”. Então é uma experiência assim, para mim, que ainda posso me considerar jovem, que eu nunca tinha experimentado isso, nunca. Aí no momento em que o Papa então apareceu, Papa Leão XIV apareceu ali no balcão e nós o conhecemos, então, eu acho que foi uma dupla emoção, tanto a dele, que a gente via pelas imagens, os seus olhos com lágrimas, como nossa também, de poder conhecer, então, aquele que vai estar à frente, nos guiando. Então, realmente foi uma emoção muito forte. E mesmo no Angelus depois, aliás, a gente tem o costume de chamar de Angelus pelo horário, né, mas é foi o Regina Coeli por estarmos no Tempo Pascal. E no Regina Coeli de domingo, também me emocionei. De fato, assim, o Papa, ele tem demonstrado um afeto, um afeto e isso ele deixa transparecer pelas suas palavras, pelas suas feições, pelo seu sorriso, por vezes até discreto, mas que ele demonstra ser de fato alguém que está diante de uma missão extremamente grande, claro. Eu até dizia para algumas pessoas, talvez para ele mesmo ainda vai alguns dias ainda para perceber a grandiosidade da missão, mas como ele está sendo guiado por Deus e pelo Espírito Santo, certamente ele vai abraçar, como já abraçou e está abraçando essa missão, com muito amor. E aí a gente consequentemente se emociona com tudo isso.

No Dia das Mães, a celebração em capela da Basílica Santa Maria Maior

No Dia das Mães, a celebração em capela da Basílica Santa Maria Maior

Estamos vivendo o Tempo Pascal e foi algo muito interessante que num breve espaço de tempo se foi do choro, das lágrimas, do luto pela perda do Papa Francisco para alguns dias depois ter essa explosão de felicidade, esse reviver a festa da Ressurreição de Cristo, a Páscoa….

É verdade, e eu confesso que eu pensava naquele momento no Papa Francisco também. Porque ele do seu jeito, ele também era uma pessoa muito afetuosa, muito querida. Aliás, eu diria que uma das características dele que, que escutando as pessoas ali na praça todas falavam é: “Espero que o próximo Papa seja como o Papa Francisco”, pela sua proximidade, pelo seu afeto, pelos abraços, pelo afeto. Então, eu pensava assim: o Papa Francisco também certamente está feliz com tudo isso que acontece. Ele lá do Céu também agora com a missão de interceder por nós aqui, ele está feliz. E nós, então, nem se fala. Bem disseste, daquele espírito da tristeza, do ter que dizer adeus, mas ao mesmo tempo, eu diria que com esse devido respeito dizer assim: “O pai voltou, a figura paterna voltou”. Isso é muito relevante para nós, assim como para qualquer família, aliás. Hoje em dia, inclusive, existe no mundo essa, se pode dizer até um certo ataque à figura paterna, de que ela não seria necessária, de que ela não é relevante e a gente sabe o quanto ela é necessária e relevante. Nós sabemos disso. Inclusive para nós, enquanto igreja. Tendo o Papa à frente, conduzindo, demonstrando, sendo presença, isso para nós é muito relevante. É alguém que a gente vai olhar e vai ter como um espelho. Como faz uma criança que olha para o seu pai e diz: “Quero ser assim”. E a figura do Papa não é diferente. Nós cristãos olhamos todos para ele e dizemos assim: “Nós queremos na forma dele de agir, na sua fé, no seu testemunho, também sermos como ele”. Então, foi de fato assim um momento de muita felicidade.

Da saudação do Papa Leão XIV à cidade de Roma e ao mundo, seguida da sua benção, naquele histórico 8 de maio, suas palavras no domingo no Regina Coeli, a homilia na Missa com os cardeais na Capela Sistina no dia anterior, o encontro com os jornalistas na Sala Paulo VI… O que o senhor destacaria …

Eu percebo que uma das primeiras preocupações é colocar em prática aquilo que os cardeais, juntos, no último dia da reunião na Congregação, assim chamada, para preparação do Conclave publicaram naquela nota, depois publicada pela Santa Sé, da preocupação pela paz no mundo. Então, eu diria que a primeira palavra dele foi a continuidade daquele desejo coletivo dos cardeais. A paz! Acho que uma das palavras que ele repetiu com muita assiduidade foi essa. Depois, de não ter medo das realidades do mundo. “Não tenham medo!”, ele repetiu várias vezes, inclusive para os jovens. Não tenham medo, porque o mal não vai prevalecer. Não tenham medo de escutar a palavra da Igreja, não tenham medo de escutar a palavra do Senhor. E claro, domingo agora, quando ele rezou pela primeira vez aqui na Praça o Regina Coeli, era o domingo do Bom Pastor, inclusive ele fez menção a isso, e também o dia em que nós rezamos pelas vocações. E eu diria assim, que o Papa ele trouxe ao mundo uma palavra vocacional muito relevante agora, no qual inclusive nós padres, religiosos, religiosas, nós podemos, ao ouvir essa palavra, tomá-la para nós e dizermos, repetirmos para os jovens: Não tenham medo! Não tenham medo! Assim como em qualquer vocação existem as dificuldades, as provações, os medos, naturalmente, que tem, claro, né, os receios, mas não que o medo deva nos paralisar ou impedir de que a gente assuma a nossa vocação ou, ainda mais, eu diria, assumir essa resposta para Deus. Então, eu assinalo, sim, de várias palavras que o Papa citou: a paz em primeiro lugar. Depois, de que nós não tenhamos medo frente à vida, sejam quais forem as provações e realidades e também, eu dizia uma das maneiras que ele já de forma muito afetuosa recordou que era Dia das Mães também, de rezar, de pedir e de fazer menção à Nossa Senhora como nossa mãe. Então, para mim, como padre, as palavras primeiras que ele proferiu são importantíssimas. E repito, como eu dizia: este chamamento vocacional, ele é extremamente forte. Por quê? Hoje, como refletíamos, a instantaneidade nos ajuda a chegar em lugares que antes nós não tínhamos acesso ou que era muito difícil. E hoje é fácil. Então, um jovem que de repente está lá no interior, num lugar onde por vezes tem Missa uma vez por mês, que não tem contato frequente com os padres, com as religiosas, os religiosos, mas que é alguém que daqui a pouco já passou por algum instante na sua ideia, no seu coração, por que não ser padre? Que essa pessoa, que esse jovem, que essa criança possa acolher essa palavra do Papa no coração e dizer assim: para ela mesmo: “Coragem, eu vou. Eu vou experimentar”. Que foi o que fizeram os apóstolos também. Eles também, quando foram convidados pelo Senhor, também tiveram medo. É natural, isso é humano, mas eles foram. Eu acho que a palavra do Papa Leão XIV, por tempo atual, de dizer: “Não tenham medo!” ela, ela, ela vai depois passar por todas as instâncias da vida, e principalmente pela vocacional, de acolhermos, de assumirmos a nossa vocação e lá na paróquia mesmo, eu com assiduidade digo prá gurizada: “Vamos lá, quem sabe vocês não gostariam também de ser padres, de fazer uma experiência, ou de serem irmãs, de conhecerem a vida religiosa. O mundo hoje precisa também desse aspecto. Precisa também da presença de Deus através de homens e mulheres que possam dedicar sua vida nesse ministério, nessa vocação. Então, não tenham medo, assumam, acolham e porque certamente Deus nos dá a força e nos dá a graça de podermos realizar mesmo com as nossas fraquezas humanas, com a nossa realidade humana, podermos realizar fielmente a nossa vocação”.

Como sacerdote, quais os seus votos para o Pontificado de Leão XIV?

Eu desejo que ele possa, sendo conduzido pelo Espírito Santo, ser esta voz forte e ativa no mundo, sendo uma voz de reconciliação, uma voz de paz, que ele possa hoje, no meio da modernidade, ser representante de Cristo, segundo foi a vontade dele também quando chamou os apóstolos para levarem adiante a sua missão, ele possa exercer plenamente esse ministério, o seu pontificado, sendo a voz de Deus aqui no mundo, onde tantas vozes hoje falam, tantas vozes, que por vezes querem nos afastar de Deus, do caminho da salvação. Desejo profundamente que o Papa possa guiado, abençoado por Deus, realizar plenamente essa missão e consequentemente ser feliz, feliz no meio do povo que já de antemão o ama muito.

Ao se expor ao mundo, Papa Leão XIV não esqueceu do rebanho que pastoreou no Peru, dirigindo-se a eles em espanhol. Peço então que o senhor também envie uma mensagem aos seus paroquianos de Caxias do Sul…

Desejo que o Senhor também os abençoe, que o Senhor possa ir conduzindo a vida de todos, e acima de tudo, acolhendo essas mensagens, essas palavras do Santo Padre nesse início de pontificado, que nós juntos, quer aonde nós estejamos, realizando a missão que a gente realize, sejam as lideranças leigas, as catequistas, as zeladoras de capelinha, os ministros da Eucaristia, enfim, todas as pessoas que de uma forma disseram sim ao Senhor e também aqueles vocacionados, aos chamados que nós nos sintamos unidos nessa grande missão. Lembrando aquilo que São Paulo nos fala na Sagrada Escritura: Somos um corpo todos nas suas diversas dimensões, nas suas vocações, nos seus ministérios e no seu jeito de ser, cuja cabeça é Cristo. Então, que a gente tenha também, usando, parafraseando o Papa Leão XIV, tenhamos força e coragem nas nossas missões e assim desejo que todos recebam também o meu abraço e a benção nesse dia especial.

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