Eliminar as tensões e promover a paz, é o pedido dos líderes religiosos do Quénia, numa declaração conjunta do Grupo de Referência para o colóquio (DRG). Numa conferência de imprensa realizada nesta sexta-feira, 16 de outubro, em Nairobi, os representantes das diferentes confissões religiosas reafirmaram a importância de um colóquio nacional envolvendo todos os quenianos, para se chegar a uma plena reconciliação do País.
Cidade do Vaticano
A preocupação do Grupo, de facto, é que, face às eleições gerais marcadas para 2022, se possa alimentar um clima de conflito e violência, como já aconteceu em 2018. O apelo é dirigido a políticos, religiosos e cidadãos, e destaca alguns possíveis cenários negativos, em caso de falta de paz. O primeiro, lê-se na declaração, é o de “uma crise crónica, em que os conflitos de fundo não são resolvidos, mas permanecem estagnados” em todo o território, levando “à contínua violação dos direitos humanos, à impunidade, ao desprezo evidente do Estado de Direito, bem como à disseminação da corrupção, sem qualquer reforma”.
Actualmente, explicam os líderes religiosos, o Quénia está vivendo esta situação, mas está cada vez mais próximo o cenário número dois, ou seja, o da “recaída no conflito”: de facto, caso saltassem os acordos firmados entre o presidente em exercício, Uhuru Kenyatta e o líder da antítese, Raila Odinga, surgiriam os milícias clandestinas, se enfraqueceriam as instituições sociais e se arriscaria a anarquia.
colóquio inclusivo
O terceiro cenário, pelo contrário, é aquele que o Grupo de Referência para o colóquio (DRG) indica como uma “situação ideal”, porque permitiria obter “um colóquio inclusivo, a resolução dos frequentes conflitos entre as comunidades e as reformas eleitorais”, necessárias para se chegar a “eleições credíveis, livres, justas e transparentes”. A este respeito, os líderes religiosos recordam a “Iniciativa para construir pontes” (Bbi, sigla em inglês), lançada depois do acordo entre Kenyatta e Odinga: ela “está destinada a trazer mais divisão que unidade” – lê-se ainda na declaração conjunta – se se continuar a discuti-la do ponto de vista apenas político, e não do conteúdo.
Luta à impunidade e corrupção
Outro ponto seguro e que o Grupo de referência recorda é “a luta à gritante impunidade que está na base da corrupção no País”. “Não existe justiça na corrupção”, reitera o organismo, exortando o Presidente Kenyatta “a estabelecer um amplo processo consultivo para desenvolver uma estratégia de erradicação” deste flagelo a nível nacional.
Pandemia empobreceu mais de 45% da população
Olhando, pois, para o difícil contexto da pandemia de Covid-19, os líderes religiosos recordam que ela “empobreceu mais de 45 por cento da população” e isso significa “que há mais cidadãos pobres, desesperados, famintos e furiosos, ou seja, ingredientes poderoso para um conflito explosivo”. Além disso, o DRG diz de estar preocupado com alguns episódios recentes em que as forças de segurança impediram as actividades nos lugares de culto: trata-se de “acções inadequadas de que pedimos a cessação imediata”, afirmam os líderes religiosos, reiterando que “as leis e a ordem pública devem ser aplicadas da mesma forma para todos”. Do mesmo modo, o Grupo recorda aos líderes religiosos de “manter a sacralidade dos lugares de culto”, sem utilizá-los “para outras finalidades”, como por exemplo a propaganda política.
Evitar de gerir eleições como uma emergência
Os líderes religiosos pedem, em seguida, que os quatro cargos ainda vagos na Comissão Eleitoral sejam preenchidos e recomendam que os funcionários desse organismo actualizem constantemente os cidadãos sobre os preparativos eleitorais. Aquilo que se deve evitar, de facto, é “gerir as eleições como se fossem uma emergência”. “A justiça é o fulcro da humanidade e de uma nação estável – continua a declaração conjunta – mas a justiça depende da verdade. Abracemos, pois, todos a a verdade e resistamos aos que difundem mentiras”.
Criado em 2016 para assegurar eleições livres, pacíficas e credíveis em 2017, o DRG trabalha para promover a boa governanção, a paz, a coesão e a estabilidade no Quénia. Presidido pelo arcebispo católico de Mombaça, D. Martin Kivuva, o Grupo é composto por representantes de diversos organismos religiosos do Quénia, entre os quais a Aliança Evangélica, o Conselho Hindu, o Conselho Nacional das Igrejas, os Adventistas do Sétimo Dia e o Conselho Supremo dos muçulmanos.