O encontro contou com a presença do bispo de Santa Cruz, que também atua como presidente da REPAM Bolívia, dom René Leigue, além de líderes indígenas da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, que iniciaram a análise de casos de violações dos direitos humanos nos territórios.
Equipe de Comunicação da REPAM
“A escola é relevante porque os participantes de diferentes países permitirão que a Igreja local ouça as dificuldades e vivências que ocorrem em outros lugares em relação aos Direitos Humanos. A esperança é que a realidade melhore”, afirmou dom René Leigue no início desta nova edição da escola de Direitos Humanos da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM).
A coordenadora da escola, Lily Calderón, explicou que atualmente a Igreja Católica está comprometida com a defesa e o acompanhamento dos 410 povos que vivem na Amazônia e suas lutas. Carmen Santolaya, representante de Projetos da Manos Unidas para Bolívia e Colômbia, explicou que a organização não governamental espanhola, que está financiando esta edição da escola, cumpre os sonhos ecológico, cultural e social expressos na Encíclica “Laudato si”, do Papa Francisco.
A organização identificou os problemas mais preocupantes de ataques à Amazônia e aos direitos humanos dos defensores, considerando que os problemas de cada país são específicos, mas também similares. “Estamos lutando contra forças extrativistas que já dividiram a Amazônia, pecuaristas que invadem reservas florestais, a cumplicidade dos governos, a extração de ouro com dragas que envenenam os rios”, denunciou a coordenadora da Manos Unidas.
Caso do Brasil
No caso do Brasil, os líderes representantes detalharam a situação da reserva Jaci Paraná, no estado de Rondônia, uma área de 197.364 hectares, onde as famílias realizavam atividades tradicionais de coleta de borracha, castanha, açaí, com planos de agricultura familiar e conservação da floresta. Os moradores da reserva sofreram ataques e ameaças de morte por parte de madeireiros, com o intuito de expulsá-los do território. Atualmente, a categoria de reserva já não existe, e as hectares foram totalmente desmatadas e transformadas em terras para pecuária.
Os líderes que apresentaram o caso explicaram que a motivação das invasões é econômica; o valor da madeira e o aumento dos preços das matérias-primas agrícolas, como a soja e a proteína animal, fazem com que bandos armados intervenham e expandam a fronteira agrícola. “Temos apenas o acompanhamento da REPAM”, explicaram.
Caso da Venezuela
Dois representantes da Diocese de Guayana denunciaram a presença de exploração ilegal de mineração em fontes de água, praticada por estrangeiros do Brasil e da Colômbia. Também foi detalhado que o governo da Venezuela concedeu permissões a empresas transnacionais da China e da Rússia, por meio de alianças com empresas venezuelanas ligadas ao próprio governo, conforme explicaram.
Há um tráfico de produtos ilegais, e na região não circula a moeda venezuelana, mas sim pepitas de ouro, dólares e reais. A liderança é baseada na violência, e as principais afetadas são as comunidades indígenas. “Além do governo, que sustenta esse tipo de negócio, há grupos armados paramilitares; embora legalmente os territórios estejam cedidos aos povos indígenas, na prática não há delimitação territorial nem títulos de propriedade. A exportação de mercúrio é controlada pelo próprio governo da Venezuela”, foi denunciado.
A IV Escola de promoção, defesa e exigibilidade dos Direitos Humanos da REPAM é realizada em Santa Cruz, de 4 a 29 de agosto, com o objetivo de capacitar líderes que defendem os territórios da Amazônia. Criada com a finalidade de fortalecer capacidades, aprofundar análises e fomentar a incidência em defesa dos direitos dos povos amazônicos, esse espaço tem formado líderes comunitários, agentes pastorais, representantes de organizações indígenas e membros da sociedade civil desde sua primeira edição em 2016.