Na segunda coletiva de imprensa sobre os trabalhos do Sínodo dos Bispos, o presidente da Comissão de Informação ilustrou os temas abordados entre quinta (5) e sexta (6) nos Círculos Menores e nas intervenções na Sala Paulo VI. Entre eles, a revisão das estruturas da Igreja, os abusos, o colóquio inter-religioso e a “opção” pelos pobres. “Sublinhada a importância de nos despojarmos de tudo o que não está em conformidade com o Evangelho”.
Salvatore Cernuzio – Vatican News
A formação “de todos”, a partir dos seminários, depois dos padres, dos leigos, dos catequistas; o papel das mulheres, dos leigos, dos ministérios ordenados e não ordenados; a centralidade da Eucaristia; a importância dos pobres “como opção para a Igreja”. E, novamente, os dramas da migração, dos abusos, dos cristãos que vivem em condições de perseguição e sofrimento. A começar pelos ucranianos, para os quais também foi dedicado um aplauso na Sala Paulo VI. Estes são os temas sobre os quais se concentraram os trabalhos – entre a tarde de quinta (5) e a manhã de sexta (6) – dos 351 membros da Assembleia Geral do Sínodo sobre a Sinodalidade, divididos em 35 Círculos Menores.
Para ilustrá-los, na coletiva de imprensa desta sexta-feira (6), na Sala de Imprensa do Vaticano, o presidente da Comissão de Informação, Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, que abriu o encontro diário com os jornalistas assegurando-lhes: “faremos o melhor possível todos os dias para dar-lhes tudo o que temos”.
18 relatórios dos relatores e 22 intervenções individuais
Na tarde desta quinta (5), explicou Ruffini, a reunião continuou nos Círculos Menores que, à noite, “concluíram a primeira parte de suas discussões”. A sessão da manhã desta sexta (6), na qual o Papa Francisco estava presente, foi dividida em dois momentos: o primeiro com 18 relatórios dos relatores (os chamados “rapporteur“) dos vários grupos na assembleia; o segundo, com 22 intervenções individuais. Três minutos foi o tempo alocado para cada um nessa fase, “um pouco mais comprimido do que nos módulos subsequentes, em que a duração de cada intervenção será de 4 minutos”. Nesta sexta (6), portanto, a cada quatro intervenções havia uma pausa para silêncio e oração.
Um livro sobre as intervenções do Papa aos membros
Na tarde desta sexta (6), o trabalho continuou com a terceira Congregação Geral. E também, anunciou Ruffini, cada membro recebeu um livro publicado pela LEV (em italiano, mas com traduções em inglês e espanhol) que reúne dois discursos: um do Papa e outro do então cardeal Bergoglio sobre os temas da santidade e da corrupção, com também um inédito (a introdução).
Sheila Pires: há diversidade e desejo de caminhar juntos
Os vários Círculos se reunirão novamente em uma atmosfera – como disse Sheila Pires, secretária da Comissão de Informação, na coletiva de imprensa – que é “muito sinodal”: “as pessoas estão começando a se conhecer… Estamos realmente caminhando juntos”. Uma atmosfera, acima de tudo, de “felicidade”, mesmo que, é claro, “não faltem tensões”.
O aspecto mais interessante, destacou a jovem sul-africana, é o fato de que pessoas de diferentes continentes se reúnem em cada grupo: “por exemplo, no meu grupo há pessoas da Ásia, África, América do Norte e Europa. Há diversidade, há um espírito fraterno, há um desejo de caminhar juntos”.
Inclusão e laços de amizade
Pires, assim como Ruffini, listou para os repórteres alguns dos temas que surgiram nessas duas últimas sessões, enfatizando em particular a reflexão sobre a “Igreja como uma família que acolhe a todos”. “Este”, disse ele, “tem sido um dos temas recorrentes”. Depois, também o ecumenismo e o colóquio inter-religioso, bem como o reconhecimento dos jovens e a importância da participação das mulheres.
A esse respeito, na manhã desta sexta (6), a Congregação foi aberta por uma religiosa: “tentamos ser o mais inclusivos possível”, enfatizou ela. Tudo faz parte desse “processo” no qual a “prioridade é ouvir”, como disse o Papa na abertura dos trabalhos. Escutar, mas também “aprender a escutar”, são os princípios orientadores destes primeiros dias do Sínodo sobre a sinodalidade, intercalados com vários momentos de oração: pausas – disse Sheila – que ajudam a reflexão e o discernimento.
E também para fortalecer os “laços de amizade”, ecoou Ruffini: “há amizades que nascem em círculos, nós nos reunimos e nos dedicamos a tentar entender o que a Igreja precisa”. “Foi dito que certamente houve e sempre haverá dificuldades, mas que muitas barreiras cairão porque o ponto de referência será a carne do Cristo sofredor”, acrescentou.
Temas discutidos
Ainda mais detalhadamente, o prefeito para a Comunicação explicou que em um Círculo houve um foco em “uma revisão das estruturas da Igreja, como o Código de Direito Canônico, a dimensão da Cúria e, novamente, a formação”. O foco também no tema da relação Leste-Oeste, citando João Paulo II e sua frase histórica sobre a Igreja ter que respirar com “dois pulmões”.
Quanto ao fenômeno da migração, foi reiterada a necessidade de acompanhamento dos migrantes e o serviço do bispo como pastor, “fundamental nesse acompanhamento”. Quanto ao papel das mulheres, mais uma vez foi enfatizada a importância de promover a figura feminina na Igreja e sua participação ativa nos vários processos. A mesma preocupação também foi dirigida aos jovens e aos pobres, para os quais se exortou a superar certa “lentidão”.
‘Reparar a Igreja’
Entre os vários discursos, houve também uma citação do Crucifixo de São Damião, cuja cópia está localizada no átrio da Sala Paulo VI. “Surgiu o tema da reparação da Igreja. O que repara é dizer: aqui estou, estou a serviço. Quem se coloca a serviço conserta a Igreja, serve ao diagnóstico e ao prognóstico e lê os sinais dos tempos com um coração puro”, explicou Ruffini.
Também foi enfatizada “a importância de nos despojarmos de tudo o que não se assemelha a Cristo, como Igreja e como crentes” e de tudo o que “não está de acordo com o Evangelho”. Em seguida, foi destacado “entre os pontos críticos” o risco de “um acúmulo de poder em vez da necessidade de viver o serviço”. Os membros do Sínodo concordaram que “a sinodalidade faz parte do DNA da Igreja” e toda a assembleia dirigiu um pensamento “àqueles que não puderam participar do Sínodo, seja porque foram perseguidos ou por causa de graves crises no mundo”.
Um pensamento pela Ucrânia
Acima de tudo, o pensamento foi para a “Igreja que sofre” na Ucrânia: “foi feita uma menção que despertou aplausos”, disse Ruffini, explicando que essa era uma maneira de “sentir-se em comunhão” com “as pessoas em guerra e com os cristãos ucranianos” que estão sofrendo continuamente.
Outra salva de palmas – mas por motivos diferentes – foi dedicada à irmã Letizia Salazar, que faz aniversário nesta sexta-feira (6), e ao arcebispo Charles Scicluna, no aniversário de sua ordenação episcopal. Gestos, esses também, que restauram o clima de “familiaridade” que está sendo criado na assembleia.
A entrevista do cardeal Müller
Várias perguntas foram feitas ao prefeito durante a coletiva de imprensa, mais do que uma sobre a participação do cardeal Gherard Ludwig Müller, prefeito emérito do Dicastério para a Doutrina da Fé, em um programa de TV norte-americano na quinta-feira (5) para falar sobre o trabalho sinodal. De acordo com alguns jornalistas, a entrevista entrou em conflito com a instrução do Papa aos membros do Sínodo de observar um “jejum da palavra pública” durante essas semanas.
Alguém também perguntou se estavam planejadas “punições”. Ruffini respondeu com uma piada: “por quem, por mim?”, e depois explicou que há “discernimento no silêncio. Não há nenhum gendarme que o castigue… É uma assembleia de irmãos e irmãs que se deram um tempo de suspensão. Há um discernimento pessoal solicitado pelo Papa aos membros e também a vocês, ao explicar sobre o que estamos falando”. E esse “discernimento é deixado a cargo de cada pessoa”.