Santa Sé na ONU: abandonar a “lógica ilusória” da corrida armamentista

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O arcebispo Caccia, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, denuncia o aumento das despesas militares mundiais, que no ano passado atingiram o valor “inaceitável” de 2,7 trilhões de dólares: “O espírito da diplomacia e do multilateralismo, tão cuidadosamente forjado para proteger a humanidade do flagelo da guerra, está cada vez mais obscurecido”

Vatican News

É imperativo abandonar a “lógica ilusória” da corrida armamentista e da dissuasão nuclear para abraçar, em vez disso, o caminho do colóquio e do desarmamento. O observador permanente da Santa Sé, arcebispo Gabriele Caccia, voltou a pedir o fim da “corrida armamentista” durante sua intervenção esta sexta-feira, 17 de outubro, no debate geral do primeiro comitê da 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Redescobrir o multilateralismo

O prelado observou que, 80 anos após a devastação de Hiroshima e Nagasaki e a fundação da ONU, “o espírito da diplomacia e do multilateralismo, tão cuidadosamente forjado para proteger a humanidade do flagelo da guerra, está cada vez mais obscurecido pelo perigoso retorno da força e do medo como caminhos para resolver as disputas”. Citando as palavras do Papa Leão XIV na reunião das agências de ajuda às Igrejas orientais em junho passado, o arcebispo Caccia se pergunta: “Como podemos continuar a trair o desejo das pessoas do mundo pela paz com a propaganda sobre o acúmulo de armas, como se a supremacia militar fosse resolver os problemas em vez de alimentar ainda mais ódio e desejo de vingança?”. O dinheiro gasto em armas, que em 2024 atingiu a quantia “inaceitável” de US$ 2,7 trilhões, poderia ser usado para construir novas escolas e hospitais, em vez de destruí-los.

A perigosa ligação entre armas e IA

Dom Caccia também expressa preocupação com “a nova corrida armamentista marcada pela integração da Inteligência Artificial (IA) em sistemas militares com imenso potencial destrutivo”, convidando os Estados com arsenais nucleares a respeitarem suas obrigações relativas ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), especialmente em vista da próxima Conferência de Revisão. Além disso, a aplicação da IA às armas convencionais “coloca um sério desafio que deve despertar a consciência ética de toda a comunidade internacional”, uma vez que se trata de armamentos que operam “sem qualquer controle humano” e, portanto, “ultrapassam todos os limites legais, de segurança, humanitários e, acima de tudo, éticos”.

É necessária uma mudança de perspectiva

“Tragicamente, inúmeras pessoas inocentes continuam a sofrer as consequências devastadoras das armas explosivas, que são cada vez mais utilizadas indiscriminadamente em áreas povoadas, bem como a ameaça das minas antipessoais, que continuam a mutilar e matar muito depois do fim dos conflitos”, prossegue o arcebispo, denunciando também o tráfico ilícito de armas de pequeno calibre. “O que é necessário – conclui dom Caccia – é uma mudança fundamental de perspectiva: abandonar a confiança nas armas para construir a paz através do colóquio, baseado em uma abordagem centrada no ser humano, firmemente radicada na dignidade e no pleno respeito pelos direitos humanos, e comprometida com o desenvolvimento humano integral”.

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