9 de Setembro é festa litúrgica de São Pedro Claver. Na Colômbia, a celebração coincide com a Semana de Oração pela Paz no país e o Cristo Negro é levado, como sinal de esperança e denuncia, em peregrinação pelo país, especialmente para os lugares onde se verificaram recentes actos de violência.
Dulce Araújo – Cidade do Vaticano
Hoje, 9 de Setembro, é festa litúrgica de São Pedro Claver, o padre jesuíta que, no século XVII, em Cartagena das Índias, no Norte da Colômbia, se mostrou sensível à situação de sofrimento dos africanos para lá levados como escravos, cuidava deles e reclamava bom tratamento e liberdade para eles. Esta festa coincide, na Colômbia, com a Semana de Oração pela Paz, este ano a 33ª edição.
Todas as Dioceses do país, têm na agenda actividades tendentes a pôr em evidencia as violações dos direitos humanos no país e convidar a cidadania a mobilizar-se para a defesa desses direitos humanos. Na Arquidiocese de Cali, cidade com maior número de afrodescendentes no país, iniciou na segunda-feira 7 uma peregrinação de oito dias que leva o Cristo Negro de Bojayà, como sinal de esperança e de denuncia, aos lugares onde se têm verificado, mesmo recentemente, violações e massacres – disse-nos o P. Venâncio Muangi Munyiri, missionário da Consolata e Conselheiro para a Pastoral dos Afrodescendente na América Latina e Caraíbas e membro da equipa dessa pastoral na Colômbia.
Essa estátua de Cristo que foi abençoado pelo Papa Francisco na sua visita, é uma imagem de grande impacto – afirmou – pois que quando se deu o massacre nas localidades de Bojayá e Chocó em 2002, a comunidade se refugiou numa Igreja, e o grupo armado lançou para dentro dessa Igreja um cilindro-bomba; morreram mais de 119 pessoas. E a estátua de Cristo ficou sem mãos e pés. Esta imagem estará esta semana na cidade de Cali e no dia 11 estará ao cuidado da Pastoral dos Afrodescendentes que a levará ao fim do dia, como sinal de esperança e de denuncia, ao sítio onde, em Agosto passado foram mortos cinco jovens afrodescendentes.
E no final da semana, o arcebispo de Cali, D. Dario de Jesus Monsalve que tem sido um defensor dos direitos humanos, se reunirá com as vítimas e terá lugar uma cerimónia religiosa em que se convidará ao compromisso para com a paz. É a melhor forma de darmos continuidade à inspiração deixada por São Pedro Claver e que convida a sermos defensores da vida, não só da população negra, mas de toda a cidadania, de toda a humanidade, um grande sonho que esperamos alcançar um dia – afirmou o P. Munyri.
Para esta 33ª Semana de Oração pela Paz, a Conferência Episcopal Colômbia convida a rezar e a agir em favor da paz. É que partes do país continuam ainda a sofrer de conflitos e massacres, não obstante os Acordos de Paz assinados entre o governo e os grupos armados (FARC) em 2016 em Havana, e que deviam pôr termo a 52 anos de conflitos armados no país. Conflitos que provocaram mais de 220 mil mortos e cerca de 5 milhões de deslocados. Calcula-se que 17 % da população colombiana tenha sofrido directamente dessas décadas de conflito.
A aplicação do Acordo de Paz não tem sido fácil e, em 2019, alguns membros das FARC manifestaram a intenção de voltar às armas, alegando que o governo falhou na implementação do Acordo. Num comunicado, o Arcebispo de Cali, recorda que a Paz é um bem universal e que todos têm o direito de poder viver em paz.