Seminário Nacional debate Campanha da Fraternidade 2026

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Encontro reuniu animadores e parceiros de todo o país em Brasília para avaliar a CF 2025 e aprofundar o tema “Fraternidade e Moradia”, com o lema “Ele veio morar entre nós”.

Vatican News

Entre os dias 25 e 28 de setembro de 2025 aconteceu em Brasília, no Distrito Federal, o Seminário Nacional das Campanhas, evento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Realizado na lar Dom Luciano, o encontro reuniu animadores, articuladores e parceiros de todo o país com o objetivo de avaliar a Campanha da Fraternidade de 2025 e debater e planejar a Campanha da Fraternidade de 2026 que tem como tema “Fraternidade e Moradia” e lema “Ele veio morar entre nós”, inspirado em João 1,14.

No primeiro dia do encontro aconteceu a avaliação da Campanha da Fraternidade de 2025, que teve como foco a temática ambiental, com a celebração da Santa Missa pelo Cuidado da Criação, seguindo o formulário da Missa aprovado pelo Papa Leão XIV. A celebração foi presidida por Dom Manoel Ferreira dos Santos Júnior, Bispo da Diocese de Registro (SP), referencial da Pastoral da Moradia e Favela da CNBB que reforçou a necessidade de um olhar atencioso para quem precisa de uma moradia digna: “A moradia é a porta de entrada para todos os direitos. Sem a moradia, as pessoas acabam não tendo acesso a muita coisa que o Estado deve oferecer. Assim, chegamos à conclusão da importância de organizar as nossas comunidades, de organizar a sociedade, de acolher os movimentos sociais que já estão lutando por moradia. Moradia digna, onde tenha água, onde tenha esgoto, onde tenha luz, onde tenha saúde perto, entre outros direitos”, afirmou.

Na sexta-feira e no sábado, o Seminário se aprofundou no texto-base da Campanha da Fraternidade 2026. A escolha do tema reflete a preocupação da Igreja com a realidade de muitas pessoas no Brasil, buscando promover a moradia digna como prioridade e direito, juntamente com outros bens e serviços essenciais para toda a população.

O aprofundamento do tema da moradia no Brasil foi conduzido a partir do método ver, julgar e agir, uma abordagem que permite analisar a realidade, refletir à luz da fé e propor ações concretas.



Seminário Nacional debate Campanha da Fraternidade 2026

Durante o Seminário foram apresentadas iniciativas que apoiam e impulsionam a Campanha da Fraternidade. Entre elas, o relatório do Projeto Capacita em Rede, uma parceria entre a CNBB e o Ministério da Educação que leva formação profissional a todos os regionais do Brasil. Foram apresentadas também duas formações que pretendem ajudar a fortalecer a ação da CF: um curso oferecido pelo Farol 1817, iniciativa da Província Marista Centro-Sul, e o itinerário formativo para jovens sobre os direitos da pessoa em situação de rua, iniciado nesta semana pela Rede Inaciana de Juventude – MAGIS Brasil.

Um ponto de destaque foi a apresentação do relatório do Fundo Nacional de Solidariedade, que detalhou o número de projetos apoiados e os recursos destinados às iniciativas ligadas à Campanha da Fraternidade 2025. Além disso, uma novidade para a CF 2026 foi o lançamento do texto-base para crianças, uma ferramenta relevante para envolver os mais jovens na reflexão sobre a fraternidade e a moradia.

O secretário executivo de Campanhas da CNBB, Pe. Jean Paul Hansen destacou a importância deste encontro que acontece anualmente em Brasília: “Este Seminário é um dos momentos mais importantes da articulação de uma Campanha da Fraternidade. Nós elaboramos a campanha com a equipe do texto base, com as equipes que geram os diversos subsídios, mas o Seminário é o momento da socialização para toda a Igreja no Brasil, de tudo aquilo que nós pensamos para aquela Campanha da Fraternidade. E nesse processo de socializar a reflexão do texto base, nós formamos e articulamos no sentido de dar instrumental, de dar argumentos para que esses articuladores regionais, façam o mesmo com as dioceses nos seminários regionais e a Campanha da Fraternidade aconteça”, afirmou.

Pe. Jean Paul falou também sobre as motivações do tema da CF 2026: Durante o Seminário, o padre Aquino Júnior nos ajudava a iluminar a realidade da moradia. Ele começava a sua palestra dizendo que a igreja não tem competência para resolver o problema da moradia no Brasil. A igreja não tem meios jurídicos, a igreja não tem meios financeiros, a igreja não tem meios políticos para resolver a questão da moradia. Então, por que a igreja propõe um tema que ela não pode resolver? Qual é a nossa missão com a campanha? É tocar as consciências. É fazer com que as pessoas tomem consciência dessa realidade, porque pessoas mudam realidades. A igreja não tem competência para mudar a realidade da moradia, mas a igreja tem competência para tocar as consciências das pessoas e as pessoas têm competência para mudar a realidade ou para mudar aqueles que podem mudar a realidade”, destacou.

No sábado à noite, em um gesto de solidariedade e proximidade, os participantes do Seminário Nacional das Campanhas foram ao Centro de Brasília para um momento de oração e confraternização com pessoas em situação de rua. O jantar compartilhado foi um testemunho vivo do lema da Campanha da Fraternidade 2026, “Ele veio morar entre nós”, reforçando a importância de ver e acolher a Cristo nos mais vulneráveis.

Durante o encontro, os participantes do Seminário redigiram uma nota em repúdio aos despejos que vêm acontecendo por todo o país. Este documento reforça o posicionamento da Igreja em defesa do direito à moradia e contra as violações dos direitos humanos que afetam as populações mais vulneráveis.

No domingo, a celebração da Santa Missa presidida pelo secretário-geral da CNBB Dom Ricardo Hoepers encerrou o evento com uma liturgia que foi ao encontro de tudo o que foi discutido em quatro dias de intensa programação. Providencialmente, o Evangelho do dia trazia a parábola do rico e de Lázaro, o que Dom Ricardo destacou em sua homilia: “Uma parábola é sempre uma lição. Jesus quer dar uma lição. Ele quer ensinar algo. E nesta parábola que traz esses três personagens: Abraão, o rico e Lázaro nos faz pensar exatamente no que Jesus quer que sejamos. Qual é a proposta dele para os seus discípulos? Qual é a visão que ele quer que nós possamos alcançar no dia a dia, na realidade, nua, crua, difícil, com seus traumas, com seus dramas?”

Dom Ricardo falou sobre as muitas formas de violência motivadas pelo ódio, mas destacou uma forma de violência que não envolve ódio, mas desprezo: “Nós acompanhamos as notícias de violência por ódio, quando há morte, assassinatos, violências físicas, violências em que você sabe que alguém está se vingando do outro, das mais variadas formas possíveis, físicas, corporais, morais… Um professor meu dizia que essa é a violência do ódio, pois um tem ódio do outro. Uma nação que tem ódio da outra nação. Um grupo que tem ódio do outro grupo. E isso gera muita violência. É o ódio. Mas o professor dizia que tem um outro tipo de violência que é gerada não pelo ódio, mas pelo desprezo. Onde o outro não fez nada para mim. Onde eu não tenho sequer motivo para fazer qualquer coisa contra o outro. Não tenho ódio sobre ele. Simplesmente eu ignoro, desprezo. É essa a essência do Evangelho de hoje. Se nós fossemos olhar, o número de pessoas que sofrem o desprezo é tão grande quanto os que sofrem violência pelo ódio ou até maior”, destacou.

Seminário Nacional debate Campanha da Fraternidade 2026

Seminário Nacional debate Campanha da Fraternidade 2026

A presença Franciscana no encontro: um eco do Carisma de Assis

O carisma franciscano, enraizado na vida e nos ensinamentos de São Francisco de Assis é marcado por uma profunda identificação com Cristo pobre e humilde. A espiritualidade franciscana, portanto, convida a uma conversão ecológica e social, que se alinha aos temas abordados nas Campanhas da Fraternidade da CNBB.

A representação franciscana no seminário foi diversificada e atuante, demonstrando a capilaridade e o engajamento da família franciscana nas questões sociais e eclesiais do Brasil. Estiveram presentes nos debates Fábio Paes, coordenador de incidência política do Sefras – Ação Social Franciscana e da Revista lar Comum. O Sefras é uma iniciativa da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, da Ordem dos Frades Menores (OFM), e atua no acolhimento, cuidado e defesa dos mais vulneráveis. Representando a Ordem dos Frades Menores Conventuais (OFM Conv.) esteve presente a jornalista da Milícia da Imaculada, Angelica Lima. A Milícia da Imaculada, fundada por São Maximiliano Kolbe, um frade franciscano, carrega em sua essência a espiritualidade de São Francisco de Assis

Frei Marcelo Toyanski Guimarães, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (OFMCap), também esteve presente. Frei Marcelo é conhecido por sua atuação na Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC) dos Capuchinhos e como coordenador executivo nacional da Pastoral da Moradia e Favelas.

Francisco Paes, representando a Ordem Franciscana Secular (OFS), também integrou o grupo. A OFS é uma ordem de leigos que buscam viver o Evangelho à maneira de São Francisco de Assis, no mundo, em suas realidades cotidianas. A participação de Francisco Paes sublinha a importância do engajamento leigo na promoção da fraternidade e da justiça social, pilares do carisma franciscano.

A presença desses representantes franciscanos no Seminário Nacional das Campanhas da CNBB de 2025 não apenas enriqueceu os debates com a perspectiva da espiritualidade de São Francisco, mas também reforçou o compromisso contínuo da família franciscana com a promoção da dignidade humana, a justiça social e o cuidado com a lar Comum, ecoando o chamado do Santo de Assis para uma vida de fraternidade e serviço aos mais necessitados.

O Seminário Nacional das Campanhas de 2025 foi um momento de reflexão, planejamento e renovação do compromisso da Igreja Católica no Brasil com as questões sociais. A transição da temática ambiental para a moradia digna na Campanha da Fraternidade 2026 demonstra a contínua atenção da CNBB às necessidades mais urgentes da população, buscando, através da fé e da ação, construir um país mais justo e fraterno para todos.

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