Sentido do Discernimento – 1ª parte

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Hoje, quero propor alguns pensamentos sobre discernimento. Discernir quer dizer: dividir em profundidade, penetrar no interior, simpatizar com o evento humano por ser humano; por isso, implica projetos, esperanças, ilusões, desejos, sofrimentos.

O discernimento pertence à tradição religiosa também fora do cristianismo. O filósofo Sêneca escreve a Lucílio: “Não precisa levantar as mãos ao céu, nem se recomendar ao guarda do templo pedindo para nos aproximarmos dos ouvidos da estátua, quase para que, desse modo, possas ser mais bem escutado. Deus está próximo de ti, está contigo, dentro de ti”. Agostinho recomendava: “Não saias de ti, voltas em ti mesmo; a verdade habita no homem interior”; e, comentando o Evangelho de João, escreve: “Volteis ao coração: para onde quereis ir distante de vós? distante de vós mesmos, ides se perder. Por que trilhais caminhos desertos”? Observa o cardeal Martini: “Essa interioridade, segundo Agostino, é procura da verdade, achar em nosso ser mais profundo a raiz de tudo, o lugar das decisões, a motivação das escolhas que se fazem na vida. A interioridade é o lugar que nos faz entender o porquê de todas as ações que fazem a história humana”.

Os Padres do deserto, com profundidade psicológica, que nada tem a invejar à melhor psicologia e psicanálise, desenvolveram um profundo conhecimento da alma humana e nos entregaram uma insuperável doutrina e metodologia sobre o discernimento. No terceiro século, com Orígenes, o assunto aparece na reflexão teológica da vida cristã. Trata da luta de Cristo contra Satanás da qual participam os cristãos, com a ajuda dos anjos e dos irmãos, na solidariedade do Corpo de Cristo. Antônio, o Grande, dizia: “Há pessoas que machucaram o próprio corpo na ascese e que, por falta de discernimento, acabaram se afastando de Deus”. João Cassiano constata: “Sem o carisma do discernimento, nenhuma virtude pode se sustentar e permanecer seguro até o fim: ele é, de fato, mãe e guarda de todas as virtudes”. O abade Poimen afirmava: “Alguém, o dia todo, tem nas mãos um facão e não consegue derrubar a árvore, e outro que, ao invés disso, é experiente no cortar e derrubar a árvore com poucos golpes”. Dizia que o facão é o discernimento. São Gregório Magno observa: “Os desejos santos crescem com a demora, mas se diminuem com o adiamento, não são desejos autênticos”.

(4ª Parte do Artigo de Dom Félix sobre o Discernimento)

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