Sínodo: uma Igreja com os pobres e contra o clericalismo e os abusos

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No briefing da tarde deste sábado, na Sala de Imprensa da Santa Sé, foram dados a conhecer os temas dos trabalhos abordados na Sala Paulo VI: do papel das mulheres à defesa dos menores e pessoas vulneráveis. Esta noite na Praça de São Pedro a recitação do Santo Rosário pela paz.

Vatican News

Esta noite, às 21h, na Praça de São Pedro, será recitado o Terço, com o sopro do Sínodo, com a “especial intenção de oração pela paz”. Em particular, foi lançado na sexta-feira na Sala Paulo VI um apelo “para ajudar os jovens, em um Oriente Médio que sangra, a não perderem a esperança e a não terem como única perspectiva de porvir aquela da dor ou a de deixar o seu país”; portanto, “dar a estes jovens, como Igreja e como pastores, os instrumentos para alcançar a paz”.

Foi o que deu a conhecer Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação e presidente da Comissão para a Informação, no briefing deste sábado com os jornalistas, com início às 14h20 na Sala de Imprensa da Santa Sé, e que foi apresentado pela vice-diretora Cristiane Murray.

A décima quinta Congregação Geral, na tarde da sexta-feira, caracterizou-se “por alguns testemunhos muito fortes, apaixonados, profundos, vindos de lugares de guerra ou de sofrimento como o Médio Oriente, a Ucrânia, a Amazônia e não só”. Estas “vozes”, disse Ruffini, foram aplaudidas fraternalmente por toda a Assembleia (329 estavam presentes).

Na manhã deste sábado, foram entregues à Secretaria-Geral os relatórios dos 35 Círculos menores – no final da décima segunda sessão – relativos à Seção b3 do Instrumentum laboris. 310 estavam presentes aos trabalhos e paralelamente foi realizada a reunião para elaboração do Documento de síntese. Às 8h45 de segunda-feira, 23 de outubro, os participantes do Sínodo se reunirão na Basílica de São Pedro para a Celebração Eucarística no Altar da Cátedra, presidida pelo cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon, em Mianmar.

Ruffini: em comunhão com o Papa

 

Nos pronunciamento na Sala Paulo VI, afirmou o prefeito, foi abordada em particular “a questão do discernimento das relações decisórias na relação entre autoridade e corresponsabilidade”. A sinodalidade, observou-se, “não elimina, mas contextualiza a autoridade”, recordando que “há necessidade de autoridade” e “não se deve ter medo de buscar o debate ou de discordar”. Em frente com o colóquio, foi dito na Sala, confiando-se “ao Espírito Santo que transforma locais de combate em locais de passagem”

A prioridade é a escuta recíproca de todos, também foi reiterado. Escutarem-se todos, portanto, “a começar por aqueles que acreditam não poder ser acolhidos na Igreja ou a quem foi dito que não pertencem à Igreja”, como, por exemplo, “os migrantes que pertencem a outras religiões”, os pobres, aqueles que são discriminados, as pessoas com deficiência — que podem ser ensinadas a comunicar — ou povos indígenas. Em particular, no que diz respeito às pessoas LGBTQ, o prefeito afirmou que a Sala foi recordado o dever de acolher e “rejeitar qualquer tipo de violência contra elas”.

Outro ponto relevante abordado nas intervenções foi a “comunhão com o Papa”: quem não está na fundamental comunhão com Pedro, foi dito, “fere o corpo de Cristo que é a Igreja”. E a comunhão, concluiu o prefeito, é a melhor mensagem que se possa dar a um mundo dividido entre a polarização, xenofobia e guerra.

Pires: no centro, atambém a missão digital 

 

Sheila Pires, secretária da Comissão para a Informação, deu continuidade ao briefing destacando que, entre os temas abordados na Sala, está o do papel da mulher e das mulheres consagradas, com especial atenção à possibilidade de fazerem ouvir a sua voz quando são tomadas decisões.

O clericalismo, explicou Pires, voltou mais uma vez ao centro da reflexão com a recomendação de uma formação permanente que permita também enfrentar a questão dos abusos. Foi destacada a necessidade de dispor de uma estrutura adequada contra abusos. E foram expressos agradecimentos ao Papa precisamente por ter introduzido novas estruturas para lidar com a tragédia dos abusos. É relevante, foi dito, promover iniciativas a todos os níveis para proteger todas as pessoas, adultos e crianças.

Outro tema que foi novamente proposto nas intervenções é a missão na era digital, que não deve ter dimensão virtual porque se trata da vida real das pessoas. Além disso, concluiu a secretária da Comissão para a Informação, um ponto comum nas intervenções na Sala diz respeito à reafirmação da missão da Igreja ao serviço dos pobres, na consciência de que o Senhor nos julgará pela forma como amamos os pequeninos e não pelo conhecimento acumulado.

Cardeal Barreto Jimeno: unidade na diversidade

 

O cardeal jesuíta peruano Pedro Ricardo Barreto Jimeno, arcebispo de Huancayo e presidente da Conferência Eclesial Amazônica, começou recordando que o Sínodo “foi preparado em dois anos, inicialmente nas paróquias e depois nas dioceses, então a nível nacional e depois continental. “Não estamos inventando nada – afirmou – mas estamos recolhendo o que o Espírito Santo disse à Igreja. E nós, bispos, como responsáveis ​​por um território, e ao mesmo tempo corresponsáveis ​​juntamente com o Papa Francisco por toda a Igreja universal, participamos como representantes da maioria dos bispos; na verdade, estamos vivendo um Sínodo de bispos. Mas também há religiosos e religiosas, leigos e sacerdotes”.

O cardeal Barreto elogiou então a oportunidade “de recolher a experiência vivida, mas também de viver um pouco a experiência da Igreja universal: diversidade de raças, culturas, línguas, mas todos unidos num só Espírito, este Espírito que tem como fonte o Santíssima Trindade. Deus é comunhão, missão e participação: portanto esta experiência sinodal nos abre ao horizonte da diversidade na unidade de Deus”. E, valendo-se da experiência pessoal de 52 anos de sacerdócio e 23 de episcopado, concluiu com otimismo afirmando que “a Igreja, no meio das dificuldades que vive, tanto interna como externamente, põe-se em movimento, no caminho, para servir somente Cristo e a humanidade.”

Bispo Overbeck: arrependimento e renovação

 

Dom Franz-Josef Overbeck, bispo de Essen e ordinário militar da Alemanha, falou sobre a experiência do caminho sinodal da Igreja Católica na Alemanha, iniciado em 2018 e concluído no ano passado.

“A razão pela qual iniciamos este trajeto – disse ele – foi o grande número de casos de abuso encontrados no país”. O trabalho foi realizado em conjunto com o Comitê central dos católicos alemães, que reúne uma representação de diversos grupos profissionais da Igreja. Este “caminho de arrependimento e de renovação”, disse o prelado, implica a necessidade de “examinar autocriticamente a ação da Igreja, de colocar o dedo na ferida, de questionar-se que mudanças são urgentes para renovar a vida eclesial”. É preciso, portanto, “um retorno aos lugares do saber teológico, a partir do testemunho da Bíblia e da Tradição católica, das descobertas da teologia científica, até à fé dos fiéis e aos sinais dos tempos a serem interpretados à luz do Evangelho” para tornar credível o anúncio cristão. “Se a teologia, o magistério ou a tradição e os sinais dos tempos – afirmou – têm contradições imediatas e irreconciliáveis, isso não convencerá ninguém e muito menos dar uma orientação aos católicos”, que na Alemanha são apenas 30 por cento, ao lado de outros 30 por cento de protestantes e 40 por cento de não crentes.

Foram escolhidos quatro campos de reflexão: o poder, o sacerdócio, o papel da mulher, a ética sexual. Foram promovidas cinco grandes conferências em Frankfurt para aprofundar esses temas e fornecer uma lista de coisas a serem realizadas. Os resultados estão contidos numa série de folhas publicadas pela Conferência Episcopal Alemã. “Desta forma, escolhemos uma forma de trabalho que foi para nós uma nova forma de estar juntos, quase uma espécie de sinodalidade vivida ao nível da Igreja alemã”, observou, explicando que, no entanto, “não se trata de decisões sinodais canonicamente vinculantes”, embora para lhes dar maior peso tenha sido decidido adotar apenas aquelas votadas por pelo menos dois terços dos bispos: em mais de três anos foram aprovadas 15 decisões desta forma.

“Este caminho – acrescentou – sempre foi um momento de aprendizagem e de prática da sinodalidade; nem sempre tudo funcionou bem”, mas no final houve o compromisso de “desenvolver um conceito de assembleia eclesial que dê continuidade ao trabalho das assembleias sinodais”.

Por último, o prelado – que também é presidente da Adveniat – sublinhou o valor da experiência da Conferência Eclesial da Amazônia, onde bispos, sacerdotes religiosos e leigos trabalham juntos nas questões da criação e da proteção das populações locais. Continua a ser fundamental, concluiu, “colocar sempre Jesus no centro da fé, sem se apegar a hábitos e tradicionalismos que, se examinados criticamente, não têm prioridade na hierarquia da verdade”.

Bispo Eychenne: na “Amazônia francesa”

 

Dom Jean-Marc Eychenne, bispo de Grenoble-Vienne, na França, iniciou seu pronunciamento falando sobre sua experiência ao sul de Toulouse, em uma realidade periférica denominada “Amazônia francesa”, enquanto “território marcado pela pobreza generalizada, mas que favorece a busca espiritual de Cristo e do Evangelho. Daqui, de uma área de 150 mil habitantes – continuou – mudei-me para a minha atual diocese que tem um milhão, com situações econômicas e sociais diferentes, mas também com muitas semelhanças porque os desafios são os mesmos”. A principal, sublinhou o bispo, é a da corresponsabilidade. A este propósito, “o Sínodo sobre a sinodalidade significa refletir juntos e ver como a Igreja pode fazer próprio esse conceito”, passando “de uma Igreja de poucos corresponsáveis ​​para uma onde todos são corresponsáveis ​​pelo anúncio de Cristo”, uma Igreja que seja verdadeiramente o corpo de Cristo onde cada um exprime a sua opinião para uma decisão final que diz respeito a todos”.

Dom Eychenne falou então sobre a sua experiência no mundo carcerário: “Reunimo-nos com os presos, lemos a Palavra de Deus e cada um faz um comentário sobre o texto do Evangelho. Muitos são analfabetos ou fortemente marginalizados, mas pode acontecer que a palavra mais esclarecedora na passagem lida venha precisamente dessas mesmas pessoas”.

Corresponsabilidade, observou o bispo, significa viver “uma verdadeira experiência sinodal”. Como aquela, explicou, “que colocamos em prática quando o novo pároco chega à nossa diocese: em tal ocasião, realizamos o ritual do lava-pés, para sublinhar que ele é um servidor”. Na comunidade, de fato, “não é ‘um’ que comanda, mas um nós formado por jovens, idosos e pessoas com deficiência, para dizer simbolicamente que existe uma responsabilidade comum”. Além disso, “nas nossas pequenas equipes diocesanas – concluiu o prelado – incluímos também a presença feminina com uma mulher que ocupa o cargo de vigária geral, apoiando os prelados nas decisões que dizem respeito à comunidade”.

Irmã Nirmalini: um caminho que continua

 

Em seguida, falou Irmã Maria Nirmalini, indiana, superiora geral das Irmãs do Carmelo Apostólico e presidente da Conferência dos Religiosos da Índia, o maior grupo de religiosos católicos do mundo, com mais de 130 mil membros. A religiosa, que participa nos trabalhos da União Internacional das Superioras Maiores, sublinhou a proximidade na oração dos seus compatriotas consagrados, que a acompanham nesta “bela experiência e maravilhoso caminho” que é o Sínodo, onde “cada um dos participantes, mesmo sem se conhecerem e apesar das diferentes culturas e origens, partilharam livremente as suas experiências e ideias com cardeais, bispos, teólogos, jovens religiosos e religiosas, leigos, com uma pessoa simples como eu, sem medo nem pressão”. Por isso, quando regressar à Índia, disse Irmã Nirmalini, ela levará consigo “algo que não terminou em Roma: o caminho sinodal é um processo permanente que continuará” e “envolverá todos os membros das comunidades”. A religiosa chamou então a atenção para a importância de cada momento de partilha, de oração pela paz, pelos migrantes e refugiados. “Independentemente das nossas origens, somos todos membros da família de Deus”, concluiu.

A situação das vocações

 

Respondendo a uma pergunta sobre a questão do diaconato feminino e sobre a possibilidade de os diáconos casados ​​terem um papel “sacerdotal”, o cardeal Barretto Jimeno lembrou que este Sínodo é fruto da experiência que culminou na assembleia sobre a Amazônia, região com 7.500 Km² de extensão, 33 milhões de habitantes, dos quais 3 milhões são povos originários, incluídos em nove países. Um dos aspectos importantes foi a criação da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), que inclui todos os batizados: portanto, acrescentou, é preciso colher esta experiência, que é a primeira na história da Igreja.

Este fato foi reiterado pelo bispo de Essen, dom Overbeck, que recordou que todas as questões do processo sinodal alemão, incluído o problema dos abusos, surgiram no contexto de um país agora pós-secular, no qual as pessoas já não têm a ideia de quem é Jesus Cristo e não há referência à religião na vida cotidiana. Na Alemanha, acrescentou, metade dos pastores protestantes são mulheres. O diaconado permanente existe desde 1968. E na Alemanha, sublinhou, pergunta-se sobre qual será o papel das mulheres no diaconato e a sua presença no porvir. O diaconato permanente, disse ele, é relevante e é uma vocação, não apenas um direito.

O bispo de Essen também foi questionado sobre qual o efeito que o caminho sinodal alemão teve no atual Sínodo e que influência este terá na Alemanha. A impressão, disse dom Overbeck, é que tudo o que foi feito no caminho sinodal da Igreja na Alemanha teve um efeito na sociedade. A este propósito, observou, devemos refletir sobre a inculturação e o papel da teologia diante das questões que surgem. Sobre a viabilidade de ordenar homens casados, o bispo de Essen explicou que durante muitos anos foi dado um passo após outro: quase não há mais seminaristas e a questão não é apenas como salvar a vida sacramental da Igreja, mas como vivê-la.

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