A OIM, o ACNUR, a UNICEF e o PMA chamaram hoje, com urgência, a atenção da comunidade internacional para a crise no Sudão, a fim de fazer face ao imenso sofrimento e aos crescentes perigos que ameaçam a população. Mais de 900 dias de combates brutais, violações generalizadas dos direitos humanos, fome e o colapso dos serviços essenciais já levaram milhões de pessoas, especialmente mulheres e crianças, à beira da sobrevivência.
Vatican News
Durante as suas recentes missões ao Sudão, altos funcionários da Organização Internacional para as Migrações (OIM), da Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), da UNICEF e do Programa Alimentar Mundial (PAM) constataram o impacto devastador da crise em todo o país, incluindo o Darfur, Cartum e outras áreas afetadas pelo conflito.
Uma das emergências mais graves do mundo
O Sudão enfrenta uma das emergências mais graves do mundo, com mais de 30 milhões de pessoas a necessitar de assistência humanitária, incluindo mais de 9,6 milhões de deslocados internos e quase 15 milhões de crianças. Além disso, embora aproximadamente 2,6 milhões de pessoas tenham regressado às suas casas com o alívio dos conflitos em Cartum e noutras partes do país, muitas encontram as suas casas e bairros danificados ou destruídos, o que as impede de aceder a serviços essenciais. Desde o início de 2025, mais de um milhão de pessoas regressaram a Cartum.
O terrível conflito que já vai no terceiro ano, destruiu serviços essenciais de saúde e educação. 14 milhões dos 17 milhões de crianças em idade escolar estão fora do ensino. Comunidades inteiras foram deslocadas, com famílias a fugir para salvar as suas vidas e a enfrentar violações dos direitos humanos e sérios riscos de proteção. A fome foi confirmada nalgumas zonas do Sudão no ano passado, e a situação alimentar continua grave, sendo as crianças parte dos mais afetados. As taxas de subnutrição aumentaram vertiginosamente e milhares de pessoas correm o risco de morte iminente se não houver assistência alimentar e nutricional imediata.
“Este regresso em grande escala a Cartum é não só um sinal de resiliência como também um sinal de alerta”, disse Ugochi Daniels, Diretor-Geral Adjunto de Operações da OIM, que regressou recentemente de uma missão no Sudão. Encontrei pessoas que regressavam a uma cidade ainda marcada pelo conflito, onde as casas estão danificadas e os serviços básicos mal funcionam. A sua determinação em reconstruir é notável, mas as condições de vida continuam a ser incrivelmente frágeis. A cólera, a dengue e a malária estão a espalhar-se pelo Sudão, tornando ainda mais urgente investir em água potável, cuidados de saúde e outros serviços essenciais para que as pessoas possam realmente recomeçar.
Um país em profunda crise
As famílias que regressam ao Sudão, muitas delas impelidas pela determinação a reconstruir as suas vidas após anos de conflito incessante, refletem uma mudança frágil, mas esperançosa. No entanto, o Sudão continua a ser um país em profunda crise. O acesso às populações mais afetadas continua a ser altamente limitado. Os trabalhadores humanitários enfrentam insegurança, obstáculos burocráticos e desafios logísticos que tornam a entrega de ajuda vital extremamente difícil: os procedimentos precisam de ser simplificados. Os ataques contra civis continuam a ser generalizados, e as mulheres e raparigas continuam expostas a sérios riscos de violência sexual relacionada com o conflito.
Em Cartum, com o crescente sentimento anti-estrangeiro, o apoio de longa data do Sudão a quase 900.000 refugiados está sob pressão. A proteção contínua dos refugiados é crucial para salvar a vida de centenas de milhares de pessoas em necessidade.
“Esta é uma das piores crises humanitárias a que assistimos em décadas”, disse Kelly T. Clements, Alta Comissária Adjunta do ACNUR, após uma visita aos campos de refugiados em Port Sudan e nos arredores de Cartum. “Milhões de pessoas estão deslocadas dentro e fora do país, e as famílias que regressam têm pouco apoio e nenhuma outra opção. Falei com famílias que fugiram recentemente de Al Fasher. Contaram histórias horríveis relacionadas com o facto de serem forçadas a deixar tudo para trás, viajando por rotas perigosas e com grande risco. Este é um ambiente extremamente volátil, e o apoio é necessário em todo o lado”.
Situação no Darfur e Cordofan
A situação nos Estados do Darfur e do Cordofan é profundamente preocupante, com necessidades humanitárias crescentes. As comunidades estão cada vez mais isoladas e o colapso dos serviços essenciais está a deixar milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade. As agências continuam a fazer tudo o que podem para ajudar os civis, onde as crianças e as famílias vivem em condições que tornam difícil a sobrevivência.
Em Al Fasher, mais de 260.000 civis, incluindo 130.000 crianças, estão cercados há mais de 16 meses, sem acesso a alimentos, água e assistência médica. As instalações de saúde entraram em colapso e milhares de crianças que sofrem de subnutrição aguda-grave estão agora sem tratamento, enfrentando a morte iminente. Os relatos de assassinatos, violência sexual e recrutamento forçado aumentam diariamente. Em Kordofan, cidades como Dilling e Kadugli estão isoladas há meses, com as famílias a terem de suportar sistemas de água destruídos e serviços de saúde prejudicados. Os surtos de cólera e sarampo estão a espalhar-se descontroladamente.
Necessidade duma ação global urgente
“O que vi esta semana no Darfur e noutros locais foi um lembrete claro do que está em causa: crianças a enfrentar a fome, a doença e o colapso dos serviços essenciais”, disse Ted Chaiban, Director Executivo Adjunto da UNICEF. “Comunidades inteiras estão a sobreviver em condições que desafiam a sua dignidade. As crianças estão subnutridas, expostas à violência e correm o risco de morrer de doenças evitáveis. As famílias estão a fazer tudo o que podem para sobreviver, demonstrando uma extraordinária determinação perante dificuldades inimagináveis. É evidente que a ONU e os seus parceiros estão a responder, mas a determinação das famílias deve ser acompanhada por uma ação global urgente a fim de garantir o acesso, mobilizar recursos e, finalmente, pôr fim ao conflito.”
A crise é ainda agravada pela falta de recursos. O Plano de Resposta Humanitária do Sudão 2025, no valor total de 4,2 mil milhões de dólares, continua gravemente subfinanciado, com apenas 25% do financiamento necessário, pondo em risco a continuidade das operações de emergência.
Apesar dos enormes desafios, a resposta humanitária no Sudão já chegou este ano a mais de 13,5 milhões de pessoas, incluindo as zonas mais afetadas do Darfur, Cordofão, Cartum e Al Jazeera. No entanto, sem recursos adicionais, as agências humanitárias serão forçadas a reduzir as intervenções que salvam vidas, ponto milhões de vidas em risco.
“Vi uma cidade devastada pela guerra, onde as famílias que regressam a Cartum precisam urgentemente de alimentos, água e serviços básicos. Mas, acima de tudo, vi a determinação e a vontade de reconstruir e começar a viver de novo. Vi esperança”, disse Valerie Guarnieri, Diretora Executiva Adjunta do Programa Alimentar Mundial. “Estamos todos a trabalhar em conjunto, juntamente com organizações locais e grupos comunitários, para ajudar as famílias deslocadas, os residentes e os regressados a reconstruir as suas vidas, com acesso a alimentos, nutrição e refeições para crianças em idade escolar, bem como apoio para restaurar os serviços essenciais”.
Apelo conjunto das quatro agências da ONU
As quatro agências pedem conjuntamente:
A cessação imediata das hostilidades e a proteção dos civis, especialmente das crianças.
Acesso humanitário a todas as populações afetadas, incluindo a presença das Nações Unidas em todo o país.
Procedimentos simplificados para a entrega de ajuda e movimentação de pessoal.
Financiamento urgente e flexível para ampliar as intervenções que salvam vidas.
Apoio a soluções duradouras para populações deslocadas, incluindo retornados e comunidades de acolhimento.
Apoio contínuo às populações deslocadas internamente e aos quase 900.000 refugiados no Sudão que necessitam de proteção e serviços internacionais.
A OIM, o ACNUR, a UNICEF e o PAM reafirmam o seu compromisso de trabalhar em conjunto para prestar assistência e proteção vitais às crianças e às famílias de todo o Sudão. A comunidade humanitária está pronta para agir, mas não o pode fazer sozinha. O mundo deve fazer a sua parte.

