Sudão devastado por uma “guerra esquecida”

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Mais de 70 pessoas perderam a vida nos últimos dois dias no Sudão, onde o exército e as forças paramilitares de apoio ligeiro (RSF) estão a lutar entre si. As equipas de salvamento encontraram pelo menos vinte corpos carbonizados, incluindo os de quatro crianças, depois de um ataque aéreo do exército na capital Cartum, na terça-feira. Roland Marchal, investigador do CERI da Sciences Pro Paris e especialista no Sudão,considera que esta guerra no Sudão “não está a ser muito mediatizada”.

Entrevista de Myriam Sandouno – Cidade do Vaticano

A guerra atual, que começou a 15 de abril de 2023 e já fez mais de 150.000 mortos e mais de 10 milhões de deslocados, é um conflito desencadeado pela luta pelo poder entre dois generais, o general Abdel Fattah al-Burhan, chefe das Forças Armadas Sudanesas (SAF), e o general Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como “Hemedti”, chefe das RSF. Segundo Roland Marchal, investigador do CERI da Sciences Pro Paris, “o exército sudanês está na ofensiva e parece estar a fazer progressos. Há um ano, foi o RSF que conseguiu adquirir uma clara vantagem no leste”. Mas para o especialista em Sudão, “é preciso ser extremamente cauteloso sobre o que vai acontecer a seguir”.

Armas

A questão do fluxo constante de armas para o Sudão continua no centro das preocupações. A 11 de setembro, o Conselho de Segurança da ONU prolongou o embargo de armas ao Darfur, cujas violações são regularmente denunciadas. Apesar disso, não há falta de armas de ambos os lados e ambos beneficiam de ajuda militar externa. De acordo com um relatório da Amnistia Internacional publicado em julho passado, “armas e munições recentemente fabricadas ou transferidas de países como a China, os Emirados Árabes Unidos, a Rússia, a Sérvia, a Turquia e o Iémen estão a ser importadas para o Sudão em grandes quantidades e, em alguns casos, desviadas para o Darfur”.

Para Roland Marchal, “estamos perante uma guerra que não é uma guerra de pobres”, dada “a sofisticação dos confrontos com equipamentos mais complexos, drones de qualidade essencial ou muito mais sofisticados”. Nesta guerra fratricida, o Tchade é acusado de servir de país de trânsito para as armas e munições enviadas pelos Emirados Árabes Unidos às RSF. N’Djamena rejeita categoricamente esta acusação.

“Uma guerra esquecida”

O Sudão vive assim uma das mais graves crises humanitárias segundo a ONU. Os peritos da ONU acusam os beligerantes de utilizarem táticas de fome destinadas a matar 25 milhões de civis no Sudão. A situação atual é “catastrófica” no terceiro maior país de África, depois da Argélia e da República Democrática do Congo. As tentativas de mediação internacional estão a ter dificuldades em avançar e muitos observadores falam de uma “guerra esquecida” com pouca “cobertura mediática”. O conflito no Sudão “não está a ter um tratamento muito privilegiado”, diz Roland Marchal. “Em termos de números, a dimensão das deslocações da população e a dimensão das necessidades humanitárias deveriam ser notícia de primeira página”, afirma o especialista em Sudão.

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