Na homília pascal de Pseudo Hipólito lemos as seguintes recomendações: Em todos nós que cremos n’Ele, começa um dia de luz, longo, eterno, que não se apaga. É a Páscoa do coração! Maravilha da virtude de Deus, obra da força de Deus, festa verdadeira e acontecimento inesquecível! Um não sofrer que vem do sofrimento, uma vida que sai do túmulo, uma cura que vem do ferimento, um levantar-se que nasce da queda e uma subida que vem da declive aos infernos. Ó festa espiritual! Ó Páscoa de Deus que desce dos céus até à terra e que volta a subir da terra aos céus. Ó solenidade nova e universal, assembleia de toda criação! felicidade e honra do universo, seu alimento e suas delícias! Graças a ti, as trevas da morte foram destruídas e a vida se estendeu a todas as coisas.
A atualidade destas sábias palavras nos tiram o fôlego e nos enche de esperança neste tempo em que estamos vivendo uma quaresma prolongada em nosso recolhimento físico e espiritual. Mas nesta quaresma podemos experimentar a páscoa do coração.
Ainda estamos com nossos olhos voltados para a cruz, mas como nos exorta Santo Afonso Maria de Ligório, que, ao contemplar o mistério da cruz, não exaltamos o sofrimento, mas o amor apaixonante de Deus. São três os sentimentos que brotam de nosso coração: gratidão, compromisso e seguimento.
É tempo de proclamarmos a paixão do Senhor e elevar nossas preces por toda a humanidade, mesmo entre gemidos, clamores e lágrimas.
É tempo de atender ao pedido de São Bento que aconselhava aos seus monges a levarem uma vida quaresmal permanente na vivência da sobriedade.
Recordo-me das recomendações da Irmã Penha Carpanedo sobre a necessidade do cultivo da espiritualidade da ausência do Amado.
Somos desafiados a celebrarmos este tempo pascal como Memória, revendo os acontecimentos passados, como o fizemos na rica Liturgia da Palavra na vigília pascal, percorrendo a história da salvação; como Presença, conscientes de que o Senhor da história está presente, como o fizemos ao acender o Círio Pascal, o fogo novo, a Luz de Cristo apresentada e proclamada jubilosa na feliz noite no Exultat; como Expectativa, o mundo novo que deverá surgir, como o testemunhamos pela renovação das promessas batismais e na solene Eucaristia, que faz acontecer a memória da Páscoa de Jesus embalada de Aleluias, de cantos festivos, do grandeza, de alegres aclamações e vivas!
Sim. É claro que neste ano estas celebrações se deram no âmbito da Páscoa do coração, na Igreja doméstica, célula inicial e núcleo sagrado de toda assembleia eclesial.
Proclamamos: É Páscoa do Senhor! Páscoa é Deus que passa (cf Ex 12 e Dt 16). Deus é o nosso parceiro! Em seu Filho Jesus temos o Redentor que nos liberta e promove a vida!
Elevemos hinos ao Cristo Ressuscitado. Nosso canto neste tempo todo especial deve expressar a vida que se renova no Amor. Meu coração me diz: o Amor me amou. Passou a escuridão, o sol nasceu, a vida triunfou: Jesus Ressuscitou!