Serão canonizados Inácio Choukrallah Maloyan, arcebispo de Mardin dos Armênios, martirizado, em 1915, durante o genocídio armênio, e o leigo Pedro To Rot, mártir que viveu na Papua Nova Guiné no século passado. Também será canonizada Maria do Monte Carmelo, fundadora das Irmãs Servas de Jesus. A religiosa será a primeira santa da Venezuela. Será beatificado o pe. Carmelo De Palma e o sacerdote brasileiro José Antônio Maria Ibiapina se torna Venerável.
Tiziana Campisi – Vatican News
A Igreja terá três novos santos, um novo beato e também um novo venerável. Os decretos foram autorizados pelo Papa Francisco nesta segunda-feira, 31 de março.
Serão canonizados Choukrallah Maloyan, bispo de Mardin dos Armênios, martirizado em 1915 durante o genocídio armênio; o leigo Pedro To Rot, da ilha de Rakunai – Rabaul, na atual Papua Nova Guiné, catequista, que viveu no século passado, também mártir, morto por ter continuado seu apostolado não obstante a proibição imposta pelos japoneses durante a II Guerra Mundial; e Maria do Monte Carmelo, religiosa fundadora das Servas de Jesus da Venezuela, que desempenhou com amor o seu serviço nas paróquias e escolas, dedicando-se em particular aos mais necessitados.
Será beatificado Carmelo De Palma, sacerdote diocesano que exerceu seu ministério na Puglia entre o final do século XIX e o século XX. Foram reconhecidas as virtudes heroicas do servo de Deus José Antônio Maria Ibiapina, sacerdote brasileiro que viveu no século XIX, que se torna venerável.
Arcebispo armênio, mártir durante o genocídio de seu povo
Choukrallah Maloyan nasceu em 1869, em Mardin, na atual Turquia. Desde a infância, demonstrou inclinação para a oração e em 1883 ingressou no convento de Bzommar, no Líbano, sede do Instituto do Clero Patriarcal Armênio. Foi ordenado sacerdote, em 1896, e foi chamado de Inácio. Enviado para Alexandria, no Egito, destacou-se por suas pregações, em árabe e turco, e dedicou-se ao ministério paroquial e ao estudo dos textos sagrados. Nomeado vigário patriarcal do Cairo, continuou o cuidado pastoral dos armênios, mas no ano seguinte retornou a Alexandria devido a problemas nos olhos. Mais tarde, foi chamado a Constantinopla pelo Patriarca Boghos Bedros XII Sabbagghian, que lhe confiou seu secretariado pessoal, mas em julho de 1904 retornou a Alexandria para buscar tratamento e continuar seu apostolado lá. Seis anos depois, ele tornou-se vigário patriarcal de Mardin. Em 1911, participou do Sínodo dos Bispos Armênios em Roma, convocado para estudar a situação criada na Turquia depois que o movimento dos Jovens Turcos chegou ao poder. Foi eleito arcebispo de Mardin. Em seguida, empreendeu uma visita à sua diocese, dedicando-se particularmente à formação do clero. Após o atentado de Sarajevo em 28 de junho de 1914, quando a Turquia se preparava para ingressar na guerra, alistamentos forçados e perseguições contra cristãos, especialmente armênios, Maloyan colaborou com as autoridades, mas as igrejas continuaram recebendo ameaças e ataques, tanto que todas foram revistadas. Em 3 de junho, festa de Corpus Christi, Maloyan foi preso junto com 13 sacerdotes e outros 600 cristãos. Recusando-se a renunciar à sua fé, todos foram executados em 11 de junho de 1915. Choukrallah Maloyan foi beatificado por João Paulo II em 7 de outubro de 2001, ano do centenário da cristianização da Armênia, e a fama de seu martírio se espalhou rapidamente pelo mundo. Suas palavras e ensinamentos, especialmente sua caridade e perdão aos perseguidores, são considerados por toda a Igreja, em seus diversos ritos, um exemplo válido e precioso para viver a fidelidade ao Evangelho, mesmo nos momentos mais difíceis. Por isso, reconhecendo a atualidade de seu testemunho, Raphaël Bedros XXI Minassian, patriarca da Cilícia dos Armênios, pediu sua canonização com a dispensa do milagre.
O primeiro santo da Papua Nova Guiné
Pedro To Rot nasceu em 5 de março de 1912 na ilha de Rakunai-Rabaul, na atual Papua Nova Guiné. Criado numa família numerosa, recebeu educação cristã e se tornou catequista. Dedicou-se ao serviço pastoral com humildade e solicitude, movido também por grande caridade para com o próximo: dedicou-se sobretudo aos pobres, aos doentes e aos órfãos. Aos 23 anos, casou-se com Paula La Varpit, com quem teve três filhos. Quando os japoneses ocuparam Papua Nova Guiné durante a II Guerra Mundial, todos os missionários foram presos, mas inicialmente a atividade pastoral não foi impedida. Pedro, portanto, limitou-se ao que é permitido para não abandonar a comunidade cristã, continuou a catequese e preparou os casais para o matrimônio, depois foi obrigado a restringir suas atividades que, por fim, foram todas proibidas. Pedro continuou seu apostolado em segredo, com extrema cautela, para não colocar em risco a vida dos fiéis, mas com plena consciência de estar colocando em risco a sua própria vida. Defensor corajoso do vínculo sacramental do matrimônio cristão, ele se opôs à poligamia que os japoneses tinham permitido para adquirir as tribos locais e chegou ao ponto de contestar seu irmão mais velho, que a havia escolhido. Foi por este motivo que este último o denunciou à polícia, que o prendeu em 1945. Condenado a dois meses de prisão, morreu no cárcere em julho, vítima de envenenamento. Beatificado por João Paulo II em 17 de janeiro de 1995 em Port Moresby, ele também foi dispensado de um milagre no caminho para a canonização.
A primeira santa da Venezuela
Nascida Carmen Elena Rendíles Martínez, Maria do Monte Carmelo é natural de Caracas, Venezuela. Ela nasceu em 11 de agosto de 1903 e desde pequena ajudou sua mãe a administrar a família, após a morte de seu pai, e se dedicou ao apostolado na paróquia. Sentiu vocação religiosa e se aproximou de vários institutos até escolher, em 1927, a Congregação das Servas de Jesus do Santíssimo Sacramento. Em 8 de setembro de 1932, ela fez seus votos perpétuos e foi nomeada mestra de noviças. Em 1946, tornou-se superiora provincial da Congregação, que mais tarde se tornou um instituto secular, mas muitas religiosas latino-americanas decidiram criar uma nova família religiosa: a Congregação das Servas de Jesus. Após um acidente de automóvel em 1974, Carmen passou os últimos anos de sua vida numa cadeira de rodas e morreu em 9 de maio de 1977. Beatificada em 16 de junho de 2018, para a canonização, a cura milagrosa, atribuída à sua intercessão, de uma jovem que em 2015 foi diagnosticada com hidrocefalia triventricular idiopática, que exigiu a colocação de uma válvula de bypass, foi apresentada para exame ao Dicastério das Causas dos Santos. Após passar por diversas cirurgias e internações, o estado de saúde da jovem piorou. Mas um dia uma tia, participando de uma celebração eucarística em frente ao túmulo de Madre Carmen, rezou por sua cura. Outros fiéis também pediram a intercessão da religiosa e a própria jovem doente participou de uma missa no local do sepultamento, na capela do Colégio Belén, em Caracas. Após tocar num quadro da religiosa, a doente melhorou rapidamente, tanto que no dia 18 de setembro começou a andar e a se comunicar, expressando o desejo de ir agradecer à Madre Carmen. A recuperação da jovem foi completa, estável e duradoura e o evento foi considerado cientificamente inexplicável.
Um sacerdote da Puglia será beatificado
Próximo à beatificação, Carmelo De Palma nasceu em 27 de janeiro de 1876, em Bari, na Itália. Depois de ingressar no seminário, foi ordenado sacerdote em 17 de dezembro de 1898 em Nápoles. De volta à sua cidade natal, ocupou vários cargos na Basílica de São Nicolau e também se tornou assistente diocesano da juventude feminina da Ação Católica, assistente diocesano das Mulheres da Ação Católica, diretor espiritual das Irmãs Beneditinas de Santa Escolástica de Bari e dos Oblatos e Oblatas de São Bento, além de ser o animador da União Apostólica do Clero de Bari. Sua espiritualidade de inspiração beneditina o levou a visitar frequentemente o mosteiro de Montecassino, onde conheceu o cardeal Alfredo Ildefonso Schuster, beneditino e arcebispo de Milão, com quem manteve correspondência epistolar. Quando a Basílica de São Nicolau foi confiada aos Padres Dominicanos em 1951, pe. Carmelo dedicou-se incansavelmente à direção espiritual de sacerdotes, religiosas e seminaristas e ao Sacramento da Reconciliação, tanto que foi definido como um “herói do confessionário”. Afligido por diversas enfermidades, continuou a exercer seu ministério sacerdotal com fidelidade e humildade até sua morte em 24 de agosto de 1961. Para sua beatificação, a postulação apresentou ao Dicastério das Causas dos Santos para exame a cura milagrosa, atribuída à sua intercessão, de uma monja beneditina do mosteiro de Santa Escolástica de Bari, acometida em 8 de dezembro de 2001 por uma febre inicialmente considerada causada por uma gripe. Manifestou-se então um enfraquecimento progressivo dos membros superiores e inferiores, foram detectados problemas neurológicos a nível cervical e uma estenose do forame magno com consequente compressão das estruturas bulbo-medulares que tiveram então consequências graves incapacitantes. Em fevereiro de 2003, os restos mortais de Carmelo De Palma foram transferidos para o mosteiro de Santa Escolástica e a abadessa convidou as religiosas a pedirem a intercessão do venerável Servo de Deus pela cura da religiosa. Em 1º de junho de 2003, a religiosa teve uma melhora repentina e na manhã seguinte conseguiu se levantar e andar. Embora testes repetidos tenham confirmado a persistência da pressão na medula, nenhum efeito patológico foi encontrado e a monja recuperou a funcionalidade total de seus membros.
Um novo venerável para o Brasil
Brasileiro, natural de Sobral, no Estado do Ceará, José Antônio Maria Ibiapina, hoje venerável, nasceu em 5 de agosto de 1806. Ingressou no seminário de Olinda (Pernambuco) em 1823, onde permaneceu apenas três meses devido à morte prematura de sua mãe. Quando eclodiu a revolta antilusitana em 1824, durante a qual seu pai e seu irmão foram presos como rebeldes, o primeiro executado e o segundo condenado ao exílio, José foi obrigado a dedicar-se aos estudos jurídicos para poder exercer uma profissão e sustentar suas irmãs que continuavam na pobreza. Após se formar em Direito, tornou-se professor e depois magistrado e delegado de Polícia da Prefeitura de Quixeramobim-Ceará. Em 2 de maio de 1834, foi eleito para o Parlamento Nacional e lhe foi confiada a presidência da Comissão de Justiça Criminal. Em 1835, ele apresentou um projeto de lei para impedir o desembarque de escravos vindos da África em território brasileiro. Mas como suas tentativas de melhorar o sistema judiciário não tiveram sucesso, ele renunciou ao cargo de juiz e, uma vez encerrado seu mandato, não renovou sua candidatura ao Parlamento e mudou-se para Recife a fim de exercer a advocacia ao lado dos mais pobres. Em 1850, ele abandonou sua carreira jurídica, retirou-se para a solidão e voltou a cultivar sua vocação inicial e, em 1853, foi ordenado sacerdote. Foi-lhe confiada várias tarefas na diocese da Paraíba e durante a epidemia de cólera entregou-se sem reservas, tanto que o povo o chamava de “peregrino da caridade”. Fundou várias casas de acolhimento e assistência à saúde, educação cultural e ética, formação religiosa e profissionalizante nas regiões da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Ele também organizou missões populares e fez construir igrejas, capelas, hospitais e orfanatos. No final de 1875, ele foi acometido por uma paralisia progressiva dos membros inferiores e foi obrigado a se locomover numa cadeira de rodas. Tendo piorado irreversivelmente, faleceu em 19 de fevereiro de 1883. Foi reconhecido como venerável por sua existência exemplar, por ter vivido uma fé intensa, alimentada pela oração constante e pela Eucaristia e evidenciada por sua constante confiança em Deus e em sua Providência em cada escolha de vida. A fama de santidade que o acompanhou durante sua vida continuou após sua morte, acompanhada de testemunhos de graças.