No balanço dos seis decênios de trabalho ecumênico da Santa Sé se destaca a escolha de diminuir antigas distâncias, recorrendo àquilo que une e sobre a colaboração concreta. Pe. Avelino González-Ferrer, do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos que, nesta sexta-feira (4), comemora 60 anos de atividades, faz uma reflexão sobre a arte do colóquio.
Bernadette Reis – Vatican News
Existem feridas no passado que “a arte do colóquio” pode curar. Incompreensões que podem ser refletidas a partir de um ponto de vista diferente, não antagonista, e levar a um trajeto que do preconceito leve à partilha. É a experiência adquirida em decênios de trabalho ecumênico pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos que nesta sexta-feira (5) celebra 60 anos de atividades.
O Pe. Avelino González-Ferrer, da seção ocidental do Dicastério, afirma que foi um caminho percorrido com possibilidades multiplicadas do convite recíproco ao colóquio com as outras confissões cristãs, por exemplo, através do Conselho Mundial das Igrejas.
Pe. Avelino – “O Conselho Mundial das Igrejas sempre teve um papel muito relevante em todo o movimento ecumênico. Por isso, a participação da Igreja católica sempre foi relevante. Participamos como observadores, mas colaboramos na ‘Comissão Fé e Constituição’ – uma colaboração muito relevante que se ocupa de temas centrais para o movimento católico.”
Quais são esses temas dos quais nós, como Igreja católica, tratamos com as outras comunidades, especialmente aquelas das tradições protestantes?
Pe. Avelino – “São muitos e diversos temas porque cada colóquio bilateral tem a sua história, a sua realidade teológica. Diria que, em geral, há uma metodologia do colóquio, aquela de fazer sempre uma releitura da história entre as Igrejas porque cada Igreja tem a sua memória, que é uma memória caracterizada por muito sofrimento. Reler a história ativa uma dinâmica que leva à recuperação de uma memória. Essa recuperação da memória é muito relevante, porque somente com essa recuperação da memória se pode alcançar uma unidade.”
Esse tema da memória e da recuperação é muito forte no magistério do Papa Francisco. O que a Igreja pode oferecer com a sua experiência nesse campo?
Pe. Avelino – “Na minha opinião, vivemos num período em que o colóquio é difícil. Podemos dizer que há uma crise de colóquio no mundo. A Igreja católica, através da experiência, forneceu – podemos dizer – a arte do colóquio junto a outros parceiros do colóquio. Essa metodologia de ir do conflito à comunhão – não plena, mas assim mesmo uma comunhão que hoje é muito diferente em relação há 60 anos –, essa amizade e esse colóquio são muito importantes e o mundo precisa dessa arte do colóquio. Penso que esse seja o nosso desafio para o porvir.”