Francisco volta a falar no Angelus sobre a fofoca: “por favor, irmãos e irmãs, façamos um esforço para não fofocar”. A passagem do Evangelho deste domingo fala da correção fraterna, e convida-nos a refletir sobre a dupla dimensão da existência cristã: a dimensão comunitária e a dimensão pessoal.
Silvonei José – Vatican News
“As fofocas fecham o coração à comunidade, impedem a unidade da Igreja. O grande fofoqueiro é o diabo, que sempre sai dizendo coisas ruins dos outros, porque ele é o mentiroso que tenta desunir a Igreja, afastar os irmãos e não fazer comunidade. Por favor, irmãos e irmãs, façamos um esforço para não fofocar. A fofoca é uma peste pior que a Covid, pior: foi o que disse o Papa Francisco no Angelus deste domingo, 23º do Tempo Comum, na Praça São Pedro, acrescentando: “O ensinamento de Jesus nos ajuda muito, porque pensemos num exemplo: quando nós vemos um erro, um defeito, um escorregão de um irmão ou de uma irmã, normalmente a primeira coisa que fazemos é contar aos outros, fofocar”.
A passagem do Evangelho deste domingo comentado pelo Papa fala da correção fraterna, e convida-nos a refletir sobre a dupla dimensão da existência cristã: a dimensão comunitária, que exige a proteção da comunhão, e a dimensão pessoal, que exige atenção e respeito por cada consciência individual.
“Para corrigir o irmão que cometeu um erro, Jesus sugere uma pedagogia de recuperação, articulada em três etapas. Primeiro diz: “Avisa-o entre você e ele sozinho”, ou seja, não coloque o seu pecado em praça pública. É uma questão de ir ao irmão com discrição, não para o julgar, mas para o ajudar a perceber o que fez”, salienta Bergoglio, “contudo, pode acontecer que, apesar das minhas boas intenções, a primeira intervenção falhe. Neste caso é bom não desistir, que se arranje, eu lavo as minhas mãos, não, isso não é cristão, mas recorrer ao apoio de algum outro irmão ou irmã”.
Jesus diz: “se ele não ouvir, leve consigo um ou duas pessoas novamente para que tudo se resolva com a palavra de duas ou três testemunhas. As duas testemunhas solicitadas não são para acusarem e julgar, mas para ajudar, para a recuperação”, continua o Pontífice. “Também o amor de dois ou três irmãos pode ser insuficiente. Neste caso – acrescenta Jesus -, “dizê-lo à comunidade”, ou seja, à Igreja. Em algumas situações, toda a comunidade está envolvida. Há coisas que não podem deixar indiferentes os outros irmãos: é necessário um amor maior para recuperar o irmão. Mas por vezes até isto pode não ser suficiente. Jesus diz: “Se nem mesmo à comunidade ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um publicano”. Esta expressão, aparentemente tão desdenhosa – disse o Papa Francisco -, convida-nos de fato a colocar o nosso irmão de volta nas mãos de Deus: “só o Pai poderá demonstrar um amor maior do que o de todos os irmãos juntos. É o amor de Jesus, que acolheu os publicanos e pagãos, escandalizando as pessoas bem pensantes da época”.
Francisco disse que “não é fácil pôr em prática este ensinamento de Jesus, por várias razões. Há o medo de que o irmão ou irmã reaja mal; por vezes não há confidência suficiente com ele ou ela… E outras razões.
“Não se trata de uma questão de condenação sem apelo, mas do reconhecimento de que por vezes as nossas tentativas humanas podem falhar, e que só estando sozinho perante Deus pode colocar o nosso irmão perante a sua própria consciência e a responsabilidade pelos seus atos”.
Francisco encerrou a sua alocução pedindo a Nossa Senhora que “nos ajude a fazer da correção fraterna um hábito saudável, para que nas nossas comunidades possam sempre ser estabelecidas novas relações fraternas, baseadas no perdão recíproco e sobretudo no poder invencível da misericórdia de Deus”.