Deserto, o lugar do essencial

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O que é o deserto? Como vivê-lo neste período da quaresma? Segundo Papa Francisco, “o deserto é também o lugar do essencial”.

Cidade do Vaticano – Padre Arnaldo Rodrigues

Nesta última audiência de quarta-feira, 26/02, Papa Francisco em sua meditação, falou-nos sobre o deserto. Disse que neste período da quaresma, “somos convidados a entrar no deserto, espiritualmente falando, saindo da rumorosa confusão diária feita de palavras vazias para escutar outra Palavra, a palavra de Deus, que como um murmúrio suave nos acaricia o coração”.

Todos os anos a Igreja nos convida a reviver-mos com Cristo este momento forte da nossa fé. Entrar também com Ele neste deserto, que aparentemente pode parecer lugar se secura e sede, mas que na realidade é o lugar para nos encontrarmos com Deus profundamente.

“Cheio do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo demônio durante quarenta dias. Durante esse tempo ele nada comeu e, terminados esses dias, teve fome. (Lc 4,1)”

O deserto pode ter um significado tanto literal como figurado. No sentido literal, recordamos  quem já esteve em um deserto, que é arido, seco e muito exigente. É um lugar de silêncio e de provações físicas. Quando transportamos esse cenário para a nossa vida espiritual e cotidiana, podemos viver tambem momentos de deserto com provações, mas também com a manifestação da providência divina.

Diante deste período que já avança, que é a quaresma, podemos nos perguntar: o que é o deserto? Como vivê-lo?

Nos textos bíblicos, encontramos a palavra midbar, traduzida como deserto. A palavra hebraica dabar é construída a partir da raiz d-b-r cujo verbo significa falar. A palavra hebraica midbar, traduzida como deserto, é na verdade “o lugar da palavra”, o lugar onde a palavra de Deus, a Bíblia, foi comunicada a Israel. Embora fale do deserto, ele é apresentado como árido, mas não como uma terra seca e estéril.

O deserto simboliza a hostilidade, que na Bíblia representa a ocasião em que Deus põe a prova o seu povo, afim de aperfeicoá-lo (Sl 78; 95, 107). Isto serve para nos recordar que a nossa vida esta totalmente nas mãos do Senhor, e que neste mundo hostil dependemos exclusivamente Dele para sobreviver. No deserto tambem é lugar de ver a presenca protetora de Deus sobre o seu povo e de louva-lo pelo seu grande poder soberano, como demonstrou Débora: “Senhor, quando saístes de Seir, quando surgistes dos campos de Edom, a terra tremeu, os céus se entornaram, as nuvens desfizeram-se em água, abalaram-se as montanhas diante do Senhor, nada menos que o Sinai, diante do Senhor, Deus de Israel!” (Jz 5, 4-5).

Se o deserto parece um lugar seco e  cheio de desafios, vemos também que ali podemos encontrar vida, pois Deus tudo pode transformar para satisfazer as necessidades de seus filhos: 

“Alegrem-se o deserto e a terra seca, dance o chão duro, florido como a palma. Que se cubra de flores, dance e comemore, pois Deus lhe deu o esplendor do Líbano, a beleza do Carmelo e do Saron. Eles hão de ver a glória do SENHOR, a majestade do nosso Deus (Is 35,1-2).”

Como cristãos, somos convidados a seguir Cristo em todos os seus caminhos, e isso implica também esta forte experiência de deserto, que segundo o Papa pode ser vivido também dentro das grandes metrópoles. O deserto nao é um desejo de solidão longe das pessoas, mas é um momento privilegiado para escutar a voz de Deus, conhecer-nos mais e consequentemente abrir-nos mais ao próximo.

O deserto, sobretudo neste periodo da quaresma, é a oportunidade de nos colocarmos totalmente nas mãos de Deus, aprendendo a confiar mais na sua providência . É o momento de escutar mais a sua Palavra e deixa-la brotar em nossos corações. Neste periodo da quaresma, quando fores seguir Jesus no deserto, lembre-se que Deus quer encher o teu coração com a sua presenca e o seu amor, à medida que tua fraqueza respeitar a solidão e perseverar na oração. Não tenhas medo de seguir Jesus, veràs que “o deserto é também o lugar do essencial” (Papa Francisco).

“Sigamos Jesus até esses desertos: com Ele os nossos desertos florirão. Entremos nesses desertos com Jesus, e saborearemos a Páscoa, a força do amor de Deus que renova a vida (Papa Francisco).”

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